Um
estudo do Departamento de Ciências da Terra (DCT) da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) concluiu que os resíduos mineiros
de carvão em autocombustão representam um impacte negativo para o meio ambiente
devido à produção de drenagem ácida que, como consequência, pode afetar os
solos e os ecossistemas da área envolvente.
A investigação sobre os resíduos mineiros em autocombustão em Portugal, com início em 2007, além de incidir sobre a identificação de autocombustão de resíduos mineiros resultantes da exploração de carvão no passado, tem como objetivos identificar e compreender os impactes desse processo no ambiente, particularmente nos solos, nas águas e na atmosfera.
«O
impacte mais significativo poderá estar relacionado com as emissões de
compostos orgânicos voláteis durante a combustão. Foram detetadas substâncias,
nomeadamente hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e outros compostos
orgânicos, que são emitidas para a atmosfera e que são prejudiciais para a
saúde humana. Esta situação pode ser particularmente preocupante quando as
escombreiras em autocombustão se encontram perto de áreas habitadas», revela
Joana Ribeiro, professora do DCT e autora do estudo.
De
acordo com a investigadora da FCTUC, em Portugal, são conhecidos três casos de
escombreiras de resíduos mineiros de carvão cuja ignição começou em 2005 devido
a incêndios florestais. Uma dessas escombreiras, em São Pedro da Cova,
Gondomar, permanece em autocombustão há quase duas décadas, sendo uma fonte de
contaminação para a atmosfera devido à emissão de compostos orgânicos voláteis
que resultam da combustão do carvão, e para o meio envolvente devido à drenagem
ácida. Em 2017, outras duas escombreiras entraram em combustão, também devido a
incêndios florestais, mas nestes casos a Empresa de Desenvolvimento Mineiro
(EDM) implementou um projeto de reabilitação que permitiu a extinção da combustão.
«Há
sempre formas de resolver situações como a da escombreira de São Pedro da Cova,
no entanto, são dispendiosas e complexas», assegura Joana Ribeiro,
acrescentando que existem várias soluções, nomeadamente a que foi aplicada pela
EDM que inclui a remobilização do material do local, arrefecimento com água e
um agente retardador da temperatura, recolocação e compactação no local. «Essa
compactação é fundamental uma vez que faz com o acesso e a circulação do
oxigénio no interior da escombreira, que alimenta o processo de combustão, seja
limitado», garante.
Segundo
a professora do DCT, este é um processo que acontece em todo o mundo e que tem
não só impacte ambiental e na saúde, mas também a nível económico, uma vez que
pode ocorrer numa mina de carvão e nas camadas de carvão propriamente ditas,
alterando e inviabilizando o recurso geológico.
Assim,
Joana Ribeiro considera «muito importante fazer uma inventariação das
escombreiras de carvão que existem em Portugal, das respetivas características
e condições de deposição, assim como da situação em relação ao enquadramento em
zonas florestais. Desta forma, o risco de ignição e consequente autocombustão
de escombreiras de carvão poderia ser minimizado através da gestão florestal e
territorial adequada», conclui.
Para
além da participação de investigadores do DCT da FCTUC, a investigação contou
também com investigadores da Universidade do Porto.
O artigo científico “Prediction
of acid production potential of self-combusted coal mining wastes from Douro
Coalfield (Portugal) with integration of mineralogical and chemical data”,
publicado na International Journal of Coal Geology, pode ser consultado aqui. Universidade de Coimbra -
Portugal
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