A investigadora Patrícia Costa lançou um projecto para divulgar o crioulo de base portuguesa do Sri Lanka nas redes sociais porque considera que há “um interesse crescente” nas comunidades lusodescendentes em preservar a língua. “Há agora um conjunto de jovens que lançou, justamente em Abril deste ano, aulas [de crioulo português] para jovens e crianças”, sublinhou Patrícia Costa, investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.
O
mesmo grupo tem também procurado dinamizar ações para promover a língua no Sri
Lanka, onde “a maior parte da população desconhece totalmente que existe esta
comunidade de euro-asiáticos e desconhece que há uma língua totalmente
diferente”, referiu Costa.
Um
desses jovens, Derrick Keil, lançou em fevereiro uma versão moderna de uma
canção tradicional em crioulo português, Minha Amor, após ter participado no
programa de talentos The Voice Sri Lanka. “É um marco importante na história da
comunidade, porque pela primeira vez temos uma música dirigida a audiências
várias que tem o crioulo como língua”, disse Patrícia Costa.
Curiosamente
foi a comunidade de falantes do crioulo português que introduziu no Sri Lanka a
“baila”, que pode ser considerada actualmente o género de música mais popular
no país.
Patrícia
Costa e uma jovem falante da língua, Vyvonne Joseph, lançaram também, em 2020,
o projecto Preserving Sri Lanka Portuguese, nas redes sociais Instagram e
Facebook. A investigadora disse que a iniciativa pretende, por um lado, “dar a
conhecer a audiências mais gerais, também fora do Sri Lanka a existência desta
língua, porque mesmo em Portugal não há uma grande consciência de que estas
comunidades crioulófonas existem”. Por outro lado, acrescentou Costa, o
projecto quer “auxiliar, com materiais didáticos simples, aqueles que são
membros da comunidade e que procuram aprender a língua”.
O
crioulo português do Sri Lanka “neste momento é uma língua definitivamente
ameaçada. O número absoluto de falantes é bastante reduzido”, por volta de 1300,
sendo que a maioria são “pessoas mais velhas”, lamentou a académica.
Para
os jovens, “aprender o crioulo português não tem o valor instrumental” que as
línguas oficiais do Sri Lanka, o cingalês e o tâmil, têm, no acesso à educação
e ao emprego, referiu Costa.
Além
disso, disse a investigadora, alguns membros da comunidade “sentem que é uma
língua obsoleta” ou têm “algumas conceções erradas” de que aprender o crioulo
português em casa pode prejudicar a aprendizagem de outras línguas na escola.
Mas Costa sublinhou que o eventual desaparecimento do crioulo português do Sri
Lanka “não é uma fatalidade inescapável”. “É possível minimizar este perigo,
com algumas ações e com a concertação de investigadores, ativistas e os
próprios membros da comunidade”, acrescentou. In “Ponto
Final” - Macau
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