O livro “Vozes da Revolução – revisitando o 25 de Abril
de 1974” foi organizado pelo cientista político norte-americano Paul
Christopher Manuel e revela entrevistas inéditas a 14 militares de Abril, de
Otelo a Spínola.
Paul Christopher Manuel é lusodescendente e fez um doutoramento em ciência política na Universidade de Georgetown, Washington, nos Estados Unidos, em 1990, que resultou em vários trabalhos sobre a transição e a consolidação democrática em Portugal após a Revolução dos Cravos
A
partir das entrevistas a 14 militares de Abril, foi editado este novo livro na
colecção “O 25 de Abril Visto de Fora”, iniciativa da Comissão Comemorativa 50
anos 25 de Abril em parceria com a editora Tinta-da-china, juntando ensaios de
vários historiadores portugueses e estrangeiros como Luís Nuno Rodrigues,
Stewart Lloyd-Jones, Nancy Bermeo, David Silva Pereira, Douglas Wheeler e Maria
Inácia Rezola, comissária executiva da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de
Abril.
Os
entrevistados foram divididos, por Paul Christopher Manuel, entre “reformistas”
(António de Spínola, Manuel Monge, Casanova Ferreira e Jaime Neves),
“moderados” pró-Europa (Vítor Alves, Fisher Lopes Pires, Vasco Lourenço, Costa
Neves, Garcia dos Santos), radical pró-Europa de Leste (Vasco Gonçalves),
“populistas”, de tendência terceiro-mundista (Otelo Saraiva de Carvalho e Mário
Tomé) e “independentes” (Costa Gomes e Carlos Fabião).
No
preâmbulo, Nancy Bermeo escreve que estas 14 reflexões dão “uma visão clara da
espantosa diversidade” entre os militares envolvidos no golpe e na revolução,
do “desastre que foi evitado”, numa referência a uma eventual guerra civil, e
“dos modos de pensar que foram ora penalizadores ora facilitadores de um final
feliz” no processo revolucionário.
Nas
entrevistas, os militares responderam, em 1990, “quando os dias agitados da
revolução já tinham passado, mas os acontecimentos eram suficientemente vívidos
para serem recordados com algum pormenor”, a uma lista de perguntas, por
exemplo, sobre o 11 de Março, a tentativa de golpe de direita que ditou a
guinada à esquerda da revolução, ou o 25 de Novembro, o confronto entre a
esquerda militar e os chamados “moderados” que ditou o princípio da
consolidação democrática.
Três
figuras centrais da revolução, Costa Gomes, membro da Junta de Salvação
Nacional (JSN), que se tornou Presidente da República após a demissão de
Spínola, Vasco Gonçalves, coronel do Exército que foi primeiro-ministro no
Verão Quente de 1975, e Otelo Saraiva de Carvalho, estratego do golpe de 25 de
Abril, têm opiniões muito diferentes sobre se Portugal esteve ou não à beira de
uma guerra civil em 1975.
“Tenho
muitas dúvidas”, respondeu Vasco Gonçalves a Paul Christopher Paul, apesar de
reconhecer que houve “acções contraditórias que poderiam conduzir a isso”, um
período de “grande agitação, de afrontamento entre as forças conservadoras e as
forças de progresso”.
Costa
Gomes disse que o país “nunca chegou à beira da guerra a não ser na tentativa,
absolutamente gorada, do Plano da Maria da Fonte” – forças de extrema-direita,
algumas ligadas à ditadura, que lançaram ataques à bomba contra forças e
partidos de esquerda e extrema-esquerda.
E
Otelo Saraiva de Carvalho tem uma opinião mais taxativa: “Só tive noção clara
de que podíamos estar na iminência de iniciar uma guerra civil, como primeira
confrontação entre militares, na própria manhã do 25 de Novembro.” In “Jornal
Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”
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