Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Portugal - O gato-bravo pode vir a ser salvo da extinção

O presidente do ICNF diz à Visão que está a ser avaliada a possibilidade de ter um programa de reprodução em cativeiro do gato-bravo no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves. O cruzamento com gatos comuns, os atropelamentos e a destruição do seu habitat têm dizimado o gato-bravo em Portugal


É provável que haja atualmente menos de uma centena de gatos-bravos no País. É essa a estimativa dos investigadores que avaliaram a espécie para o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, a primeira grande análise ao estado de conservação dos nossos mamíferos em quase duas décadas. “O declínio da qualidade do habitat e os potenciais efeitos da hibridação, que podem ter ocorrido no passado ou vir a ocorrer nos próximos 16 anos, poderão ter levado, ou vir a levar, à redução do tamanho da população na ordem dos 20%. Estima-se um reduzido número de indivíduos maduros (que pode ser <100).”

Esta diminuição aguda da população de gato-bravo levou ao agravamento da sua categoria de ameaça, passando de “vulnerável” para “em perigo”, o mesmo nível de ameaça em que se encontram o lince-ibérico e o lobo-ibérico – com a diferença de que, nos casos destas duas espécies, a tendência é de expansão.

O estado do gato-bravo está a levantar a hipótese de ser já necessário recorrer à reprodução em cativeiro, como medida extrema de salvar o felino da extinção. E essa reprodução poderá ser feita nas instalações do próprio Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves, no Algarve. Foi o que admitiu o presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em entrevista à Visão, para o artigo principal do Caderno Verde deste mês na revista. “Estamos a avaliar a possibilidade de virmos a integrar no centro de reprodução do lince uma medida de reprodução do gato-bravo. É uma forte probabilidade”, disse Nuno Banza, recordando que “o gato-bravo tem um papel muito importante no mundo rural, de complemento à atividade do lince, ajudando a comer os animais mais fracos, os doentes, a regular o sistema”.

“Felizmente, ainda temos alguns registos do animal em Portugal, embora se encontre numa condição difícil, que nós nem sequer conhecemos bem”, continua o presidente do ICNF. “Mas sabemos que, recriando determinadas condições da espécie, pode ser muito interessante aproveitarmos a experiência do lince para diversificar a atividade do Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, apostando numa espécie que também é emblemática em Portugal.”

Soluções para estancar este definhar do gato-bravo têm sido discutidas, em conjunto, por investigadores de Portugal e Espanha, onde a situação é também preocupante, revela Miguel Rosalino, coordenador do capítulo dos carnívoros do Livro Vermelho. “Há um trabalho ibérico informal de universidades para delinear uma estratégia que consiga reverter esta tendência negativa”, diz o investigador do cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa).

O especialista descreve a situação do gato-bravo como “preocupante”, sublinhando que o felino é “cada vez mais raro”, devido sobretudo a dois fatores: “Perda de habitat, com redução de floresta nativa, e hibridação com o gato doméstico.” Luís Ribeiro – Portugal in Visão Verde


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