O Movimento Aú realizou um percurso pedestre pelo centro de Lisboa para falar da história da comunidade galega nesta cidade
A
subir e a descer as típicas costas alfacinhas, explicaram como a presença da
Galiza é fundamental para entender a evolução da capital portuguesa “já desde o
século XII e com uma força especial no XVIII e na primeira metade do XIX,
quando 20% da população lisboeta chegou a ser diretamente galega; nesses
momentos, se a comunidade galega parasse a sua atividade, Lisboa pararia”.
Alberte
Campos e Carlos Callón foram os representantes do Movimento Aú que guiaram o
percurso. No início, explicaram a razão do nome do coletivo e todas as pessoas
participantes rodearam as bocas com as suas mãos para exclamarem um sonoro
“Aúuu!”. Em especial entre 1700 e 1850, 3000 galegos encarregavam-se de levar a
água pelas casas em Lisboa. Quando chegavam a uma rua gritavam: “Auuuuuga
fresquinha! Auga! Aúuuuuu!”, de maneira que este último grito se terminou por
converter em um distintivo.
No
itinerário, detiveram-se a falar também da importância da emigração galega no
mundo da restauração. “Podemo-lo ver na história de muitos restaurantes e
bares, mas também em elementos tão emblemáticos como a ginjinha, que é
considerada a bebida mais típica de Lisboa, mas que foi criação de um galego:
Francisco Espiñeira Couziño”, assinala Alberte Campos. “Há, aliás, restaurantes
de galegos que foram chave para alguns movimentos fundamentais da literatura
portuguesa, como o antigo Irmãos Unidos do Rossio, onde nasceu a revista Orpheu
dirigida por Fernando Pessoa”, explica Callón. “Um dos fundadores desta
publicação, e familiar dos donos do restaurante, foi o poeta galego-português
Alfredo Guisado, que dedicou alguns dos seus textos ao artista e líder político
galego Daniel Castelao, colaborou com o agrarismo e com o nacionalismo galego e
tentou criar um Banco Galiza-Portugal”, observa.
As
pessoas que participaram no percurso também repetiram a coro as primeiras
palavras que, segundo as crónicas, disse Fernando I, o último rei comum
galego-português, no momento em que foi recebido com grande apoio popular na
cidade da Corunha. Este monarca está enterrado no Convento do Carmo.
No
percurso falou-se também de uma grande dama do teatro português, Manuela Rey,
nada em Mondonhedo; de como Celeste Caeiro -filha de um casal galego- foi a que
distribuiu as primeiras flores que acabaram por designar a Revolução dos
Cravos; dos nomes de ruas que foram distintivos da comunidade galega e muito
mais. Como concluiu Alberte Campos, “mulheres e homens da Galiza tiveram um
papel destacado em todos os grandes momentos da História de Portugal e da
História de Lisboa”.
O
Movimento Aú deu início neste ano 2022, após a recuperação no passado 15 de
janeiro da festa tradicional galega de Amaro Navegante, na freguesia de Santo
Amaro, que levava 111 anos sem se celebrar. O coletivo quer agradecer o
assessoramento de pessoas que achegaram informação para a elaboração deste
percurso e para as suas atividades de recuperação da memória galega em Lisboa,
em especial a Isaac Lourido, Carme Saborido, Xurxo Souto, Gabriel André e Elias
Torres. In “Portal Galego da Língua” - Galiza
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