Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 1 de julho de 2025

Internacional - Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental liderou expedição à maior montanha submarina europeia

Campanha científica internacional para mapear e caracterizar o monte Gorringe integrou nove investigadores, seis dos quais são da Universidade do Porto


O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) liderou este mês uma expedição ao mar profundo na área do monte submarino Gorringe, a maior montanha submarina portuguesa e europeia. A campanha, realizada no âmbito do projeto europeu TwinDEEPS, integrou uma equipa de nove investigadores, seis dos quais do CIIMAR, tendo ainda utilizado um veículo subaquático operado remotamente (ROV) português, pertencente à Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental – EMEPC.

A viagem a bordo do navio de investigação NIOZ RV Pelagia, do Royal Netherlands Institute for Sea Research (NIOZ, dos Países Baixos), partiu do porto de Las Palmas para o Gorringe no dia 3 de junho e terminou a 16 de junho, no Terminal do Porto de Leixões, onde há dias decorreu uma sessão de apresentação dos resultados preliminares da expedição. A paragem em Matosinhos permitiu ainda dar a conhecer a outros investigadores do CIIMAR, bem como a várias entidades com interesse no projeto, o navio e o ROV utilizado nesta expedição.

O mar profundo representa, refira-se, 98% da Zona Económica Exclusiva Portuguesa, sendo uma área de grande relevância para a Estratégia Nacional para o Mar 2030, que pretende equilibrar o desenvolvimento económico e social com a sustentabilidade dos recursos marinhos nacionais. Já o projeto TwinDEEPS tem como principal objetivo alavancar a capacidade de investigação nacional na área da exploração e observação em mar profundo, ligando o CIIMAR a três centros de excelência internacional: o norueguês IMR, o NIOZ dos Países Baixos e o AWI, da Alemanha. O projeto visa capacitar uma nova geração de investigadores e gestores de ciência altamente qualificados, com impacto na partilha e transferência de conhecimento e de tecnologia avançada entre as instituições parceiras.

Foi neste contexto que o CIIMAR liderou, juntamente com o NIOZ, a mais recente expedição ao banco submarino Gorringe. A campanha científica surgiu na sequência de um conjunto de workshops de planeamento, liderança e gestão de dados de campanhas oceanográficas também organizados no âmbito do TwinDEEPS, o qual permitiu já formar 11 investigadores e gestores de ciência de instituições portuguesas.

Os objetivos da campanha

Furu Mienis , do NIOZ, que liderou a campanha com a investigadora Joana Xavier (CIIMAR), aponta como principais objetivos da viagem “o mapeamento e a caracterização da biodiversidade do fundo marinho e da coluna de água, bem como a recolha de informação ambiental que nos permite compreender melhor o funcionamento deste grande ecossistema e dos seus diferentes habitats”. A expedição permitiu documentar a presença, distribuição e comportamento de várias espécies de megafauna, nomeadamente de baleias, aves e tartarugas marinhas, tendo sido ainda avaliada a diversidade de comunidades microbianas na coluna de água e caracterizada a sua estrutura físico-química e a disponibilidade de nutrientes. Adicionalmente foi também avaliada a extensão da influência humana no Gorringe, incluindo o impacto do lixo marinho e de contaminantes emergentes.

“Nos últimos anos houve um grande esforço por parte da comunidade científica para estudar este banco submarino. Esta campanha vem complementar esse trabalho, focando-se nas zonas mais profundas do Gorringe (entre os 500 e os 3000 metros de profundidade), implementando uma abordagem multidisciplinar que recorreu à mais avançada tecnologia de exploração e observação oceânica dos dois países”, refere Joana Xavier, coordenadora do projeto TwinDEEPS.

Todos os dados e amostras serão tornados públicos e disponibilizados às autoridades nacionais com competências na gestão e conservação da biodiversidade marinha. Entre estas, destaca-se o ICNF, que está a desenvolver o plano de gestão desta Zona Especial de Conservação integrada na Rede Natura 2000. “Esperamos que os dados e o conhecimento gerados no âmbito desta campanha venham a apoiar esse processo e, com isso, contribuam para a proteção deste hotspot de biodiversidade, de valor natural excecional no Norte Atlântico”, explica Joana Xavier.

Situado a aproximadamente 240 quilómetros a sudoeste do cabo de São Vicente, o Banco Gorringe é uma impressionante cadeia montanhosa submersa que se estende por cerca de 180 quilómetros de comprimento e 60 de largura. Esta estrutura eleva-se do fundo oceânico, a cerca de 5000 metros de profundidade, até atingir um planalto situado entre os 200 e os 300 metros; já os montes Gettysburg e Ormonde estão apenas a 60 e a 25 metros da superfície, respetivamente. Este banco submarino é amplamente reconhecido como um oásis de biodiversidade marinha, onde se encontram inúmeras espécies e habitats de grande importância de conservação, nos quais se alimentam e reproduzem jardins de esponjas e corais, peixes, mamíferos e aves marinhas. Universidade do Porto - Portugal


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