A mais antiga associação de fotografia em Macau inaugurou
este fim-de-semana o ‘21 Salão Internacional Fotográfico de Macau 2021’, no
pavilhão do Jardim Lou Lim Ioc. A mostra conta com quase duas centenas de fotos
escolhidas pelos organizadores, dos mais variados temas e conteúdos artísticos,
e pretendem mostrar obras de todo o mundo
No
passado sábado, dia três de Julho, realizou-se a inauguração da exposição do
‘21 Salão Internacional Fotográfico de Macau 2021’ no pavilhão do Jardim Lou
Lim Ioc. A exposição contou com a participação de 50 países e zonas, com quase
cinco mil fotografias tiradas por mais de 382 autores, tendo sido seleccionadas
para exposição cerca de duas centenas.
De
acordo com Fong Kuok Keong, presidente da Comissão Executiva da Associação
Fotográfica de Macau, esta mostra teve o privilégio de receber obras de grande
qualidade de todo o mundo, com resultados satisfatórios. O presidente lamenta,
porém, que devido à escassez de espaço para exposição não tenha sido possível a
exibição de todas as obras submetidas. Tam Chan Ieong, presidente da Exposição
do Salão, deu os parabéns à associação pela iniciativa e reiterou que, apesar
da situação grave causada pela pandemia, a exposição foi realizada com sucesso,
e agradeceu aos fotógrafos e a todos os membros da associação.
A
mostra de fotografias, patente até ao dia 15 de Julho, contou ontem com vários
visitantes, entre eles diversos fotógrafos profissionais e amadores da
comunidade portuguesa.
António
Mil-Homens, um dos conhecidos fotógrafos portugueses do território, cruzou-se
com o Ponto Final enquanto passeava pela exposição. “Achei interessante vir
visitar pois esta associação de fotografia é das mais antigas de Macau, e isto
é um concurso internacional onde estão fotografias de 300 e tal autores de 50
países”, começou por apontar.
“Sem
dúvida que há aqui muita qualidade em termos fotográficos, e está claro que
está bem patente aqui o gosto cultural asiático, que é das fotografias ultra
saturadas. Embora já no passado, mesmo ainda com o analógico, com a utilização
de filtros e de determinado tipo de peliculas já procurassem este estilo, isto
é mesmo cultural. Agora com o digital e com o Photoshop é ainda mais patente
este relativo exagero depois na saturação das cores, mas sob o ponto de vista
técnico está com imagens muito boas mesmo”, assegura o português radicado em
Macau desde os anos 90.
Apesar
do concurso em si ter aceite 4732 imagens, no salão da exposição estão expostas
cerca de 200. “Dá para ver que foi renhida a competição e que houve um critério
de qualidade na selecção”, refere. O fotógrafo, apesar de não fazer parte da
associação em exibição, aproveitou ainda para mencionar que é sócio da Associação
Portuguesa de Arte Fotográfica em Portugal e da mais recente associação de
fotografia Halftone.
Apesar da qualidade técnica, o produto final é consoante
os gostos
José
Sales Marques, também membro da associação Halftone, adiantou que o que está
aqui apresentado requer um certo gosto adquirido. “Muito do que aqui se vê
resulta de uma certa forma de processar a fotografia. Há aqui uma grande
qualidade técnica, vê-se que há um domínio muito grande do ponto de vista
técnico e o produto final é consoante os gostos, porém, eu acho que há muitas
pessoas que gostam desta forma de apresentar e de tratar fotografia, e haverá
outros que preferirão algo com menos ‘input digital’”, salienta o economista,
referindo-se à manipulação das imagens feita na pós-produção com grande domínio
das técnicas de edição.
“Isso
não põe em causa o facto que existe qualidade artística, sobretudo em alguns
trabalhos. Sem dúvida que é um evento que merece consideração e respeito,
porque de facto não é fácil conseguir manter um salão internacional durante 21
anos e com uma participação muito alargada, com quatro mil ou cinco mil
entradas. É um feito e é de apoiar”, prosseguiu.
Em
jeito de conclusão, José Sales Marques apontou o ponto de situação da
associação Halftone, da qual faz parte. “Para já acho que estamos mais virados
para fazer coisas com a participação dos nossos associados, os programas e
actividades passam mais por aí e também pela formação, e se houver algum
concurso será eventualmente uma coisa mais local e não uma coisa desta dimensão
como vemos aqui hoje. Obviamente que os primeiros passos serão sempre mais de
afirmação de uma certa identidade artística da associação e isso passa por
mostrar o que é que os seus membros pensam e fazem sobre a fotografia, por isso
é que em termos de prioridade as coisas vão para publicar coisas nossas e
divulgá-las”, sublinhou.
João
Miguel Barros, presidente da Halftone, esteve também em visita ao pavilhão do
Lou Lim Ioc e expressou o mérito e a importância deste tipo de iniciativas no
território. “É uma forma de divulgar a fotografia e também mostrar que é
possível fazer muitas abordagens a partir das imagens. É claro que este salão
está muito conotado com um tipo específico de fotografia, de cores muito
saturadas, com algumas imagens muito irrealistas, o que até poderia levantar
uma discussão interessante sobre os limites ou não limites da fotografia, mas
eu tenho sempre defendido que na fotografia artística todos os limites, de
algum modo, são possíveis”, apontou o advogado de profissão.
“Há
aqui fotografias muito boas, de uma grande qualidade, e de um modo geral estão
presentes também exemplos muito significativos do modo de como se domina a
técnica fotográfica, mas depois também há aqui exemplos muito significativos
daquilo que não se deve fazer em termos de manipulação de fotografia porque
muitas delas perdem completamente o seu próprio sentido e tornam-se um
bocadinho numa imagem muito distorcida, até do que é o limite da criação
artística, se bem que, mais uma vez, eu tenha de fincar que na criatividade
artística nunca deverá haver limites. Em síntese, eu acho que é muito
importante exposições como estas”, garantiu.
Sobre
a nova associação de fotografia, João Miguel Barros referiu: “Nós na Halftone
defendemos que é importante, apesar de haver sensibilidades estéticas, haver
perspectivas diferentes sob a forma de abordar a fotografia, criar-se uma forma
de colaboração entre as associações em Macau, porque há um conjunto de
associações mais ligadas à comunidade chinesa, e nós queríamos, e queremos,
estabelecer formas de diálogo com as associações mais activas, se bem que
algumas existam apenas no papel. Esse é um dos projectos que nós queremos
desenvolver também nos próximos meses, porque não faz nenhum sentido numa terra
tão pequena como Macau existir este afastamento, até porque um dos passos que a
Halftone neste momento está a dar é justamente a integração de fotógrafos
chineses no seio da própria Halftone. Isso para nós é muito importante, este relacionamento
entre as diferentes culturas, mais do que nacionalidades, porque de facto na
fotografia não existem nacionalidades, nem idiomas, e esse tipo de colaboração
é uma coisa que nós queremos começar a destacar”, sublinhou. Joana Chantre –
Macau in “Ponto Final”
joanachantre.pontofinal@gmail.com
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