Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 31 de agosto de 2024

Portugal - Tratamento não-radical no cancro da próstata

O Professor Doutor Tiago Rodrigues e a sua equipa acabam de celebrar um marco significativo na abordagem ao cancro da próstata ao introduzir uma técnica revolucionária: o Tratamento Não-Radical. Este avanço notável representa um novo horizonte na medicina, onde a precisão e a tecnologia se unem para oferecer tratamentos mais seguros e eficazes para os pacientes

Desafio Global

O Cancro da Próstata é, infelizmente, uma realidade comum para muitos homens em todo o mundo, sendo uma das três principais causas de morte oncológica. A importância vital do diagnóstico precoce não pode ser subestimada. Graças aos impressionantes avanços na medicina nas últimas duas décadas, hoje podemos diagnosticar e tratar o cancro da próstata com uma eficácia sem precedentes.

Contudo, historicamente, o tratamento deste cancro implica uma abordagem radical, com a remoção total da próstata para garantir a eliminação do cancro. Embora eficaz, este método traz consigo uma série de efeitos colaterais significativos, incluindo incontinência urinária e disfunção erétil, que podem impactar profundamente a qualidade de vida dos pacientes.

Uma nova abordagem, um novo conceito

Na Clínica de Urologia, estamos a transformar esta realidade com a introdução de um novo paradigma no tratamento do cancro da próstata. Utilizando as mais avançadas ferramentas de diagnóstico e tratamento, e selecionando criteriosamente os pacientes, conseguimos tratar apenas a área afetada pelo cancro, preservando o restante tecido prostático. Este método inovador permite-nos adiar ou até evitar permanentemente a necessidade de um tratamento radical. Ao fazer isso, conseguimos reduzir os efeitos secundários, proporcionando aos pacientes uma melhor qualidade de vida sem comprometer a eficácia do tratamento.

Fundamentos da inovação

A nossa abordagem inovadora é sustentada por três pilares fundamentais:

1. Diagnóstico preciso: Utilizamos biópsias de última geração que nos permitem identificar com precisão a localização e a extensão do cancro na próstata. Este diagnóstico preciso é essencial para garantir que apenas as áreas afetadas pelo cancro sejam tratadas, preservando ao máximo o tecido saudável.

2. Terapia Robótica Avançada com HIFU: Implementámos uma modalidade terapêutica robótica com ultrassons de alta intensidade, que nos permite tratar áreas específicas da próstata de forma extremamente precisa. Esta tecnologia de ponta garante que o tratamento é direcionado às células cancerígenas, minimizando os danos aos tecidos circundantes e reduzindo os efeitos colaterais.

3. Programa de Vigilância Rigoroso: Estabelecemos um programa de vigilância rigoroso para os primeiros 48 meses, integrando bases de dados internacionais para monitorizar o progresso dos nossos pacientes e garantir a eficácia contínua do tratamento. Este programa de vigilância permite-nos acompanhar de perto a evolução dos pacientes, ajustando o tratamento conforme necessário para assegurar os melhores resultados possíveis. In “LusoJornal” – França

____________________

Professor Doutor Tiago Rodrigues – Urologista, Diretor do serviço de urologia do Hospital Cruz Vermelha, Lisboa


Alemanha - 60 anos de emigração portuguesa em livro

“Este livro é uma homenagem aos portugueses que fizeram da Alemanha o seu país de adopção, ou seja, a sua terra de trabalho, de vida, de construção de família e do seu presente e do seu futuro”, afirma a Oxalá Editora, em comunicado


São 23 histórias de portugueses de várias gerações que partilham a experiência pela qual passaram desde a sua chegada a este país.

As histórias que contam em “23 histórias – 23 vidas”, são trajetos de vida, luta pelos sonhos, as alegrias, os momentos difíceis e uma realidade comum a todos: chegar, estar, lutar e viver.

Hoje, a relação que os portugueses têm com a Alemanha não é uma relação complicada. Talvez não seja uma relação de amor profundo, mas sim de sentida gratidão e reconhecimento, onde se sentem bem e à qual agradecem o acolhimento e as oportunidades para construir o seu futuro de cabeça levantada, condignamente”, consideram os editores desta obra que tem por objetivo marcar os 60 anos da emigração portuguesa para a Alemanha.

A Oxalá Editora considera que “decorridos 60 anos, a comunidade está de bem com Portugal. Está de bem com a Alemanha. Tem o privilégio de ter duas pátrias, uma de origem e outra de eleição; de duas línguas; de duas terras e de muitas esperanças”.

As 23 histórias são as vidas de António Horta, Alfredo Stoffel, Armando Rodrigues de Sá, Carlos Pais, Catarina dos Santos-Wintz, Cristina Torrão, Diogo Júnior, Fernando de Matos, José Luís Encarnação, José Eduardo, Manuel Campos, Manuel Correia da Silva, Manuel Reis, Maria do Céu Campos, Margarida Nörenberg, Marisa Fernandes Cloppenburg, Miguel Szymanski, Nelson Rodrigues, Rodrigo de Castro, Sofia Figueiredo, Teo Ferrer de Mesquita, Maria Teresa Crawford Cabral e Vasco Esteves. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo

Compre o seu exemplar aqui

Cabo Verde - Sos Mucci e Tony Fika Encantam com "Basta e ku bo"

Sos Mucci e Tony Fika uniram forças para lançar "Basta e ku bo", uma música que explora os sentimentos profundos de saudade, despedida e o desejo ardente de reencontrar e viver juntos novamente. O tema aborda a realidade de muitos casais separados pela emigração, mas que, apesar da distância, mantêm viva a chama do amor.


