O
dia 5 de Maio foi oficializado em 2009, com o propósito de promover o sentido
de comunidade e de pluralismo dos falantes do português na Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP). Desde então, esta data celebra este idioma
como parte da identidade de todos estes países e povos. Num dia comemorativo
tão especial como o de hoje, gostaria de fazer uma menção especial a dois
feitos extremamente marcantes.
O
primeiro, de efeito extraordinário, é o da premiação da escritora moçambicana
Paulina Chiziane, a vencedora do Prémio Camões 2021, escolha unânime anunciada
no dia 20 de Outubro de 2021 e que só hoje, dia 5 de Maio de 2023, finalmente,
chegou às mãos da legítima dona. Este prémio reconhece a vasta produção e
recepção crítica da Paulina Chiziane, como também o reconhecimento académico e
institucional da sua obra, sobretudo a importância que dedica nos seus livros
aos problemas da mulher moçambicana e africana.
Esta
escritora, a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, tem
desenvolvido uma relação muito próxima com a UP-Maputo, a quem já atribuímos,
num passado muito recente, um título Honoris Causa e que tem tido presença
regular nos eventos científicos e culturais organizados pela nossa
universidade. A Paulina Chiziane escreve em português, língua que aprendeu a
falar na escola de uma missão católica como muitos outros moçambicanos da sua
geração o faziam pela primeira vez. Ela é, indubitavelmente, a prova viva de
que, mesmo sendo de origem humilde e sem nenhum arcaboiço linguístico de berço,
é possível fazer grandes coisas e chegar a tão destacado reconhecimento no
espaço lusófono global. Hoje celebramos,
mais uma vez, este feito que projecta e faz brilhar todo o nosso país e o nosso
povo na arena internacional.
O
segundo feito, não menos importante e também de efeito extraordinário, é o da
Ludmila Bata, estudante do 2° ano do curso de Jornalismo, ministrado pela
Faculdade de Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes (FCLCA) da UP-Maputo,
que foi declarada vencedora do Prémio Eloquência Camões do ano 2023. Esta
vitória tem um sabor especial para a UP-Maputo, especialmente se se tomar em
consideração que a Ludmila Bata, nossa estudante, destacou-se num universo
extremamente competitivo de 49 estudantes pertencentes a 6 universidades
nacionais. É importante frisar que o Prémio Eloquência Camões, organizado, em
parceria, pelo Camões – Centro Cultural Português em Maputo e pelo Camões –
Centro de Língua Portuguesa em Maputo, pretende ser uma alavanca institucional
para a descoberta de novos talentos na redacção e na oralidade em língua portuguesa.
A
Ludmila Bata demonstrou, com a sua vitória, que é possível fazer história,
ainda em tenra idade e sendo também mulher, como a Paulina Chiziane. Num dia
especial como o de hoje celebramos, também, este feito que projecta e faz
brilhar os nossos estudantes e a nossa comunidade universitária na arena
nacional.
Destacar
estes feitos, num dia que exaltamos a língua portuguesa, como nosso património
cultural e histórico, faz a nossa celebração mais especial e simbólica. Aliás,
tornou-se uma tradição – uma boa tradição, diga-se! – que nos juntemos na
UP-Maputo, no dia 5 de Maio de cada ano, para comemorar o dia Mundial da Língua
Portuguesa e, igualmente, para celebrar a amizade entre os povos que partilham
esta língua.
A
língua portuguesa é uma das mais ricas e influentes línguas do mundo e, como
Reitor desta universidade, tenho orgulho em fazer parte de uma comunidade
académica que valoriza e celebra a sua riqueza e diversidade. Nestas salas e
corredores revisitamos a língua portuguesa como factor de unidade nacional.
A
língua portuguesa é uma língua viva, dinâmica e em premente transformação,
falada por mais de 265 milhões de pessoas em todo o mundo. É a língua oficial
de 9 (nove) países e de organizações como a CPLP, a SADC, a União Europeia, o
Mercosul e a Organização dos Estados Ibero-americanos.
Mas,
a língua portuguesa é muito mais do que uma língua falada ou escrita. É um
património cultural e histórico que representa a rica herança e a diversidade
das sociedades e culturas que a falam, cantam, dançam, escrevem e declamam
poesia. Na essência, em português se comunicam. É, por isso, necessário que
olhemos para a língua portuguesa sem preconceitos. Que assumamos esta língua
como nossa! Nenhum angolano, cabo-verdiano, português ou brasileiro fala a
língua portuguesa como nós. O nosso português moçambicano é único. Nós,
moçambicanos, soubemos tornar o português numa língua melodiosa, poética e
sensual. Neste momento, a língua portuguesa não pode ser mais vista como a
língua do outro. O outro não consegue falar um português tão belo como o nosso!
Neste
simpósio, debatemos a especificidade do Português de Moçambique na diversidade
da língua portuguesa. Temos, hoje, a oportunidade de conhecer melhor a língua
em que nos comunicamos diariamente e de compreender o contributo de Moçambique
para a afirmação da língua portuguesa no Mundo, mas, não menos importante,
temos também uma oportunidade para perceber de que modo o Português de
Moçambique pode contribuir para o nosso desenvolvimento individual e colectivo.
Jorge Ferrão – Moçambique
Discurso
em torno da celebração do 5 de Maio, dia da língua portuguesa, por ocasião da
realização do Simpósio “O Português de Moçambique no Pluricentrismo da Língua
Portuguesa”, na Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo)
Sem comentários:
Enviar um comentário