Um estudo, realizado por investigadores do Departamento de Ciências da Terra (DCT) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), permitiu obter com precisão um modelo que pode possibilitar a análise da evolução paleoclimática de Marte.
Esta
investigação, liderada por David Vaz, cientista do Centro de Investigação da
Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra (CITEUC), pretendia identificar
quais os mecanismos responsáveis pela formação de ripples eólicos em Marte,
cartografando a uma escala global estas estruturas sedimentares e medindo o seu
tamanho, de maneira a testar várias teorias de formação avançadas
anteriormente.
«Os
ripples são ondulações que se formam em sedimentos por ação de um fluido em
movimento. No caso dos ripples eólicos, a ação do vento leva ao transporte de
areia o que origina pequenas ondulações na superfície das dunas, algo que todos
já viram por exemplo na areia da praia», começa por explicar David Vaz. No caso
do planeta Terra, continua, «os ripples são de pequenas dimensões, com
espaçamento de cerca de 10 cm. Em Marte, devido às diferentes condições que
existem na superfície do planeta, os ripples são muito maiores, com
espaçamentos de 2 a 5 metros».
De
acordo com o investigador do DCT, com este estudo foi possível concluir que
existe uma relação entre o tamanho dos ripples e a pressão atmosférica na
superfície do planeta vermelho, tal como previsto por um dos modelos estudados.
«Compreender de que forma é que os processos eólicos moldam a superfície de
Marte hoje em dia, e em particular, como estes processos variam com a pressão
atmosférica permite interpretar e inferir as condições atmosféricas no
passado», revela David Vaz.
«Graças
aos métodos inovadores desenvolvidos neste trabalho, foi possível analisar com
grande precisão uma extensão da superfície de Marte muito superior à de
trabalhos anteriores. Estes novos dados permitem resolver algumas das
contradições que existiam, possibilitando testar as duas principais hipóteses
que procuram explicar a existência de ripples de grandes dimensões nas dunas
marcianas», assegura.
Segundo
o autor do estudo, os dados e modelos apresentados nesta investigação permitem
ainda interpretar o registo sedimentar, podendo vir a ser utilizados para saber
quando e como Marte perdeu uma parte significativa da sua atmosfera. «Tal
mudança climática fez com que Marte tenha passado de um planeta com água na
superfície para um planeta seco, frio e árido», conclui.
O artigo científico
“Constraining the mechanisms of aeolian bedform formation on Mars through a
global morphometric survey” pode ser consultado aqui. Universidade de Coimbra – Portugal
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