Com uma melodia tocante e uma letra carregada de emoção, "Basta e ku bo" é uma criação de Sos Mucci, com colaboração de Tony Fika. A produção musical foi realizada no Lil Mario Studio, onde toda a captação, mixagem e masterização ficaram a cargo de Lil Mario, garantindo um som polido e de alta qualidade. A contribuição de Enos David na guitarra adiciona uma camada extra de profundidade emocional à música.

O videoclipe de "Basta e ku bo" foi produzido pela Feia TV Multimedia, capturando a essência da música de maneira visualmente cativante. Com captação por William Gomes e Mauro Rodrigues, iluminação por Derrick Silva, e edição e coloração novamente por William Gomes, o vídeo complementa a narrativa da música com imagens que evocam o sentimento de saudade e o desejo de reconexão. In “Dexam Sabi” – Cabo Verde


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Reino Unido - Cineasta angolano Henrique Sungo nomeado na categoria “Estrela em ascensão”

O escritor e cineasta angolano Henrique Sungo foi nomeado para os prémios Multicultural Business & Community Champion (MBCC), na Inglaterra, pelo segundo ano consecutivo, na categoria de “Estrela em ascensão”


O evento está marcado para o próximo mês de Novembro. O cineasta angolano está nomeado pela contribuição no cinema e literatura.

O prémio Multicultural Business & Community Champion (MBCC), criado em 2016, designa estrela em ascensão às pessoas com um impacto significativo na área de actuação e que inspirem outros para a comunidade.

Para o autor, radicado há mais de 20 anos na Inglaterra, é uma grande satisfação ser reconhecido pelo desempenho na contribuição da cultura angolana naquele país.

"Foram várias nomeações na área da literatura e cinema, portanto sinto-me muito feliz", começou por dizer ao JA Online.

Para Henrique Sungo, esta valorização inspira mais pessoas, assim como os empresários no apoio à arte.

"O impacto desta valorização em Angola como em África, no geral, são ganhos incalculáveis que servirão para acordar um pouco os estados africanos a olharem para o cinema também como diversificação da economia, porque pode contribuir para arrecadação de receitas para os cofres do Estado”, acrescentou.

A iniciativa decorre anualmente, no Reino Unido, atraindo mais de 450 pessoas entre empresários e as maiores empresas britânicas.

O escritor revelou, ainda, que neste momento está a preparar a quinta obra literária num projecto cinematográfico "muito promissor e envolvente”. Victória Ferreira – Angola in “Jornal de Angola”


Portugal - Vai doar vacinas contra a mpox a países africanos

Portugal vai doar a países africanos vacinas contra a mpox, anunciou o Ministério da Saúde, depois de França, Alemanha e Espanha terem comunicado o mesmo compromisso esta semana.

Em comunicado, o Ministério da Saúde salienta que as vacinas vão ser doadas a “países africanos, que têm registado um aumento expressivo de casos desta doença já declarada pela Organização Mundial de Saúde como ‘emergência de saúde pública global’”.

“Portugal tem atualmente um ‘stock’ de vacinas contra o vírus mpox e está na disposição de ceder entre 10% a 15% deste ‘stock’ de vacinas”, indica o gabinete tutelado por Ana Paula Martins.

Portugal responde assim ao pedido da Comissão Europeia aos Estados-membros da União Europeia (UE), na semana passada, para disponibilizarem vacinas e medicamentos para África.

“O Ministério da Saúde já solicitou que seja comunicado junto do ‘board’ da HERA (Autoridade Europeia para a Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias) esta intenção e disponibilidade. A cedência das vacinas ficará naturalmente dependente de uma articulação ao nível da União Europeia”, acrescenta.

Na quarta-feira, o Ministério da Saúde adiantou que estava a avaliar a doação a países africanos de vacinas, de acordo com o seu ‘stock’ e com as necessidades internas.

A mpox é uma doença viral que se propaga dos animais para os seres humanos, mas que também pode ser transmitida entre seres humanos através do contacto físico, provocando febre, dores musculares e lesões cutâneas.

Uma nova estirpe (“clade 1b”) de mpox foi detetada na República Democrática do Congo (RD Congo) em setembro de 2023 e depois notificada em vários países vizinhos.

O ressurgimento em África está a ter um grande impacto na República do Congo, RD Congo, Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”


Macau - Sam Hou Fai pede espírito empreendedor e garante oportunidades para falantes de língua portuguesa

Sam Hou Fai apresentou ontem oficialmente a sua candidatura ao cargo de Chefe do Executivo da RAEM. O antigo presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) diz que a sua futura governação vai ter por base o espírito empreendedor e a aposta na inovação. Na conferência de imprensa, Sam arriscou falar em português e garantiu que o futuro desenvolvimento da região vai oferecer oportunidades a macaenses e a falantes de língua portuguesa


Sam Hou Fai apresentou ontem oficialmente a sua candidatura ao Cargo de Chefe de Executivo. No Centro de Ciência, o antigo presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) afirmou que a sua futura governação da RAEM terá como foco o espírito empreendedor e a inovação. Sem dar detalhes sobre a sua linha política, Sam sublinhou a aplicação “correcta e firme” do princípio “um país, dois sistemas” e prometeu seguir as orientações de Pequim.

