A mobilidade foi uma das bandeiras que Angola herdou da presidência de Cabo Verde e assumiu também como uma das grandes prioridades da presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que termina agora em Julho
Essa
tem sido uma questão central entre Angola e Portugal, que certamente será
discutida durante a visita que o primeiro-ministro português, António Costa,
efectua ao País na primeira semana de Junho.
Também
é uma questão que estará sobre a mesa durante a visita do PR brasileiro, Lula
da Silva, em Agosto próximo. Certo é que Lisboa e Brasília chegaram hoje à
mesma conclusão e afirmam que Luanda pouco ou nada tem feito para acelerar ou desburocratizar
o processo de mobilidade durante a presidência rotativa da CPLP.
Essa
é uma das questões centrais da relação Angola-Portugal e um ponto de
estrangulamento nas relações entre os dois países. Portugal fez alterações à
Lei dos Estrangeiros para acelerar o processo da mobilidade a nível da CPLP.
Angola e Portugal ratificaram o acordo de mobilidade. Portugal alega que, do
seu lado, a situação evoluiu e procura dar mostras disso.
Mobilidade
na CPLP não é só visto de entrada, de permanência ou de residência. Não!
Mobilidade é também o acesso à educação, saúde, segurança social, justiça,
actividade profissional e formação profissional, porque esses são também
elementos fundamentais da mobilidade entre os nossos povos.
Outra
situação que tem sido abordada e que os Estados precisam de divulgar junto dos
seus cidadãos por via da comunicação social e plataformas digitais é que estas
autorizações emitidas pelo Governo português valem apenas para o País e para o
grupo de Nações que integram a CPLP, dentro do acordo de mobilidade e não para
o Espaço Schengen.
Na
realidade, não houve mudanças significativas, e a mobilidade na CPLP é vista pela
maior parte dos cidadãos apenas num sentido: PALOP-PORTUGAL! Na III Sessão
Plenária da Comissão Mista Intergovernamental entre Angola e Portugal, realizada
no início de Maio, um dos pontos da agenda foi a Implementação do Acordo de
Mobilidade na CPLP, e percebeu-se de que Portugal pediu de forma subtil que
Angola acelerasse o processo, que tomasse uma postura mais dinâmica e que
mostrasse interesse, de facto, na implementação do acordo.
A relação
entre Portugal e os PALOP é madura, especial e específica com cada um deles. A forma
como Portugal se relaciona ou aborda Angola é diferente da que faz com Cabo Verde,
Moçambique, Guiné ou São Tomé e Príncipe. Na questão da mobilidade na CPLP, há
um lado da equação que existe mais do que o outro. Na maior parte dos PALOP, a
questão da mobilidade é vista de forma unidireccional, ou seja, só se explica
num sentido, o PALOP- PORTUGAL, como já avancei anteriormente.
O
outro sentido é pouco abordado e valorizado, sendo um dos pontos que as
autoridades portuguesas, empresários e cidadãos reclamam na relação entre
Estados. Portugal sente que não há reciprocidade, empenho e iniciativa por
parte de Angola, e é isso que António Costa vai procurar abordar de forma
subtil, perspicaz e inteligente com João Lourenço nos próximos dias.
A questão
dos vistos entre Angola e Portugal é uma situação sensível, melindrosa e que
coloca em choque ambos os Estados. É uma matéria que provoca muitos ruídos e
mexe com muitos interesses dos dois lados. Lisboa sabe que Luanda é casmurra, é
emotiva e não gosta de ser chamada à razão, reagindo, muitas vezes, de forma
intempestiva, portanto vai tendo algum tacto e paciência no tratamento do
assunto.
Também
percebe que Luanda mostra ter outras prioridades aqui bem perto com a
pacificação dos Grandes Lagos e sabe que João Lourenço leva muito a peito o
título de Campeão da Paz em África e, como já disse, o Prémio da CPLP (não
coloco em causa o seu mérito) vai pressioná-lo a ter um novo olhar sobre a
questão da mobilidade na CPLP e até mudar narrativas. Urge mudar narrativas em
torno do assunto. Também é importante perceber que, em Angola, a realidade
administrativa, recursos humanos e coordenação interministerial são um grande
handicap. A dificuldade que existe em fazer articulação entre dois ou mais
ministérios é evidente, há uma máquina muito obsoleta e burocrática. Há realidades
que não saem do papel.
A Cidade
Alta, as embaixadas e consulados, bem como as agências de promoção de
investimentos têm um discurso lá para fora, mas aqui dentro a realidade é
outra. Existem outras estruturas que intervêm no processo e que não estão
alinhadas com o discurso que está nos papéis e que é passado para atrair
investimentos do exterior.
Não
há soluções prontas e acabadas. Há dúvidas, incertezas, desconfianças,
perguntas que estão por fazer e respostas que estão por dar. Espero que António
Costa e João Lourenço abordem o assunto da mobilidade na CPLP com os
jornalistas e esclareçam os cidadãos. Que Angola e Portugal superem os equívocos
das relações humanas, contrariem burocracias. E que mudem a narrativa da
mobilidade.
A CPLP
tem de ser a comunidade que valoriza a diversidade, respeita a individualidade,
promove a inclusão, reconhece e combate as desigualdades. Na próxima edição, escreverei
sobre a mobilidade Angola- Brasil. Armindo Laureano – Angola in “Novo
Jornal”
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