A permissão de entrada em Macau a portugueses não-residentes, “sem autorização prévia das autoridades de saúde”, não irá alterar significativamente a retoma da actividade económica, de acordo com empresários ouvidos pela Lusa. Apesar do reconhecimento da tendência positiva no que toca a restrições, a duração da quarentena continua a ser um obstáculo
Macau
permite, desde sexta-feira, numa medida de excepção, a entrada de portugueses
não-residentes no território, e empresários mostram-se divididos com decisão
que obriga a um período de quarentena “bastante alargado”.
António
Pereira, empresário português, fez a última viagem de negócios a Macau em
Dezembro de 2019, mas admite que só regressa à região, onde tem um escritório,
“quando não houver mais quarentena”.
O
diretor-geral da TrevoTech International, empresa angolana focada na
distribuição e comercialização de maquinaria pesada, não acredita que a nova
medida do Governo de Macau, que permite desde sexta-feira a entrada de cidadãos
portugueses não-residentes no território, possa beneficiar o negócio.
“Pode
ser uma vantagem em geral, para mim não é, não vou para ficar 14 dias em
quarentena”, notou o empresário, que se divide entre Luanda e Lisboa, e que
costumava viajar “uma ou duas” vezes por ano à China, país fornecedor da
TrevoTech.
Entre portas
Depois
de dois anos de portas fechadas a estrangeiros sem o estatuto de residente,
Macau lançou uma medida de excepção que permite a entrada no território a
nacionais portugueses sem autorização prévia dos serviços de saúde locais. O
programa está limitado a quem, nos 21 dias anteriores à entrada, tenha estado
na China, Hong Kong e Portugal e exige que sejam cumpridos 14 dias de
quarentena num hotel.
Para
o presidente da CESL Asia, empresa com sede em Macau e uma “actividade de 30
milhões de euros a correr em Portugal”, a medida “ainda é bastante restritiva”,
devido às quarentenas, embora “tenha alguma utilidade”. À Lusa, António
Trindade defendeu a necessidade de uma maior mobilidade entre Portugal e Macau
e de menores quarentenas, apontando que, embora durante a pandemia as
plataformas ‘online’ tenham permitido “racionalizar muito as viagens”,
não é possível aos empresários “deixar de ter contacto com o mercado e as
pessoas para as servir”.
O
regresso à normalidade é, além disso, “muito importante” para a região
administrativa chinesa: “O papel de Macau no plano de desenvolvimento da Grande
Baía, que é de plataforma com a lusofonia, e das relações com Portugal e por aí
fora, tudo isso precisa dessa abertura”, concluiu o dirigente da CESL Asia,
empresa com cerca de 500 trabalhadores e que actua em diferentes áreas de
negócio, que vão dos serviços às soluções tecnológicas.
Visto exigente
Já
a Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC) considera que a
decisão “vai permitir que o tecido empresarial se comece a mobilizar e voltar a
Macau” e que se “consiga ainda, durante este ano, compensar a balança comercial
e aumentar as exportações”.
“O
período de quarentena continua a ser bastante alargado”, ressalvou o presidente
da AJEPC, Alberto Carvalho Neto, salientando, no entanto, que para os
empresários “que estejam a tentar recuperar negócios”, a observação médica num
hotel não será uma limitação.
“No
sector do agroalimentar, acredito que haja empresários que estejam extremamente
interessados em voltar rapidamente a reactivar o relacionamento”, frisou.
No
que diz respeito aos requisitos para entrar na China continental através de
Macau, os empresários mostram-se mais pessimistas.
Uma
vez em Macau, um nacional português não-residente pode solicitar um visto para
cruzar a fronteira, confirmou à Lusa a China Travel Service, agência autorizada
a emitir documentos de viagem para a China.
No
caso de tratar-se de um empresário, além da vacinação completa, terá de
permanecer em Macau pelo menos 28 dias antes de viajar, sendo necessária a
apresentação de “uma carta-convite da empresa” na China, “a certificação da
companhia e a cópia do documento de identificação do representante legal”,
explicou uma funcionária da China Travel Service.
Para
ambos os vistos, de turismo ou negócios, é permitida uma única entrada por um
período máximo de 30 dias no país, sendo que a atribuição do visto “não é 100
por cento garantida”, reforçou.
“São
períodos muito longos”, reagiu o director-geral da TrevoTech. “A não ser que
sejam negócios demasiado grandes, não estou a ver os empresários a passarem por
esse período, acho que essa restruturação com o lado da China ainda vai
aguardar um pouco”, completou Alberto Neto Carvalho.
Testados e certificados
Além
da necessidade de permanecer no Interior da China, Hong Kong ou Portugal nos 21
dias que antecedem a viagem rumo a Macau, e da obrigação de cumprir 14 de
quarentena num hotel designado, é exigida uma panóplia de documentação a quem
chega à RAEM ao abrigo da excepção.
Assim
sendo, os portugueses abrangidos pela medida têm de apresentar, como é óbvio,
passaporte português válido, certificado de resultado negativo no teste à
covid-19, certificado de vacinação e “confirmação de reserva emitido pelo hotel
de observação médica”.
Quanto
aos documentos que comprovem que nos 21 dias anteriores à entrada em Macau o
declarante não esteve em locais fora de Portugal, Interior da China e Hong Kong
existem duas opções: pedir um atestado às entidades autárquicas de Portugal ou
assinar uma declaração, sob compromisso de honra para o mesmo efeito. Importa
referir que caso se venha a constatar que as informações não correspondem à
verdade, o declarante pode ser acusado de prestação de declarações falsas.
Na
contagem dos 21 dias, é permitido a soma do tempo nos três territórios, ou
seja, antes de entrar em Macau, o cidadão português pode passar sete dias em
Portugal, outros sete no Interior da China e outros sete em Hong Kong.
Aquando
do anúncio da medida, as autoridades afirmaram que tiveram em conta “as
necessidades dos residentes ou entidades da RAEM”, razões pelas quais decidiram
“dispensar, a título excepcional, o cumprimento da medida por parte de
determinado grupo de pessoas”, uma vez que “o intercâmbio entre pessoas de
Macau e Portugal é necessário”. In “Hoje Macau” - Macau
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