“A motivação fundamental da minha candidatura deve-se ao apelo do tempo para a implementação plena, correcta e firme do princípio ‘um país, dois sistemas’, e para a realização do grande empreendimento de fortalecimento do país e do rejuvenescimento nacional; deve-se à forte missão de salvaguardar a prosperidade e a estabilidade a longo prazo de Macau na nova era e na nova jornada, e de assumir novas responsabilidades e obter novas conquistas para Macau; e deve-se à aspiração inicial de criar juntos um futuro melhor para Macau, para que a população em geral possa ter uma vida melhor”, afirmou na sua declaração de candidatura.

Assinalando que Macau é “uma pérola da pátria”, o candidato indicou que os êxitos alcançados pela RAEM após a transferência de soberania são indissociáveis do “forte e permanente apoio do país e do esforço conjunto dos vários sectores da sociedade e de todos os cidadãos”. Sam Hou Fai continuou nos agradecimentos a Pequim e afirmou que “a pátria é sempre o respaldo mais forte de Macau, e quanto melhor for a pátria, melhor será Macau”.

O candidato apontou para o objectivo de Pequim de “revitalização da nação chinesa através da modernização do modelo chinês”, e sublinhou que Macau deve estar intimamente ligado a esse processo. Macau “deve naturalmente acompanhar de perto os passos do país, desenvolver as suas vantagens particulares e dar o contributo de Macau, aproveitando o sucesso já alcançado para buscar novos êxitos”.

“A minha candidatura a Chefe do Executivo tem como objectivo unir todos os sectores da sociedade para que Macau seja mais próspera e harmoniosa e para que os cidadãos tenham uma vida melhor e feliz. Estou disposto a dedicar-me incansavelmente a Macau e ao nosso país”, frisou.

Espírito empreendedor e aposta na inovação

A ideia de acção governativa de Sam Hou Fai é “trabalhar com espírito empreendedor e avançar juntos, persistir no caminho certo e apostar na inovação”. Sob este lema, Sam salientou: “Devemos reunir consensos sociais, permanecer vigilantes contra perigos mesmo em tempos de paz e prosperidade, agir com espírito empreendedor, avançar com firmeza para conquistar triunfos maiores”.

“Vamos unir as forças de todos para promover o desenvolvimento e trabalhar juntos para alcançar a prosperidade, de modo a que toda a população possa partilhar os frutos do desenvolvimento económico e social e traçar um maior círculo concêntrico de amor à pátria e a Macau”, disse na declaração de ontem, acrescentando: “Vamos persistir sempre no caminho e na direcção correctos do princípio ‘um país, dois sistemas’, defender com firmeza a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento do país, manter a prosperidade e a estabilidade de Macau a longo prazo; vamos enfrentar as dificuldades, esforçar-nos para corrigir as próprias deficiências para ficar mais forte, aprofundar a reforma de modo persistente, abrir um novo cenário e alcançar novos progressos”.

Na declaração inicial, Sam Hou Fai destacou ainda quatro aspectos sobre os quais o seu futuro Governo se irá empenhar: na eficiência da governação, no desenvolvimento das vantagens particulares da região, no desenvolvimento diversificado e na construção de “um belo lar”.

Oportunidades para macaenses e falantes de língua portuguesa

Já na parte das perguntas e respostas, Sam Hou Fai foi questionado sobre a importância que o seu Governo irá dar à comunidade portuguesa e arriscou falar em língua portuguesa para agradecer a questão colocada e para avisar que responderia em cantonês. Na resposta, o candidato afirmou: “A comunidade macaense e de falantes de língua portuguesa é muito importante”.

Sam assinalou também que, ao longo dos últimos 25 anos da RAEM, a comunidade de falantes de português e de macaenses tem contribuído para o desenvolvimento do território, bem como para aquilo que considera ser “o sucesso da implementação do princípio ‘um país, dois sistemas'”.

Sam Hou Fai salientou também que “a RAEM dá uma consideração especial à comunidade macaense, inclusivamente aos falantes de língua portuguesa”. Sam garantiu também que, para ir ao encontro do papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, “o futuro desenvolvimento da região vai oferecer oportunidades de trabalho e de vida a esta comunidade”.

O candidato, que frequentou os cursos de Direito e de Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Coimbra, deu até um exemplo dos hábitos que trouxe após regressar de Portugal: “Na altura, não gostava de vinho tinto, achava ácido. Em Coimbra, convivi com muitos portugueses e aprendi a gostar de vinho tinto, que agora é um dos vinhos que mais aprecio. Também aprecio a língua portuguesa, que me influenciou no dia-a-dia”.

Carreira inteiramente ligada à área jurídica

Sam Hou Fai, nascido em Maio de 1962 em Zhongshan, cidade da província de Guangdong, licenciou-se em Direito pela Universidade de Pequim, frequentou os cursos de Direito e de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Coimbra, Portugal, e o Curso de Introdução ao Direito, da Universidade de Macau, assim como o primeiro Curso de Formação de Magistrados e o respectivo Curso de Reciclagem, do Centro de Formação de Magistrados de Macau. Regressou a Macau em 1993 após os estudos em Portugal e, em 1995, passou a integrar o primeiro grupo de auditores judiciais de Macau enquanto trabalhava nos tribunais e no Ministério Público. Em 1997, assumiu o cargo de juiz no Tribunal de Competência Genérica e, em seguida, foi eleito membro do Conselho Judiciário. Em 20 de Dezembro de 1999, foi nomeado, pelo Chefe do Executivo, Presidente do Tribunal de Última Instância da RAEM, acumulando os cargos de Presidente do Conselho dos Magistrados Judiciais, membro da Comissão Independente Responsável pela Indigitação dos Candidatos ao Cargo de Juiz, membro do Grupo de Trabalho sobre a Cooperação Judiciária Inter-regional e Internacional e Presidente Honorário da Associação de Divulgação da Lei Básica de Macau.

