O presidente do ICNF diz à Visão que está a ser avaliada a possibilidade de ter um programa de reprodução em cativeiro do gato-bravo no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves. O cruzamento com gatos comuns, os atropelamentos e a destruição do seu habitat têm dizimado o gato-bravo em Portugal
É provável
que haja atualmente menos de uma centena de gatos-bravos no País. É essa a
estimativa dos investigadores que avaliaram a espécie para o Livro Vermelho
dos Mamíferos de Portugal Continental, a primeira grande análise ao estado
de conservação dos nossos mamíferos em quase duas décadas. “O declínio da
qualidade do habitat e os potenciais efeitos da hibridação, que podem ter
ocorrido no passado ou vir a ocorrer nos próximos 16 anos, poderão ter levado,
ou vir a levar, à redução do tamanho da população na ordem dos 20%. Estima-se
um reduzido número de indivíduos maduros (que pode ser <100).”
Esta
diminuição aguda da população de gato-bravo levou ao agravamento da sua
categoria de ameaça, passando de “vulnerável” para “em perigo”, o mesmo nível
de ameaça em que se encontram o lince-ibérico e o lobo-ibérico – com a
diferença de que, nos casos destas duas espécies, a tendência é de expansão.
O
estado do gato-bravo está a levantar a hipótese de ser já necessário recorrer à
reprodução em cativeiro, como medida extrema de salvar o felino da extinção. E
essa reprodução poderá ser feita nas instalações do próprio Centro Nacional de
Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves, no Algarve. Foi o que admitiu o
presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em
entrevista à Visão, para o artigo principal do Caderno Verde deste mês na
revista. “Estamos a avaliar a possibilidade de virmos a integrar no centro de
reprodução do lince uma medida de reprodução do gato-bravo. É uma forte probabilidade”,
disse Nuno Banza, recordando que “o gato-bravo tem um papel muito importante no
mundo rural, de complemento à atividade do lince, ajudando a comer os animais
mais fracos, os doentes, a regular o sistema”.
“Felizmente,
ainda temos alguns registos do animal em Portugal, embora se encontre numa
condição difícil, que nós nem sequer conhecemos bem”, continua o presidente do
ICNF. “Mas sabemos que, recriando determinadas condições da espécie, pode ser
muito interessante aproveitarmos a experiência do lince para diversificar a
atividade do Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, apostando numa
espécie que também é emblemática em Portugal.”
Soluções
para estancar este definhar do gato-bravo têm sido discutidas, em conjunto, por
investigadores de Portugal e Espanha, onde a situação é também preocupante,
revela Miguel Rosalino, coordenador do capítulo dos carnívoros do Livro Vermelho.
“Há um trabalho ibérico informal de universidades para delinear uma estratégia
que consiga reverter esta tendência negativa”, diz o investigador do cE3c
(Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa).
O
especialista descreve a situação do gato-bravo como “preocupante”, sublinhando
que o felino é “cada vez mais raro”, devido sobretudo a dois fatores: “Perda de
habitat, com redução de floresta nativa, e hibridação com o gato doméstico.” Luís
Ribeiro – Portugal in “Visão Verde”
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