Uma investigação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) isolou, pela primeira vez em Portugal, várias estirpes da bactéria Xylella fastidiosa, associada à doença de Pierce, que apresenta um elevado risco para a agricultura nacional.
Este
estudo revela a origem da introdução da bactéria e reforça a necessidade de
vigilância desta doença, que pode afetar gravemente culturas como a vinha e o
amendoal. Xylella fastidiosa é considerada, pela Comissão Europeia, uma
praga de quarentena prioritária, com impactos económicos estimados em mais de
5,5 mil milhões de euros por ano, na União Europeia.
Desde
a primeira deteção, em Apúlia, Itália (2013), a bactéria já está presente em
quase duas dezenas de áreas demarcadas em Portugal, sobretudo nas regiões Norte
e Centro. Agora, um grupo de investigadores da FCTUC isolou, pela primeira vez
em território nacional, a subespécie fastidiosa ST1.
«Este
é um contributo científico crucial para compreender o risco real da presença da
bactéria em Portugal. A estirpe que identificámos, pertencente ao ST1, um tipo
genético específico, está associada a doenças graves em vinhas na Califórnia. A
sua presença levanta preocupações para o futuro das culturas portuguesas»,
destaca Joana Costa, coordenadora do projeto XylOut e investigadora do Centro
de Ecologia Funcional (CFE) e do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da
FCTUC.
«As
estirpes foram isoladas na região da Cova da Beira, uma das principais zonas
fruteiras do país, e os resultados genómicos sugerem uma única introdução da
bactéria em Portugal, com origem genética associada à Califórnia. As plantas
afetadas incluem espécies cultivadas e silvestres, o que reforça a importância
da vegetação espontânea como possível reservatório da bactéria», revela o grupo
de investigação.
De
acordo com a especialista, apesar do estudo indicar uma única introdução da
bactéria em Portugal com origem na Califórnia, a investigação prossegue, no
sentido de desvendar um 'hiato temporal' (entre 3 e 23 anos) na história da
estirpe no nosso país, o que significa que a sua data precisa de introdução e
dispersão inicial, ainda está por determinar. A equipa já está a trabalhar numa
nova campanha de amostragens, alargando as áreas de estudo e focando-se noutras
áreas demarcadas
Esta
investigação decorreu no FITOLAB – Laboratório de Fitopatologia, do Instituto
Pedro Nunes (IPN), o primeiro, em Portugal, acreditado para a deteção de Xylella
fastidiosa e reconhecido pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária
como Laboratório Oficial. Dirigido por Joana Costa e António Portugal, o
FITOLAB é um exemplo da ligação estratégica entre a FCTUC e o IPN, que permitiu
não só ultrapassar as barreiras legais e técnicas associadas ao estudo desta
bactéria de quarentena, como garantir que os avanços da investigação
fundamental chegam à interface com o setor agrícola, promovendo soluções
aplicáveis em contexto real.
«Este
contributo genético representa um avanço decisivo no reforço da vigilância e no
planeamento de estratégias eficazes de contenção da bactéria em Portugal»,
concluem.
O
trabalho foi desenvolvido no âmbito do doutoramento de Eva Garcia (Programa
Doutoral em Biociências da UC), em colaboração com o Centro de Citricultura do
Instituto Agronômico de Campinas (Brasil) e a Universidade da Califórnia,
Berkeley (EUA).
O
artigo científico “Isolation, Phylogenetic Inferences, and Early
Diversification of Xylella fastidiosa subsp. fastidiosa in Cova da Beira
Region, Portugal” está publicado na revista científica Phytopathology e
pode ser consultado aqui. Universidade de Coimbra -
Portugal
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