Candidaturas já podem ser apresentadas

Começou o prazo de propositura dos candidatos à eleição do Chefe do Executivo. Os interessados têm até ao dia 12 de Setembro para se candidatarem ao cargo. As eleições estão agendadas para o dia 13 de Outubro e, para já, ainda não surgiu mais nenhuma candidatura. A eleição deste ano é a primeira a ser realizada ao abrigo da nova lei eleitoral para o Chefe do Executivo, em que os candidatos ao cargo serão escrutinados pela Comissão de Defesa da Segurança do Estado, que irá eliminar os candidatos considerados pouco patriotas. Os candidatos excluídos não terão direito a recorrer da decisão. Em Agosto de 2019, Ho Iat Seng, que era o único candidato, foi eleito com os votos a favor de 392 dos 400 membros da comissão eleitoral – comissão de 400 membros que escolhe o Chefe do Executivo da RAEM. Ho termina o seu mandato a 19 de Dezembro deste ano, estando a cerimónia de posse do novo Governo prevista para o dia 20 de Dezembro, dia em que se assinala o 25.º aniversário da RAEM. Esta é a primeira vez que um Chefe do Executivo não se recandidata a um segundo mandato. Tanto Edmund Ho como Chui Sai On cumpriram dois mandatos seguidos como líderes do Governo da RAEM. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”


Timor-Leste – Investigador recorda a história da criação de um novo país

O investigador Nuno Rodriguez Tchailoro não fugiu depois de votar no referendo de 30 de Agosto de 1999, que deu a independência a Timor-Leste, permaneceu em Díli porque tinha a responsabilidade de continuar a denunciar a violação dos direitos humanos

Há 25 anos, Nuno Rodriguez Tchailoro, investigador independente na área de história da ocupação indonésia e antigo assessor do ex-Presidente Lu Olo, pertencia à Associação HAK de direitos humanos, que acompanhou a votação no referendo.

“Nós estávamos com outros colegas da Associação HAK e decidimos não fugir para o mato, porque tínhamos a responsabilidade como organização dos direitos humanos de ficar para continuar a disseminar a informação sobre a violação dos direitos humanos”, disse à Lusa.

Em 30 de Agosto de 1999, 344.580 das 446.666 pessoas registadas (433.576 em Timor-Leste e 13.090 nos centros no estrangeiro) escolheram a independência do país e consequentemente o fim da ocupação da Indonésia (a Indonésia invadiu Timor-Leste em 7 de Dezembro de 1975), apesar da violência perpetrada pelas milícias que apoiavam a integração, apoiadas pelas forças militares indonésias.

Com o anúncio dos resultados em 4 de Setembro no Hotel Mahkota, hoje conhecido como Hotel Timor, começou uma onda de violência em Díli com assassínios, deslocação forçada de pessoas para Timor Ocidental, ataques à igreja católica e outras organizações, obrigando milhares de timorenses a fugirem.

Nuno Rodriguez Tchailoro e os colegas ouviram o anúncio oficial dos resultados no escritório da HAK, mas já sabiam que a independência venceria. “Durante o anúncio pelo Kofi Annan [antigo secretário-geral da ONU] tínhamos uma televisão pequena e quando fez o anúncio, queríamos celebrar, gritar bem alto, mas não conseguimos, porque ao nosso lado, os nossos vizinhos eram o centro de inteligência da Indonésia”, disse.

Do momento, lembrou à Lusa os abraços e o choro, mas a impossibilidade de celebração. “Uma emoção ambivalente, muito para celebrar, mas não podíamos celebrar, e tínhamos medo”, afirmou o antigo activista, salientando que sabiam que as milícias se preparavam para os atacar no dia a seguir à noite.

A “sorte”, segundo Nuno Rodriguez Tchailoro, é que com eles, além de estarem colegas indonésios, estavam também um cidadão norte-americano e vários britânicos. “Telefonamos para a UNPOL [Polícia das Nações Unidas] a dizer que havia cidadãos estrangeiros para salvar e por causa deles também fomos retirados”, debaixo de fogo e de pedras, explicou.

A polícia da ONU chegou com as milícias à porta, que não conseguiram entrar nas instalações da HAK, porque, como já previam o ataque, eletrificaram os portões e, portanto, sempre que lhes tocavam apanhavam um choque elétrico.

Nuno Rodriguez Tchailoro acabou por ser retirado do país em 6 de Setembro, mas regressou a Timor-Leste, a Baucau, nos primeiros voos apoiados pela ONU.

O regresso ao país foi um “choque”, mas o ativista salientou que já sabiam que a “Indonésia ia destruir toda a cidade”.

O antigo activista foi trabalhar para Lospalos, a cerca de 250 quilómetros a este de Díli, para contar quantas pessoas tinham sido assassinadas e fazer relatórios de direitos humanos. “Não foi fácil, mas a expressão que usávamos naquele tempo era: somos livres. Apesar das dificuldades, a nossa liberdade era mais importante”, disse.

Passados 25 anos, Nuno Rodriguez Tchailoro afirmou que inicialmente, como nova Nação, a ideia era “fazer melhor” que outros países, porque podiam aprender com os fracassos, vantagens e desvantagens com os outros. “Mas depois de 25 anos não aprendemos lições. O que aconteceu é que repetimos os mesmos erros que outros cometeram por causa da inexperiência”, disse.

