São
Paulo – Além da privatização da Santos Port Authority (SPA), sucessora
da antiga Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), o governo federal,
por intermédio do Ministério da Infraestrutura (Minfra), espera tirar dos
computadores ainda neste ano de 2022 o projeto que prevê a ampliação do sistema
ferroviário de acesso ao porto, com a concessão
da Ferrovia Interna do Porto de Santos (FIPS) a empresas privadas, que podem
ser a Rumo, a VLI e a MRS, que já manifestaram interesse em participar do
leilão. O contrato prevê um investimento de R$ 891 milhões, com a ampliação da
capacidade de movimentação do porto para 115 milhões de toneladas por ano, em
um prazo de cinco a dez anos.
Atualmente,
a gestão das ferrovias é feita por uma concessão à Portofer, empresa controlada
pela Rumo. O contrato com a Portofer vencerá em 2025, mas, de acordo com a
proposta, deverá ser encerrado antecipadamente para que seja feita uma nova
concessão, desta vez com modelo associativo, ou seja, com a participação de todos
os operadores de ferrovias que acessam o porto e que deverão fazer uma gestão
compartilhada.
Hoje,
diante da capacidade do porto estimada em 50 milhões de toneladas por ano, as
operações de suas ferrovias internas estão próximas de um colapso. Até porque,
no interior do País, vêm sendo realizados investimentos na ampliação de malhas
ferroviárias, que consequentemente passarão a ter maior capacidade para
transportar cargas para o porto de Santos e vice-versa.
Sem
contar que, em 2021, a movimentação no porto chegou a 47,3 milhões de toneladas
e que só não ocorreu um colapso nas operações portuárias porque, no começo de
2020, com a eclosão da epidemia de coronavírus (covid-19) e suas consequências,
houve no ano passado quebra na safra de milho. E que, para este ano, com a
guerra entre Rússia e Ucrânia, com sanções dos bancos ao governo russo,
prevê-se uma redução no fornecimento de fertilizantes russos (cloreto de
potássio e outros) usados em campos de soja e milho, o que deverá impactar
negativamente as safras. Afinal, cerca de 25% das importações brasileiras de
fertilizantes vêm daquele país.
O
que se espera é que, independentemente do governo que sairá das urnas em
outubro, os planos para a revitalização do sistema ferroviário de acesso ao
porto de Santos não sejam postergados nem atirados para as calendas gregas,
como foram tantos outros projetos ao longo de quase um século.
Como
se sabe, o primeiro projeto de uma ligação seca entre Santos e Guarujá, um
túnel escavado para a passagem de bonde elétrico, data de 1927. Desde então,
foram preparados mais quatro projetos: em 1948, houve a proposta da construção
de uma ponte levadiça que permitiria a passagem dos navios, tal como aquela
sobre o rio Neva, em São Petersburgo, na Rússia, construída em 1916, enquanto,
em 1970, surgiu um projeto que previa uma ponte com acesso helicoidal. Depois,
em 2011, foi apresentado outro projeto que previa a construção de um túnel
submerso, abandonado no começo de 2015. E, agora, estão sendo feitos estudos
para a construção de um túnel imerso entre Santos e Guarujá, no âmbito do
Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), obra que faz parte do plano da
desestatização do porto. Trata-se do quinto projeto. Haja esperança.
Não
se pode esquecer também que, em 1967, foi apresentado um projeto para a
construção de um aeroporto metropolitano em Guarujá, a partir da Base Aérea de
Santos, e que, em 2000, um grupo de trabalho estudou a viabilidade da
construção de um aeroporto metropolitano em Praia Grande, sem que os estudos tenham
saído do papel. Quer dizer, para a realização de todos esses projetos foram
empregados muitos recursos públicos. Hoje, seria impossível calcular quanto
dinheiro, neste quase um século de discussões e projetos inúteis, foram
desperdiçados pela incúria de gestores públicos. Seja como for, espera-se que,
desta vez, o projeto de revitalização do sistema ferroviário do porto de Santos
dê certo. Já seria alguma coisa. Liana Martinelli - Brasil
___________________________________
Liana Lourenço Martinelli, advogada, pós-graduada em Gestão de
Negócios e Comércio Internacional, é gerente de Governança Ambiental, Social e
Corporativa (ESG) do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística
Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio
Internacional. E-mail: lianalourenco@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário