São
Paulo – Ao que tudo indica, o comércio bilateral Brasil-Rússia sofrerá um
impacto negativo acentuado nos próximos meses, em função da guerra entre aquele
país e a Ucrânia, que parece longe de uma solução pacífica. Ainda que cerca de
600 mil toneladas de fertilizantes russos estejam a caminho de portos
brasileiros – e pelo menos 250 mil toneladas com destino ao porto de Santos –,
está prevista uma interrupção nesse fornecimento, em razão das sanções que
estão sendo impostas à Rússia e que deverão persistir por bom tempo no período
pós-guerra, com consequências imprevisíveis para a próxima safra de grãos no
Brasil.
Obviamente,
esse impacto não dar-se-á apenas na compra de fertilizantes e na safra de
grãos, que depende diretamente desse insumo importado, mas em todos os produtos
da corrente de comércio, ainda que a Rússia, com a nona população do mundo,
ocupe apenas a 36ª posição entre os destinos para onde o Brasil mais exporta. Em
2021, o Brasil vendeu um total de US$ 1,7 bilhão em produtos para a Rússia, o
equivalente a 0,6% das exportações totais, a menor participação em vinte anos.
Aliás, a Rússia já foi a maior compradora de carnes do Brasil, especialmente a suína,
mas o posto passou para a China, a partir de 2019.
Seja
como for, é importante que o Brasil aumente o seu intercâmbio com outros países
e blocos para minorar possíveis decréscimos no comércio com a Rússia. Por isso, são inadiáveis entendimentos que
estimulem a adoção de medidas que possam facilitar os negócios com Estados
Unidos, China e União Europeia (UE).
Aliás,
já existe o Acordo Brasil-Estados Unidos de Comércio e Cooperação Econômica
(Atec, na sigla em inglês), assinado em 2011, que acaba de receber um adendo. É
um acordo que trata de facilitar o comércio e a administração aduaneira, além
de estabelecer boas práticas regulatórias e anticorrupção e reduzir barreiras
não tarifárias. Ao mesmo tempo, esse documento procura livrar o Brasil das
amarras impostas pelo Mercosul, especialmente aquelas regras que impõem a aprovação
de medidas por todos os membros do bloco. E que dificultaram, desde a criação
do Mercosul em 1991, a assinatura de acordos com outros blocos econômicos ou
países.
Embora
os Estados Unidos não sejam mais o principal parceiro comercial do País, posto
hoje ocupado pela China, o intercâmbio comercial entre as duas nações vem
crescendo desde 2020, quando atingiu o pior resultado desde 2011. Basta ver
que, em 2021, houve um crescimento de 57% no fluxo comercial, que subiu de US$
45 bilhões, em 2020, para US$ 70 bilhões. No entanto, a balança ficou negativa
para o Brasil em US$ 8 bilhões, o maior déficit desde 2013.
Também
importante é o incremento do intercâmbio com a China, que, em 2021, chegou a US$
135 bilhões, o maior valor da História. Foi o quarto ano consecutivo de recorde
nos valores comercializados entre os dois países. Segundo dados do Ministério
da Economia, as empresas brasileiras venderam US$ 87,9 bilhões em produtos para
a China, um incremento de 29% na comparação com 2020. E compraram US$ 47,6
bilhões, 37% a mais que no ano anterior. De 2016 até o ano passado, as trocas
entre os dois países registraram um avanço de 130%, num período em que o
intercâmbio com os Estados Unidos cresceu apenas 50%.
Com
a UE, depois de uma década de poucos negócios, o Mercosul assinou em junho de
2019 um acordo de livre-comércio, que ainda não entrou em vigor em toda a sua
amplitude, em razão das resistências de concessões na área ambiental por parte
do governo brasileiro, do aprofundamento da degradação ambiental no Brasil e da
crise interna no Mercosul. O acordo iria garantir acesso a diversos segmentos e
serviços, além de reduzir custos dos trâmites de importação, exportação e
trânsito de bens.
Com a crise no Leste Europeu, o que se espera é que as alternativas com as demais potências econômicas sejam viabilizadas e incrementadas para que o comércio exterior, com regras mais modernas, continue a crescer. Liana Martinelli - Brasil
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Liana Lourenço Martinelli, advogada, pós-graduada em Gestão de
Negócios e Comércio Internacional, é gerente de Governança Ambiental, Social e
Corporativa (ESG) do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística
Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio
Internacional. E-mail: lianalourenco@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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