A investigadora Andreia Pereira foi uma das quatro distinguidas com as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência 2022
Será
que o nosso corpo pode gerar energia para alimentar e monitorizar dispositivos
cardíacos implantados? Foi com esta questão que o projeto apresentado pela
investigadora Andreia Pereira, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde
da Universidade do Porto (i3S), conquistou uma das quatro Medalhas de Honra
L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, atribuídas este ano. A cientista
vai receber 15 mil euros para desenvolver próteses vasculares inteligentes
capazes de se automonitorizarem e de enviarem sinais de alerta ao médico que
acompanha o doente utilizando uma fonte de energia inesgotável.
O
projeto de Andreia Pereira, intitulado «BloodStream2Power», tem como objetivo
encontrar soluções para dois dos problemas centrais que afetam as pessoas com
doenças cardiovasculares: as arriscadas cirurgias para substituição de baterias
nos dispositivos eletrónicos implantáveis e as falhas nas próteses vasculares,
que podem originar a morte do paciente.
Os
atuais números da Organização Mundial de Saúde (OMS) relativos ao impacto das
doenças cardiovasculares – 17,9 milhões de mortes/ano – motivaram a
investigadora do i3S a seguir este caminho na sua carreira científica.
Para
evitar as cirurgias de substituição de baterias, Andreia Pereira pretende converter
energia mecânica produzida pelo organismo humano (uma fonte inesgotável) em
energia elétrica para alimentar os dispositivos cardíacos eletrónicos
implantáveis, como os pacemakers por exemplo.
Para
conseguir esta conversão, explica, “vamos recorrer aos chamados nanogeradores
triboelétricos biocompatíveis, que utilizam uma tecnologia de dimensão inferior
à que o olhar humano consegue captar, são feitos de materiais compatíveis com o
organismo humano e usam a fricção para produzir a eletricidade que alimentará
os dispositivos cardíacos”.
Este
tipo de nanogeradores, garante Andreia Pereira, permite também monitorizar os
dispositivos em tempo real e 24 sobre 24 horas e enviar sinais de alerta ao
médico que acompanha o doente, caso haja alteração ao seu normal funcionamento.
“É uma forma de prevenir falhas que podem levar a problemas maiores. Por
exemplo, no caso das próteses vasculares podem indicar um enfarte do miocárdio,
que pode culminar na morte do paciente», sustenta.
O
conhecimento gerado com esta investigação, sublinha Andreia Pereira, “é
suscetível de extrapolar para outros sistemas implantáveis que necessitem de
baterias para ser alimentados ou que possam ser monitorizados, desde os
neuroestimuladores às fístulas de hemodiálise e cateteres”.
As outras medalhadas
Para
além de Andreia Pereira, esta 19.ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal
Portugal para as Mulheres na Ciência distinguiu também as investigadoras Joana
Sacramento (Nova Medical School – Universidade Nova de Lisboa), Raquel Boia
(iCBR – Universidade de Coimbra) e Sara Peixoto (Universidade de Aveiro).
As
quatro investigadoras, já doutoradas e com idades entre os 31 e os 35 anos,
foram selecionadas por um júri científico, presidido por Alexandre Quintanilha.
Cada
vencedora é reconhecida com um prémio individual de 15 mil euros, que vai
apoiá-la na sua pesquisa, motivá-la a prosseguir e contribuir para uma ciência
e uma sociedade mais inclusivas e equitativas.
A
cerimónia de entrega das medalhas decorreu esta quarta-feira, 10 de maio, no
Pavilhão do Conhecimento.
Sobre Andreia Pereira
Mestre
em Bioquímica pela Universidade do Porto, Andreia Trindade Pereira concluiu em
2020 o prestigiado Programa GABBA (Graduate Program in Areas of Basic and
Applied Biology) da U.Porto.
Ligada
há vários anos ao i3S, dedicou o seu post-doc ao desenvolvimento de
“biomateriais como nanogeradores triboelétricos para aplicações
cardiovasculares”, como investigadora no grupo “Advanced Graphene
Biomaterials”, liderado por Inês Gonçalves.
Andreia
Pereira já conquistou um Prémio Maria de Sousa e teve um projeto financiado
pelo Concurso CaixaResearch Validate. Integra ainda a equipa portuguesa que
lidera um consórcio europeu recentemente financiado com quase três milhões de
euros pelo Conselho Europeu de Inovação (EIC) Pathfinder Challenge, no âmbito
do programa Horizonte Europa.
Sobre as Medalha de Honra L’Oréal
O
apoio da L´Oréal às mulheres da ciência começou formalmente em 1998, com uma
parceria com a UNESCO que deu origem ao programa L’Oréal-UNESCO For Women em
Science, que premeia anualmente cinco cientistas consagradas, uma de cada
região do mundo. 125 grandes mulheres cientistas foram já premiadas, cinco das
quais ganharam posteriormente um prémio Nobel.
Com
inspiração neste programa internacional, em 2004, Portugal promoveu a primeira
edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência,
iniciativa destinada a motivar jovens com menos de 35 anos, já doutoradas, e
com projetos promissores.
Desde
a sua origem, este programa junta a L’Oréal Portugal, a Comissão Nacional da
UNESCO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Outros países implementaram
iniciativas similares, ampliando o apoio às mulheres que fazem avançar a
ciência através de 52 programas de âmbito nacional ou regional que já apoiaram
centenas de investigadoras.
Desde
2014 já foram reconhecidas 65 jovens investigadoras em Portugal, incluindo nove
da Universidade do Porto: Sandra Sousa (IBMC, 2005), Maria José Oliveira (INEB,
2009), Joana Marques (FMUP, 2010), Inês Gonçalves (INEB, 2014), Joana Tavares
(IBMC, 2014), Sónia Melo (Ipatimup, 2015), Maria Inês Almeida (i3S, 2017),
Joana Caldeira (i3S, 2019) e Sandra Tavares (i3S, 2021). Universidade do
Porto - Portugal
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