Os suíços votaram a favor do 13° mês de pensão para os aposentados em meio a preocupações com o aumento do custo de vida na dispendiosa Suíça. Uma outra proposta para aumentar gradualmente a idade da aposentação para 66 anos ou mais foi claramente rejeitada
No
passado domingo, 03 de Março, cerca de 60% dos eleitores na Suíça apoiaram a
iniciativa “Uma vida melhor para os aposentados“, que queria que estes tivessem
direito ao 13° para ajudar os pensionistas que enfrentam dificuldades para
sobreviver diante da inflação e do aumento do custo de vida. A maioria dos
cantões, os pequenos estados da Suíça, também apoiaram a proposta.
A
iniciativa, lançada pela Federação dos Sindicatos Suíços e apoiada pelos
partidos do centro-esquerda, exigia um 13º mês da pensão para idosos e
sobreviventes (conhecido como AHV/AVS) – em vez dos 12 atuais – semelhante ao
13º salário que muitos trabalhadores recebem na Suíça.
A
vitória do “sim” foi mais enfática do que as pesquisas anteriores haviam
sugerido (53% dez dias antes da votação) e representa uma vitória histórica no
país alpino: é a primeira vez que uma iniciativa de esquerda é aceite para
impulsionar o sistema da segurança social suíço.
“O
pacto social no nosso país ainda funciona”, disse Pierre-Yves Maillard,
presidente da Federação Sindical Suíça, à televisão pública suíça, RTS.
“Esta
é uma mensagem maravilhosa para todas as pessoas que trabalharam a vida
inteira. São as pessoas que têm o poder na Suíça. E estou muito orgulhoso do
nosso país e da nossa democracia.”
O
deputado socialista Samuel Bendahan também destacou o aspecto histórico da
votação, chamando-a de “divisor de águas”.
Pela
primeira vez, “estamos a fazer algo pelas pessoas normais” e não apenas pelos
ricos, declarou à agência de notícias Keystone-SDA. Num país rico como a Suíça,
“todos deveriam poder desfrutar da prosperidade”.
Voto de protesto
Na
sua análise, Lukas Golder, do instituto de pesquisa gfs.bern, descreveu o
resultado como um “voto de protesto”.
“As
pessoas estão a protestar contra um Estado que gasta muito em outros lugares e
financia muitas coisas, por exemplo, defesa e imigração”, disse à televisão
pública suíça, SRF. “Isso levou muitas pessoas da classe média a dizer: ‘Agora
podemos fazer algo por nós mesmos que aliviará de forma ampla e eficaz a
situação financeira dos aposentados’.”
A
questão despertou grande interesse entre os eleitores e a participação também
ficou em torno dos 60%. Em muitos municípios do país, o voto por
correspondência excedeu ou chegou perto de 50%, de acordo com os últimos
números disponíveis.
Os
apoiantes argumentaram que a reforma do sistema da segurança social era viável
e urgentemente necessária. De acordo com a iniciativa do 13º mês para os
aposentados, uma pensão mensal será paga 13 vezes por ano a partir de 2026.
Assim, a pensão para aposentados anual máxima aumentará em CHF 2450, chegando a
CHF 31850 para uma pessoa sozinha, e em CHF 3675, chegando a CHF 47775 para os
casais. O mês extra representa um aumento de 8,33% na pensão.
A
reforma foi duramente combatida pelos partidos de direita e de centro, bem como
pelos principais grupos empresariais do país, que a rejeitaram por considerá-la
financeiramente insustentável. O governo e o parlamento suíços também se
opuseram oficialmente a ela.
Surpresa
Eles
questionaram como exactamente essa reforma – estimada pelo governo em 4 mil milhões
de francos suíços por ano – poderia ser financiada e levantaram temores sobre a
sustentabilidade de longo prazo de todo o sistema da segurança social.
Os
detalhes sobre como a iniciativa será implementada e financiada – por meio de
contribuições mais altas para a segurança social, impostos ou outras opções –
ainda precisam de ser resolvidos pelo Conselho Federal, o governo suíço, e pelo
parlamento. A iniciativa não diz nada sobre esse ponto.
Monika
Rühl, diretora do lobby empresarial da Suíça, Economiesuisse, disse que ficou
surpresa com a extensão do voto “sim”.
“Será
um momento difícil para encontrar soluções equitativas, especialmente do ponto
de vista dos jovens”, disse ela à RTS.
Quanto
às soluções, “não há milagres”, declarou ela. “Podemos aumentar as deduções
salariais, aumentar o IVA ou aumentar a contribuição do governo federal, o que
eu realmente não acredito, dada a situação das finanças federais.”
Céline
Amaudruz, parlamentar do Partido Popular Suíço (SVP), de direita, disse que a
direita tinha “apenas a si mesma como culpada” pela derrota de domingo.
“Nunca
fomos capazes de dar respostas em relação ao AVS ou aos custos de saúde”, disse
ela à RTS. “Obviamente, havia a necessidade de uma contraproposta sobre este
assunto… esse é o resultado quando se diz ‘não’ a tudo sem fazer nenhuma
proposta.”
“Não” à aposentação aos 66 anos ou mais tarde
Numa
outra questão sobre aposentação, 75% dos eleitores suíços rejeitaram uma
iniciativa popular que pretendia aumentar gradualmente a idade de aposentação
de 65 para 66 anos na próxima década e, em seguida, anexá-la à expectativa de
vida para garantir o financiamento do sistema da segurança social.
A
proposta da ala jovem do partido Liberal-Radical, intitulada “Por um sistema da
segurança social sólido e sustentável“, foi apoiada pelos partidos de direita,
mas não conseguiu ganhar força entre a maioria do eleitorado.
Os
oponentes – principalmente da esquerda e do centro do espectro político –
denunciaram o projeto como “antissocial, tecnocrático e antidemocrático” e
“inadequado para reformar a previdência”. O lado do “não” acusou os defensores
do projeto de ignorar a realidade vivida pelos cidadãos idosos no mercado de
trabalho da Suíça. As pessoas com mais de 55 anos de idade já têm dificuldade
para encontrar um emprego quando ficam desempregadas, segundo eles.
Após
os resultados de domingo, os jovens liberais-radicais mostraram-se abatidos,
mas combativos. Foi um “dia difícil para os jovens”, disse o partido: a
combinação dos dois resultados da votação marcou “o pior cenário para o futuro
do sistema de aposentação”.
O
aumento da expectativa de vida e o maior número de pessoas idosas significam
que o aumento da idade da aposentação é inevitável, disse o partido – não
admitir isso é “covardia diante da realidade”. O partido pediu que o governo e
o parlamento repensassem o projeto e apresentassem um plano para “renovar” o
sistema da aposentação. Simon Bradley – Suíça in “Swissinfo”
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