Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Macau - Exposição apresenta quase duas centenas de fotografias de artistas de mais de 50 países

A mais antiga associação de fotografia em Macau inaugurou este fim-de-semana o ‘21 Salão Internacional Fotográfico de Macau 2021’, no pavilhão do Jardim Lou Lim Ioc. A mostra conta com quase duas centenas de fotos escolhidas pelos organizadores, dos mais variados temas e conteúdos artísticos, e pretendem mostrar obras de todo o mundo



No passado sábado, dia três de Julho, realizou-se a inauguração da exposição do ‘21 Salão Internacional Fotográfico de Macau 2021’ no pavilhão do Jardim Lou Lim Ioc. A exposição contou com a participação de 50 países e zonas, com quase cinco mil fotografias tiradas por mais de 382 autores, tendo sido seleccionadas para exposição cerca de duas centenas.

De acordo com Fong Kuok Keong, presidente da Comissão Executiva da Associação Fotográfica de Macau, esta mostra teve o privilégio de receber obras de grande qualidade de todo o mundo, com resultados satisfatórios. O presidente lamenta, porém, que devido à escassez de espaço para exposição não tenha sido possível a exibição de todas as obras submetidas. Tam Chan Ieong, presidente da Exposição do Salão, deu os parabéns à associação pela iniciativa e reiterou que, apesar da situação grave causada pela pandemia, a exposição foi realizada com sucesso, e agradeceu aos fotógrafos e a todos os membros da associação.

A mostra de fotografias, patente até ao dia 15 de Julho, contou ontem com vários visitantes, entre eles diversos fotógrafos profissionais e amadores da comunidade portuguesa.

António Mil-Homens, um dos conhecidos fotógrafos portugueses do território, cruzou-se com o Ponto Final enquanto passeava pela exposição. “Achei interessante vir visitar pois esta associação de fotografia é das mais antigas de Macau, e isto é um concurso internacional onde estão fotografias de 300 e tal autores de 50 países”, começou por apontar.

“Sem dúvida que há aqui muita qualidade em termos fotográficos, e está claro que está bem patente aqui o gosto cultural asiático, que é das fotografias ultra saturadas. Embora já no passado, mesmo ainda com o analógico, com a utilização de filtros e de determinado tipo de peliculas já procurassem este estilo, isto é mesmo cultural. Agora com o digital e com o Photoshop é ainda mais patente este relativo exagero depois na saturação das cores, mas sob o ponto de vista técnico está com imagens muito boas mesmo”, assegura o português radicado em Macau desde os anos 90.

Apesar do concurso em si ter aceite 4732 imagens, no salão da exposição estão expostas cerca de 200. “Dá para ver que foi renhida a competição e que houve um critério de qualidade na selecção”, refere. O fotógrafo, apesar de não fazer parte da associação em exibição, aproveitou ainda para mencionar que é sócio da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica em Portugal e da mais recente associação de fotografia Halftone.


Apesar da qualidade técnica, o produto final é consoante os gostos

José Sales Marques, também membro da associação Halftone, adiantou que o que está aqui apresentado requer um certo gosto adquirido. “Muito do que aqui se vê resulta de uma certa forma de processar a fotografia. Há aqui uma grande qualidade técnica, vê-se que há um domínio muito grande do ponto de vista técnico e o produto final é consoante os gostos, porém, eu acho que há muitas pessoas que gostam desta forma de apresentar e de tratar fotografia, e haverá outros que preferirão algo com menos ‘input digital’”, salienta o economista, referindo-se à manipulação das imagens feita na pós-produção com grande domínio das técnicas de edição.

“Isso não põe em causa o facto que existe qualidade artística, sobretudo em alguns trabalhos. Sem dúvida que é um evento que merece consideração e respeito, porque de facto não é fácil conseguir manter um salão internacional durante 21 anos e com uma participação muito alargada, com quatro mil ou cinco mil entradas. É um feito e é de apoiar”, prosseguiu.

Em jeito de conclusão, José Sales Marques apontou o ponto de situação da associação Halftone, da qual faz parte. “Para já acho que estamos mais virados para fazer coisas com a participação dos nossos associados, os programas e actividades passam mais por aí e também pela formação, e se houver algum concurso será eventualmente uma coisa mais local e não uma coisa desta dimensão como vemos aqui hoje. Obviamente que os primeiros passos serão sempre mais de afirmação de uma certa identidade artística da associação e isso passa por mostrar o que é que os seus membros pensam e fazem sobre a fotografia, por isso é que em termos de prioridade as coisas vão para publicar coisas nossas e divulgá-las”, sublinhou.

João Miguel Barros, presidente da Halftone, esteve também em visita ao pavilhão do Lou Lim Ioc e expressou o mérito e a importância deste tipo de iniciativas no território. “É uma forma de divulgar a fotografia e também mostrar que é possível fazer muitas abordagens a partir das imagens. É claro que este salão está muito conotado com um tipo específico de fotografia, de cores muito saturadas, com algumas imagens muito irrealistas, o que até poderia levantar uma discussão interessante sobre os limites ou não limites da fotografia, mas eu tenho sempre defendido que na fotografia artística todos os limites, de algum modo, são possíveis”, apontou o advogado de profissão.

“Há aqui fotografias muito boas, de uma grande qualidade, e de um modo geral estão presentes também exemplos muito significativos do modo de como se domina a técnica fotográfica, mas depois também há aqui exemplos muito significativos daquilo que não se deve fazer em termos de manipulação de fotografia porque muitas delas perdem completamente o seu próprio sentido e tornam-se um bocadinho numa imagem muito distorcida, até do que é o limite da criação artística, se bem que, mais uma vez, eu tenha de fincar que na criatividade artística nunca deverá haver limites. Em síntese, eu acho que é muito importante exposições como estas”, garantiu.

Sobre a nova associação de fotografia, João Miguel Barros referiu: “Nós na Halftone defendemos que é importante, apesar de haver sensibilidades estéticas, haver perspectivas diferentes sob a forma de abordar a fotografia, criar-se uma forma de colaboração entre as associações em Macau, porque há um conjunto de associações mais ligadas à comunidade chinesa, e nós queríamos, e queremos, estabelecer formas de diálogo com as associações mais activas, se bem que algumas existam apenas no papel. Esse é um dos projectos que nós queremos desenvolver também nos próximos meses, porque não faz nenhum sentido numa terra tão pequena como Macau existir este afastamento, até porque um dos passos que a Halftone neste momento está a dar é justamente a integração de fotógrafos chineses no seio da própria Halftone. Isso para nós é muito importante, este relacionamento entre as diferentes culturas, mais do que nacionalidades, porque de facto na fotografia não existem nacionalidades, nem idiomas, e esse tipo de colaboração é uma coisa que nós queremos começar a destacar”, sublinhou. Joana Chantre – Macau in “Ponto Final”

joanachantre.pontofinal@gmail.com




 

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