Nuno Rodriguez Tchailoro referiu que a educação tem uma qualidade muito má, sendo a “base para desenvolver” o país, sendo que na saúde o sistema também “não é muito bom”. “Sonhámos naquele tempo ter educação e saúde com boa qualidade, mas a realidade é muito diferente”, disse. “Então em termos de recursos humanos se continuarmos assim como é que esta Nação vai desenvolver-se melhor no futuro?”, questionou, salientando que o que se passa é diferente daquilo que foi sonhado na altura da resistência. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Macau - Reforma no sistema de ensino afecta estudantes, docentes e escolas

No ano lectivo de 2024/2025, Macau tem 10 instituições de ensino superior e 76 escolas de ensino não superior com cerca de 80.000 alunos. A Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento de Juventude está a implementar várias políticas para optimizar as escolas, melhorar as qualificações dos docentes, implementar medidas de auditoria nas escolas privadas e melhorar o programa de aprendizagem da língua portuguesa

De acordo com a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), no ano lectivo de 2024/2025, Macau terá um total de 10 instituições de ensino superior e 76 escolas de ensino não superior, com cerca de 80.000 alunos.

O Governo está a concentrar-se na optimização da gestão e no aumento da eficiência administrativa no sector da educação. Estão a ser revistos os objectivos políticos e a eficácia das medidas previstas em vários planos de desenvolvimento relacionados com o ensino superior, o ensino não superior e a política de juventude. O sistema de gestão das escolas do ensino não superior está a ser optimizado, sendo dada especial atenção aos controlos prévios à carreira de docente. As escolas, estão agora a estabelecer normas de conduta e regras internas e os docentes devem respeitar a legislação e os valores éticos da instituição de ensino na qual estão inseridos.

No futuro, as auditorias das contas escolares efectuadas por terceiros serão apoiadas pelo lançamento de programas de auditoria e o trabalho legislativo e de revisão das leis relativas às instituições privadas de formação contínua e aos centros complementares de apoio pedagógico estão também a ser melhorados. Estão ainda a ser envidados esforços para alargar a cooperação global, em particular na promoção do desenvolvimento de instituições de ensino superior, através de parcerias com indústrias prioritárias e colaborações internacionais. A tónica é colocada na melhoria da cooperação em matéria de educação e investigação científica, na implementação de programas de formação conjuntos e no reforço da promoção em Portugal e nos países do Sudeste Asiático. O Governo realça a importância da aprendizagem da língua portuguesa e apoia os estudantes de Macau na continuação dos seus estudos em Portugal, a fim de criar pessoal bilingue e com competências abrangentes.

A DSEDJ já está a tomar diferentes iniciativas para apoiar o desenvolvimento curricular e melhorar a qualidade do ensino. Entre as medidas, está a introdução um quadro revisto para o currículo, centrado no reforço da aprendizagem dos alunos em áreas como a programação, a inteligência artificial e as competências de aplicação global. A DSEDJ lançou também o Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo”, impelindo os residentes a melhorar os seus conhecimentos através de formação e de certificação. Este programa tem como objectivo ligar a diversificação das indústrias em Macau e a criação de uma sociedade de aprendizagem.

Em termos de segurança escolar, a DSEDJ tem realizado inspecções ao ambiente, ao equipamento de combate a incêndios e ao armazenamento de materiais inflamáveis e apoiado as organizações de aconselhamento dos estudantes, fornecendo materiais complementares sobre saúde mental para promover um ambiente positivo nas escolas. Foram ainda oferecidas diversas formações sobre a prevenção de catástrofes e recursos sobre temas como as burlas, as drogas e o cumprimento da lei.

De um modo geral, o Governo está empenhado em melhorar o sistema de ensino, optimizar a gestão educacional, desenvolver a esquematização curricular e em promover a segurança escolar, no ano lectivo que se aproxima. In “Ponto Final” - Macau


Moçambique - Camões – Centro Cultural realiza 33.º Curso de Literaturas em Língua Portuguesa

Entre os dias 16 e 19 de Setembro, das 17h30 às 19h30, o Camões – Centro Cultural Português em Maputo vai realizar o 33º Curso de Literaturas em Língua Portuguesa.


O Curso de Literaturas é a iniciativa cultural mais antiga do Camões – Centro Cultural Português em Maputo, realizada em parceria com a Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), que em edições anteriores trouxe a Maputo autores como José Saramago e Lídia Jorge, ou, mais recentemente, José Luís Peixoto, Afonso Cruz, David Machado, Pedro Mexia, Alexandra Lucas Coelho, Joana Bértholo e Lúcia Vicente.

Pretende-se, com o Curso, promover a leitura e o sentido crítico dos leitores, bem como proporcionar um espaço de debate e contacto com escritores ou académicos convidados.

A 33.ª edição do Curso de Literaturas em Língua Portuguesa destaca o quinto centenário do nascimento de Luís Vaz de Camões, que viveu dois anos em Nampula, numa abordagem transdisciplinar.

O programa do Curso decorre durante quatro dias, em período pós-laboral, e conta geralmente com um grande número de participantes, entre estudantes, escritores e uma comunidade profissional variada. Para esta edição do Curso de Literaturas, o Camões – Centro Cultural Português em Maputo convidou o escritor português Afonso Reis Cabral.

No dia 16 de Setembro, a abrir o programa do Curso, o convidado Afonso Reis Cabral partilhará a sua reflexão sobre a obra “Sonetos de Luís de Camões, escolhidos por Eugénio de Andrade”, mostrando um lado contemporâneo e transversal da obra do poeta. O dia seguinte, 17 de Setembro, será dedicado aos temas “A dimensão biográfica da poesia de Camões” e “Camões no Ensino Secundário em Moçambique: O que é que dele se sabe hoje?”, pelos docentes da Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS) da UEM, José Camilo Manusse e Lurdes Rodrigues.

