A Universidade de São José apresenta na segunda-feira o projecto “Português à Vista”, uma plataforma de conteúdos audiovisuais, com cerca de 100 vídeos e muitos exercícios para que os alunos possam desenvolver melhor uma das capacidades mais difíceis para quem aprende um idioma estrangeiro: a compreensão oral. A plataforma pode também ser usada por professores de português língua estrangeira das várias instituições de ensino no território
Chama-se
“Português à Vista” e é o mais recente projecto audiovisual a pensar nos alunos
e professores que trabalham com o ensino da língua portuguesa não materna.
Lançado já na próxima segunda-feira, 30, e desenvolvido pelo Departamento de
Línguas e Cultura da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de São
José (USJ), este é um projecto que pretende fomentar a compreensão oral do
aluno, mas sobretudo a sua autonomia na aprendizagem da língua. “Português à
Vista” conta com financiamento do Fundo do Ensino Superior e poderá ser usado
por qualquer aluno e docente de língua portuguesa em Macau, ainda que tenha
funcionalidades específicas para professores e estudantes da USJ.
À
frente desta iniciativa, está o professor João Paulo Pereira, que há dois anos
trabalha no projecto. A ideia surgiu “na sequência da experiência no ensino
como professor de português como língua estrangeira, e da necessidade de termos
mais materiais audiovisuais para trabalhar aquela que é uma das competências
mais difíceis para quem aprende português, que é a compreensão de textos
orais”, contou ao HM.
Com
cerca de uma centena de vídeos, que incluem documentários, notícias ou
curta-metragens, entre outro tipo de conteúdos legendados, “Português à Vista”
inclui também um conjunto diverso de exercícios. “Esta é uma plataforma criada
de raiz para que os alunos possam trabalhar esta competência da compreensão
oral, mas também aquelas que estão associadas às novas formas de comunicação,
como é o caso do vídeo digital ou literacia visual”, contou o docente.
João
Paulo Pereira destacou ainda o facto de serem conteúdos reais transmitidos no
dia-a-dia “e que são necessários para um contexto de aprendizagem do português
como língua segunda”.
Os
exercícios associados a estes conteúdos apresentam ainda uma abordagem
diferente, pois pretende-se que o estudante “reflicta sobre as estratégias que
utiliza para a compreensão dos textos orais”.
Tratam-se
de “actividades meta-cognitivas, como questionários de auto-reflexão, por
exemplo” e que são diferenciadoras face ao que existe actualmente em Macau em
termos de materiais auto-didácticos.
“Há
também um diagrama de ansiedade, em que o aluno manifesta o grau de ansiedade
que sentiu ao fazer cada sequência da actividade. Há um algoritmo que faz a
análise do desempenho do aluno tendo em conta os resultados que obteve nos exercícios
e que tem também em conta esta parte cognitiva. Nesse sentido, é uma proposta
inovadora e que tira partido das funcionalidades da tecnologia”, acrescentou
João Paulo Pereira.
Projecto inovador
João
Paulo Pereira não tem dúvidas de que estamos perante “um projecto novo e
diferente” que acrescenta uma diversidade de materiais didácticos e permite
“trabalhar também outras competências”. A legendagem dos conteúdos revela-se
fundamental, tendo em conta que no território, apesar de existir um canal de rádio
e televisão em português, os conteúdos programáticos e noticiosos não estão
legendados.
“Tal
facilita a compreensão a esses apoios textuais e visuais. Isso é também muito
necessário, porque apesar de existirem muitos recursos audiovisuais em Macau,
como o canal português da TDM, os alunos acabam por não recorrer a esses meios
porque não compreendem o que ouvem, e desistem. Em grande parte, porque os
vídeos não são legendados e não existe este apoio didáctico. É uma proposta que
não existia em Macau.”
Acima
de tudo, pretende-se promover “a autonomia do aluno na sua aprendizagem, porque
esta abordagem meta cognitiva potencia isso, faz com que o aluno pense nas
estratégias que deve usar para desenvolver a sua própria aprendizagem”.
Uma
outra das funcionalidades da plataforma “Português à Vista” permite que os
estudantes “criem os seus próprios exercícios”. “É o chamado auto-exercício, e
para isso o aluno só precisa de ter a transcrição da letra de uma canção, por
exemplo, e a plataforma gera automaticamente um exercício para trabalhar a
compreensão oral”, frisou o docente.
Agarrados ao livro
Questionado
sobre a capacidade dos alunos de português como língua não materna de
procurarem conteúdos fora da sala de aula e da alçada do professor, João Paulo
Pereira concluiu que há ainda uma grande necessidade de recorrer ao livro.
“No
universo da USJ, e no âmbito deste projecto, foi feito um grupo de foco com
turmas da licenciatura de estudos de tradução português-chinês, do primeiro ao
quarto ano, e nesse âmbito percebemos que os alunos ainda estão muito
dependentes das orientações do professor e daquilo que ele lhes propõe em
termos de materiais. Há ainda muito a ideia de que o manual é o principal
instrumento didáctico, e os materiais audiovisuais não são ainda muito
utilizados por parte dos alunos de forma autónoma. Neste sentido, esta
plataforma pretende ir ao encontro dessas dificuldades.”
Nesta
fase foram testados os materiais disponíveis na plataforma, tendo sido feitas
entrevistas aos professores, que também experimentaram a funcionalidade dos
conteúdos.
Acima
de tudo, “Português à Vista” poderá ser utilizado por todas as instituições de
ensino do território. “Qualquer aluno de português e professor pode aceder aos
conteúdos da plataforma. Algumas funcionalidades estão reservadas aos alunos e
docentes da USJ, como é o caso da criação de turmas. A plataforma pode ser
usada em Macau por qualquer aluno e professor, e este pode criar os seus
exercícios. Pode ser utilizada numa lógica de sala de aula ou como complemento
às aprendizagens”, rematou João Paulo Pereira. O lançamento de “Português à
Vista” será feito no campus da USJ e conta ainda com a presença de Carlos Sena
Caires, director da Faculdade de Artes e Humanidades da USJ.
Docente e investigador
João
Paulo Pereira é professor da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade
de São José. Detém um mestrado em Ensino do Português como Língua Segunda e
Estrangeira, pela Universidade Nova de Lisboa, e encontra-se a fazer o doutoramento
em Didática das Línguas – Multilinguismo e Educação para a Cidadania Global.
É
investigador no CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Além de Macau, conta com uma vasta
experiência profissional em vários países da Europa e de África, tendo
leccionado em instituições de ensino superior e não superior. Tem centrado a
sua investigação nas áreas da Aquisição de Língua Segunda, do Desenvolvimento
de Materiais Didáticos e dos Estudos Interculturais.
Tem
vários artigos científicos publicados nestas áreas, assim como materiais
didáticos para o ensino do Português como Língua Estrangeira (manual Dar à
Língua, IPOR, 2017). Na área do desenvolvimento de materiais didáticos
digitais, participou, como revisor científico, nos projectos “Escola Virtual”,
da Porto Editora, e “Português mais perto”, da Porto Editora/ Instituto Camões.
É ainda autor de um repositório de recursos digitais para alunos e professores
de PL2/PLE, intitulado “ARELP – Árvore de Recursos da Língua Portuguesa”.
Também se tem dedicado à formação de professores, contando com acções em Macau
e em países da Ásia-Pacífico, como o Vietname e a Austrália. Andreia Silva –
Macau in “Hoje Macau”
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