Desenvolvida no âmbito do projeto europeu RESTORE, a matriz 3D promove a formação e desenvolvimento de tecido cartilaginoso e, ao mesmo tempo, trava o processo inflamatório
Uma
equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da
Universidade do Porto (i3S) desenvolveu um material implantável que consegue
promover a formação e desenvolvimento de tecido cartilaginoso e, ao mesmo
tempo, travar o processo inflamatório associado à osteoartrite, uma doença
incapacitante que afeta quase 600 milhões de pessoas em todo o mundo. Os
resultados do trabalho, inserido no âmbito do projeto europeu RESTORE, abrem
portas a novas terapias para regeneração de cartilagem.
A
osteoartrite (OA) é uma doença incapacitante que afeta 7,6 por cento da
população mundial e representa um fardo considerável para os pacientes e para a
sociedade devido à sua prevalência e custo económico. As terapias convencionais
administradas sistemicamente conseguem bloquear a inflamação, mas não impedem o
processo de degeneração do tecido cartilaginoso e a progressão da doença. Como
a cartilagem, ao contrário do osso, não consegue autorregenerar-se existe uma
necessidade crescente de desenvolvimento de abordagens que sejam eficazes nessa
função.
Com
o objetivo de superar as limitações das terapias tradicionais usadas na
medicina regenerativa, a equipa do i3S decidiu melhorar uma matriz 3D
biodegradável, já testada e aprovada na medicina veterinária, para poder ser
usada em humanos, através da incorporação de nanomateriais carregados de
ibuprofeno, um fármaco para o tratamento da dor, febre e inflamação.
De
acordo com Daniela Pereira Vasconcelos, uma das primeiras autoras do artigo
recentemente publicado na revista Advanced Functional Materials,
“o uso de matrizes 3D é o meio mais promissor para regenerar a cartilagem, já
que fornece um ambiente físico e químico favorável à sobrevivência e
diferenciação das células da cartilagem, os chamados condrócitos”. Uma vez
implantada na lesão, acrescenta, “esta matriz 3D serve de ‘casa’ às células da
cartilagem e promove a sua proliferação até à formação de um novo tecido
cartilaginoso”.
Para
testar a eficácia desta matriz, explica Daniela Pereira de Vasconcelos,
“recorremos a células de cartilagem de pacientes submetidos a artroplastia
total da anca e ou joelho e cultivámo-las nestas estruturas 3D nanocapacitadas
com ibuprofeno, denominadas Nanoenabled Col-PLA scaffold”. Com este
procedimento, adianta a investigadora, “verificámos que estas células de
cartilagem foram capazes de diminuir o processo inflamatório e restaurar a
produção de matriz extracelular, ou seja, restaurar o tecido cartilaginoso”.
A
equipa do i3S testou depois a resposta inflamatória aos produtos secretados
pelas células da cartilagem em contacto com esta matriz 3D num modelo animal e
verificou que há uma redução do recrutamento de células imunes e de mediadores
inflamatórios com um papel importante na osteoartrite.
Este
estudo, sublinha Catarina Leite Pereira, que partilha a primeira autoria do
artigo, “demonstra que o modelo 3D desenvolvido tem a capacidade de promover o
desenvolvimento de cartilagem, bem como modular a resposta inflamatória,
superando as limitações das terapias tradicionais usadas na medicina
regenerativa”.
Com
este trabalho, as investigadoras do i3S procuraram “ultrapassar dois dos
principais desafios na engenharia de tecidos cartilaginosos: integração de
propriedades biológicas e mecânicas adequadas numa estrutura 3D e modular a
resposta do hospedeiro à estrutura 3D, recrutando células capazes de promover a
regeneração e/ou modulando a interação com as células imunes que podem levar à
rejeição da estrutura e/ou a uma resposta inflamatória exacerbada”.
Este
trabalho foi realizado no âmbito do projeto europeu RESTORE, coordenado pela
investigadora Meriem Lamghari, líder do grupo do i3S Neuro Skeletal Circuits, e
que integra mais quatro parceiros: o grupo Nanomedicines & Translational
Drug Delivery, do i3S, o Department of Biotechnology and Nanomedicine SINTEF
Industry, da Noruega, o Institute of Orthopedic Research and Biomechanics,
University of Ulm, da Alemanha e a empresa Askel Healthcare Ltd, da Finlândia. Universidade
do Porto - Portugal
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