No terceiro dia do Curso, dia 18 de Setembro, será apresentada uma nova criação alusiva ao tema do Curso, encenada por Rogério Manjate, num momento que terminará com uma partilha do processo criativo do encenador. A finalizar este programa, o dia 19 de Setembro será dedicado à partilha de leituras de Luís Vaz de Camões, pelos dinamizadores e participantes do Curso.

Todas as sessões do Curso de Literaturas em Língua Portuguesa contarão com a moderação de Mélio Tinga.

A participação no 33.º Curso de Literaturas é livre, mas caso se pretenda certificado de participação no Curso, deverá ser feita uma inscrição prévia, entre 26 de Agosto e 6 de Setembro, e assistir a todas as sessões do Curso.

As inscrições poderão ser feitas na Biblioteca do Camões – Centro Cultural Português em Maputo ou nos Centros de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane e da Faculdade de Ciências da Linguagem, Comunicação e Artes da Universidade Pedagógica de Maputo. In “O País” - Moçambique


Portugal - Eólicas para autoconsumo começam “a girar” em setembro

A WindCredible, uma startup portuguesa, vai iniciar em setembro uma fase piloto das suas eólicas para autoconsumo junto de grandes empresas, como a Nestlé e a Galp


A Windcredible vai pôr a girar, num edifício da Nestlé em Portugal, uma eólica diferente: é mais pequena e destina-se especificamente ao autoconsumo. Até ao final do ano, outras dez estarão a girar em várias empresas, a testar diferentes desenhos, para perceber qual é o melhor modelo para escalar. O objetivo é produzir 50 turbinas em 2025.

Foi nas oficinas da Guarda Nacional Republicana, na Pontinha, que começaram a ser desenvolvidas as eólicas para autoconsumo que agora vão ser testadas na Nestlé, mas também, em breve, em empresas como a EDP, Galp e Prio.

O fundador da WindCredible, Filipe Reina Fernandes, capitão na unidade de intervenção da GNR, tinha como função reduzir os custos da eletricidade da sua unidade. Em parceria com António Santos, cabo especializado em eletrónica e transmissões, começou a experimentar ao fim de semana a construção de turbinas “muito arcaicas”, descreve, com material reaproveitado.

Entre experiências, foram apresentados àquele que veio a tornar-se seu sócio, Nelson Batista, especialista em aerodinâmica. “Juntou-se a nós e aportou muito conhecimento”, afirma Reina Fernandes que, apesar de não ter formação em engenharia, se considera um “engenheiro por solidariedade”. Sempre conviveu com esta realidade através do pai, que ensinava metalomecânica numa escola secundária do norte do país. Marvim Fernandes, o pai de Filipe Reina, acabou por também se juntar ao projeto. Depois de várias experiências, que decorriam desde o verão de 2022, em 2023 a empresa abriu atividade.

“A nossa proposta de valor é um produto com muita tecnologia, que seja robusto, com pouca manutenção, com uma componente de software que permita boa gestão do equipamento, permitindo perceber realmente o que está a ser produzido”, explica o fundador, em declarações ao ECO/Capital Verde.

Apesar de estar a trabalhar três segmentos de negócio em simultâneo, a “aposta principal” da WindCredible é mesmo o modelo “urban” [urbano], vocacionado para o autoconsumo. São eólicas de 1 a 3 quilowatts de capacidade, com cerca de 2 metros e meio de altura e 125 quilos. Assim, apesar de o objetivo ser instalar estas eólicas em ambiente urbano ou empresarial, “não é qualquer telhado que aguenta”, explica o fundador. Têm de ser feitos estudos de engenharia para o assegurar. Se os telhados não forem robustos o suficiente, podem ser “plantadas” no solo, com uma pequena fundação e um poste a suportarem as pás.

As pás são muito diferentes do habitual “moinho” que se avista no alto dos parques eólicos tradicionais. Formam uma espécie de espiral, fabricada em fibra de vidro em Vila Franca de Xira, na Xiraplás. Contêm ainda componentes metálicos, oriundos da Póvoa do Varzim, enquanto a parte elétrica é importada da China. “Queremos ter um fornecedor mais próximo ou vir a desenvolvê-las”, partilha o gestor.

O caminho, acredita a WindCredible, é usar estas eólicas em complementaridade com o autoconsumo solar. A empresa calcula que seja possível uma poupança de 350 euros anuais unicamente com a instalação destas turbinas, sem contar com o eventual complemento da solução solar. Neste momento, o retorno para o investimento por parte do cliente está estimado entre os cinco e os 11 anos, mas o objetivo é baixar o intervalo para entre os três e os sete anos. As cidades do litoral são aquelas onde se esperam melhores resultados.

Para já, a empresa está a avançar com três versões diferentes do modelo urbano, que deverão ser trabalhadas ao longo dos próximos meses, enquanto decorrem os respetivos testes piloto. Os empreendedores querem identificar a melhor morfologia, os melhores componentes e ainda otimizar a cadeia de produção. A Nestlé é a primeira empresa a receber um protótipo, e em setembro a instalação deverá estar concluída. A turbina vai erguer-se na cobertura do restaurante. Foi feito um estudo para aferir a resistência do local e criada uma base de apoio onde serão instalados o poste e a turbina.

