O fotógrafo português Edgar Martins vai publicar em livro um projeto premiado de homenagem ao amigo Anton Hammerl na guerra civil líbia, trabalho que descreveu como o “mais complexo e mais ambicioso até a data”
Intitulado “Anton’s Hand is
made of Guilt. No Muscle of Bone. He has
a Gung-ho Finger and a Grief-stricken Thumb”, o livro vai ser publicado em
abril e é caracterizado como “um trabalho de pesquisa, um lipograma e um estudo
antropológico imaginário”.
“A
metodologia e linguagem adotada e a sensibilidade com que o tema foi abordado
tornou possível abrir um diálogo sobre como representamos a guerra, a morte e o
trauma”, afirmou à agência Lusa.
O
trabalho é uma sequência do projeto que iniciou em 2019 quando, frustrado com a
falta de informação, decidiu investigar a morte do amigo fotojornalista Anton
Hammerl durante a guerra civil líbia, em 2011.
Além
de viagens ao norte de África, fez investigação na Internet, que abrangeu
espaços encriptados, conhecidos como ‘dark web’, reservados a extremistas
islamitas ou a apoiantes de Mohammar Khadaffi, com o objetivo de encontrar
referências ao amigo.
A
série de fotografias que produziu na sequência deste projeto, chamada “A Nossa
Guerra”, mereceu a Edgar Martins, que vive e trabalha no Reino Unido, o prémio
de Fotógrafo do Ano na categoria Retrato dos Prémios Mundiais de Fotografia
Sony 2023.
Ao
publicar o trabalho fotográfico decidiu adicionar imagens recolhidas durante a
pesquisa e textos do escritor britânico Will Self e do académico David Campany.
O
livro de 328 páginas será acompanhado por um álbum de paisagens sonoras “que
explora, de forma tátil e sensorial a experiência da guerra”, e incluirá, numa
edição limitada da obra, a reprodução de desenhos encomendados a um combatente
líbio.
Esta
produção também está na base de várias exposições sobre este projeto em
Londres, durante a Sony World Photography Awards Exhibition 2024, a decorrer
até 06 de maio, e em Lisboa, na Galeria Filomena Soares, em setembro.
Além
das fotografias e das instalações sonoras, a exposição conta com uma tecnologia
desenvolvida propositadamente para programar, sincronizar e apresentar
projeções em equipamento visual específico.
O
artista pretende que o livro e exposição levem o leitor ou visitante a
reposicionar-se na forma como se relaciona com o tema da fotografia em situação
de conflito.
“Incita
uma leitura experimental. Ela exige uma mudança epistemológica: a renúncia da
predisposição automática do espectador/leitor para a certeza e clareza na forma
como nos relacionamos com imagens e sobretudo imagens de guerra”, explicou à
Lusa.
Além
das fotografias que tirou com combatentes líbios, dissidentes ou outros locais,
livro e exposição incluem fotografias tirada por civis em telefones móveis que
estes partilharam em fóruns na Internet e em redes sociais.
Algumas
destas imagens parecem mostrar crimes e atos de violência na Líbia, o que
acentua a consciência do conflito, bem como a dificuldade de documentar e
testemunhar a guerra, sendo acompanhadas por um texto ficcional de Will Self.
“O
desafio que coloquei ao Will foi abordar o tema indiretamente de forma a
conectar com as experiências de perda e trauma a que mais estamos habituados,
como a morte de um ente querido”, referiu o fotógrafo português.
“O projeto apela à
razão, ao sentido, ao sentimento, mas também ao nosso sentido de descoberta, ao
nosso sentido de indignação, à nossa capacidade de empatia. É um livro que faz
com que questionemos constantemente as nossas expectativas e convicções e o que
esperamos de imagens e a forma como nos relacionamos com elas”, resumiu. In “Bom dia Europa” –
Luxemburgo com “Lusa”
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