Os investigadores vão desenvolver metodologias para tratar doenças neurológicas associadas à perda de neurónios, intervindo diretamente no cérebro dos doentes
O
Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) é
um dos parceiros de um projeto internacional recentemente financiado com mais
de 16 milhões de euros (24 milhões de dólares canadianos) pelo «New Frontiers
in Research Fund (NFRF)—Transformation Grant». O objetivo do consórcio, que
integra 20 grupos de investigação canadianos e quatro europeus, é desenvolver
metodologias para tratar certo tipo de doenças neurológicas associadas à perda
de neurónios, intervindo diretamente no cérebro dos doentes, mais
especificamente no local onde se verificou a lesão.
Atribuído
pelo conjunto das três agências governamentais Canadianas para a investigação –
Canadian Institutes of Health Research (CIHR), Natural Sciences and Engineering
Research Council (NSERC) and Social Sciences and Humanities Research Council
(SSHRC) -, este financiamento tem a duração de seis anos e começou no início de
março, sob coordenação do Sunnybrook Research Institute, no Canadá. A equipa do
i3S, coordenada pelo investigador Diogo Castro, líder do grupo «Stem Cells
& Neurogenesis», irá receber cerca de 750 mil euros.
Apesar
de não existir cura para os distúrbios neurológicos associados à disfunção ou
perda neuronal, a chamada reprogramação neuronal direta (conversão de outras
células em neurónios) é cada vez mais encarada como uma estratégia promissora
para “reparar” o cérebro em situações patológicas associadas a perda de
neurónios, como por exemplo no caso de doenças neurodegenerativas, ou acidentes
vasculares cerebrais.
Na
base desta ideia estão resultados encorajadores de experiências desenvolvidas
em células em cultura, e que usam proteínas, chamadas fatores de transcrição,
para ligar e desligar genes que dão às células características de neurónios.
Reprogramar os neurónios
O
desafio, agora, é efetuar a reprogramação neuronal diretamente no cérebro. Para
isso, explica o investigador Diogo Castro, “é preciso ultrapassar algumas
barreiras”, que o consórcio já identificou como sendo os seus objetivos
estratégicos para os próximos seis anos.
Usando,
para já, modelos animais, os investigadores vão procurar identificar o conjunto
de fatores de transcrição ideal para obter determinados tipos de neurónios
(sendo que cada doença está associada à perda de tipos específicos de
neurónios); desenvolver metodologias para colocar os fatores dentro das células
cerebrais que se quer reprogramar, e encontrar formas de avaliar o sucesso da
reprogramação neuronal, por exemplo usando técnicas de imagiologia do
funcionamento cerebral.
O
objetivo a longo prazo, sublinha Diogo Castro, “é conceber aplicações clínicas
para reprogramação neuronal diretamente no cérebro dos pacientes, mais
especificamente na zona onde houver perda de neurónios, gerando novos neurónios
a partir de células residentes do cérebro adulto, nomeadamente os astrócitos.
Mas primeiro é necessário fazermos prova de conceito em modelos pré-clínicos”.
Os
astrócitos, explica o investigador, “pela sua plasticidade, abundância e
localização, são o candidato ideal para este efeito, já que podem ser
convertidos em neurónios com relativa facilidade e se encontram disseminados
por todo o órgão”.
O papel do i3S
O
grupo de Diogo Castro no i3S tem vindo a desvendar como funcionam os fatores de
transcrição envolvidos na geração dos neurónios durante o desenvolvimento
embrionário, e que serão os mesmos usados no processo de reprogramação.
No
âmbito específico deste consórcio, irá contribuir para o mapeamento dos locais
de ligação dos fatores de transcrição ao genoma dos astrócitos, durante a
reprogramação neuronal.
Este
é um passo importante para se conseguir melhorar este processo, identificando
as barreiras naturais existentes, e tornando-o o mais eficiente possível. Universidade
do Porto - Portugal
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