As restantes nove eólicas que serão testadas deverão ser distribuídas até ao final do ano por clientes tão diferentes como a Galp, EDP, Prio, Allprocare e Porto de Lisboa. A duração prevista para os testes é de um ano, para perceber o desempenho ao longo das diferentes estações. “Algumas destas empresas têm projetos de inovação colaborativa, procuram trabalhar com startups. O objetivo é apresentar a inovação e procurar um caminho conjunto”, explica Filipe Reina, garantindo que “em Portugal não há outra empresa a produzir turbinas desta escala”.

Já no panorama europeu avistam-se potenciais concorrentes. “Existem outras empresas que estão a desenvolver este tipo de tecnologia. Não há nenhuma com repercussão mundial, mas é uma questão de tempo. Se nós não conseguirmos entregar, alguém o irá fazer. Tem de se desenvolver isto com alguma celeridade e colocá-la no mercado o quanto antes”, assevera.

A comercialização está planeada para 2025, à escala de 50 turbinas. Nessa fase, a WindCredible espera contar com distribuidores de soluções de autoconsumo que integrem estas turbinas nas respetivas soluções, permitindo que parte das 50 novas turbinas cheguem às casas dos portugueses. Mas está tudo dependente dos resultados dos pilotos.

Para completar a próxima etapa, o fundador espera angariar um financiamento de 2 milhões de euros, junto de entidades focadas em capital de risco, uma quantia que se junta aos 300.000 euros que sustentaram, até agora, o projeto. Até agora, a lista de investidores é composta pelo investidor-anjo Simão Calado, a Portugal Ventures e a Techstars. O modelo urbano de eólica deverá absorver um terço do novo financiamento, cabendo outro terço a um modelo mais potente, o farm, enquanto o restante destina-se aos recursos humanos. A equipa para já conta com cinco pessoas, mas quer acrescentar perfis técnicos especializados em áreas com o a eletrónica de potência, estruturas, mecânica e aeroespacial.

Das caravanas aos parques eólicos offshore

A empresa quer avançar em três frentes: o já falado segmento urbano, mas também o “nano” e o “farm”. O modelo urbano é de dimensão intermédia, enquanto o nano fica abaixo desta fasquia, servindo consumos tão pequenos como os de uma caravana ou pequenas casas modulares – tem uma potência de 500 watts. Há um cliente, precisamente fabricante de casas modulares, já interessado em receber esta tecnologia. Mas este segmento “não é o foco de momento”. Já foram produzidas três turbinas e também vão iniciar-se os testes, “mas em segundo plano”, comparativamente ao desenvolvimento do modelo urbano. “Quanto mais pequeno o equipamento mais difícil o breakeven, a escala é fundamental”, explica Filipe Reina.

Sobre o modelo “farm”, que tem maior capacidade e adequa-se mais à implementação em parques eólicos, numa lógica de complementaridade com as eólicas tradicionais, afastados das cidades. E são turbinas que podem chegar a “plantar-se” nos parques eólicos offshore. Mas este tipo de aplicação vai exigir mais estudos, esclarece o fundador. A ideia é alimentar unidades de aquacultura, culturas de algas marinhas ou carregamento de embarcações elétricas, anexos à produção de energia eólica offshore.

As eólicas farm deverão ter cerca de 50 metros de altura, bastante menos – cerca de um terço – da altura das eólicas de maior capacidade existentes no mercado. “São uns monstros comparados com as nossas”, afirma o fundador da Windcredible. Uma vez que as turbinas da startup conseguem produzir energia com vento que sopre a velocidades inferiores, podem ser um bom complemento às tradicionais. E têm outras vantagens: a produção de menos ruído e menos necessidade de manutenção, já que dispensam algumas das componentes das turbinas tradicionais. Deverão por isso ter menos impacto em termos ambientais, em particular na fauna.

Neste segmento, adianta Filipe Reina, os maiores concorrentes são empresas dos países nórdicos, que já estão a trabalhar com o mesmo tipo de tecnologia. Este segmento é, contudo, o que está menos avançado, ainda em fase de desenvolvimento. Ana Oliveira – Portugal in Eco



Brasil - Pablo Marçal não é o primeiro a atrair os paulistanos

A rápida ascensão política de Pablo Marçal na campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo não é novidade. Ainda sem as facilidades criadas pelas redes sociais digitais, houve um clima parecido de sensação eleitoral, em 1953, quando um deputado estadual, ex-vereador, decidiu enfrentar as forças políticas da época com uma campanha populista, na qual o símbolo era uma vassoura, para varrer a corrupção.

Outra coincidência, Jânio Quadros, o fenômeno eleitoral eleito prefeito com o voto dos bairros populares, não era paulistano mas matogrossense, quase da mesma região de Pablo Marçal, que é goiano.

Agora uma diferença, Jânio tinha sido vereador trabalhador e um tanto minucioso; como deputado combatia a corrupção e fazia a fiscalização dos gastos públicos. Em síntese, um populista de direita, com discurso conservador, preocupado com a pauta de costumes: era contra os jogos de azar, contra a prostituição e chegou a proibir o uso do biquini.

Apesar de Jânio ter frustrado seus seguidores com sua renúncia e de ser considerado um dos principais responsáveis pela instabilidade política brasileira que levou ao Golpe militar, Jânio manteve o rigor na defesa dos bens públicos e no combate à corrupção.

O retorno do populismo ao poder depois dos governos petistas de Lula e Dilma, foi com outra roupa, sem as caspas de Jânio, e o combate às corrupção ficou só nas palavras. Deixou de ser populismo de direita para se afirmar como populismo de extrema-direita, sem independência internacional, atrelado aos EUA e à política trumpista republicana, visando o desmantelamento do Estado e o enfraquecimento das regras republicanas, tudo consubstanciado na figura do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Esse novo populismo mais extremo veio acompanhado de um novo elemento também importado dos EUA, destinado a assegurar mais coesão e fidelidade entre os seguidores pertencentes às camadas mais pobres e menos instruídas: a presença religiosa invisível mas penetrante do evangelismo e suas variantes neopentecostais, capazes de obter contrôle e submissão sem um aparelho repressor visível.

É nesse quadro que surge Pablo Marçal, justamente quando havia a impressão ou esperança da sociedade civil estar se desembaraçando do populismo bolsonarista. Bolsonaro parece agora como um aprendiz de feiticeiro diante do esperto Marçal, conhecedor do funcionamento das redes sociais, capaz de se transformar em algumas semanas num dos prováveis eleitos para a prefeitura de São Paulo.

Ao mesmo tempo, o surgimento das redes sociais criou uma nova maneira de se fazer política com o investimento dos candidatos e dos partidos na publicidade digital. A intensa publicidade de Pablo nas redes levou-o à imprensa escrita e televisão, onde o candidato ganhou terreno e em pouco tempo, com promessas mirabolantes mas difíceis de realizar, alcançou os primeiros colocados Boulos e Nunes à Prefeitura de São Paulo. A vitória de um dos três primeiro-colocados dependerá, no segundo turno, da transferência de votos dos candidatos derrotados.

Até que ponto a Justiça Eleitoral pode intervir impedindo, até novembro, a participação de Pablo nas eleições municipais da maior cidade brasileira? Nos EUA, sem justiça eleitoral, o candidato Donald Trump prossegue candidato apesar de ser alvo de diversos processos. Terão algum resultado as acusações claras e precisas da candidata Tábata Amaral?

Provavelmente não. Em todo o caso, Pablo não cumpriu os 4 anos e cinco meses de prisão por furto qualificado, porque a Justiça Federal reconheceu já ter prescrito o crime. Isso lembra Paulo Roberto de Andrade, que deu o golpe do Boi Gordo, enganou mais de 30 mil investidores, mas saiu livre dos processos por prescrição do crime. Ou seja, a prescrição acaba valendo como declaração de não culpabilidade.

Se tiver assegurada sua impunidade, a presença de Pablo Marçal na campanha para a Prefeitura de São Paulo muda o quadro político por enfraquecer a imagem do governador paulista Tarcísio de Freitas e esvaziar a candidatura de Ricardo Nunes. Na hipótese de Pablo ir para o segundo turno com Boulos, é quase certo ter o voto dos bolsonaristas e ser eleito.

Se isso ocorrer, a vitória de Pablo poderá significar o fim definitivo para Bolsonaro e família, pois ficará difícil continuar a receber a totalidade dos votos dos evangélicos. Diante disso, Pablo já começa a negociar a possibilidade de receber um apoio do clã Bolsonaro, ofendendo e rejeitando o apoio de Joyce Hasselmann, chamando-a de traíra ou traiçoeira, enquanto acena aos evangélicos, declarando seu apoio à pauta de costumes por eles defendida. Rui Martins – Suíça

____________________

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Portugal - Descoberto fóssil raro de planta primitiva extinta na região do Bussaco

Pedro Correia, especialista da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) descobriu um fóssil de uma planta primitiva que existiu na região do Bussaco há cerca de 300 milhões de anos. O investigador do Centro de Geociências do Departamento de Ciências da Terra (DCT) encontrou um estróbilo fóssil de um novo género e nova espécie de planta articulada extinta - Bussacoconus zeliapereirae gen. et sp. nov. (Sphenophyllales, Polypodiopsida).


A descoberta está descrita no artigo científico “The evolutionary macromorphological novelties of Bussacoconus zeliapereirae gen. et sp. nov. (Sphenophyllales, Polypodiopsida) from the Upper Pennsylvanian of Portugal” publicado no jornal internacional Historical Biology.

Este estudo, liderado por Pedro Correia e realizado em colaboração com Artur Sá, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), permite saber como estas plantas primitivas evoluíram e se adaptaram em ambientes tropicais em mudança durante o final de uma glaciação, no fim do Período Carbonífero, há 300 milhões de anos.

As Sphenophyllales são uma ordem extinta de plantas terrestres articuladas e um grupo irmão das atuais cavalinhas da ordem Equisetales. Estas plantas primitivas eram relativamente pequenas (inferiores a um metro de altura) e produtoras de esporos que existiram durante o Devónico até ao Triássico. A classificação das esfenofilídeas baseia-se principalmente nos seus órgãos vegetativos e reprodutivos (caules, folhas e estróbilos).

«É uma descoberta espetacular, porque este tipo de frutificações de Sphenophyllales são raras no registo fóssil, o qual é muito fragmentado e pouco se conhece sobre a sua verdadeira diversidade taxonómica», revela Pedro Correia, especialista em paleobotânica.

«Os seus esporangióforos secundários e esporângios estão notavelmente bem preservados na matriz rochosa em diferentes ângulos, o que nos permitiu descrever um conjunto de caracteres diagnósticos essenciais para uma comparação próxima com outros estróbilos do mesmo grupo», esclarece o investigador, acrescentando que esta é uma descoberta cientificamente muito relevante que se vem juntar à de uma nova espécie de barata primitiva e outra nova espécie de gimnospérmica, encontradas no mesmo afloramento e recentemente publicadas.

«Estas novas descobertas científicas revelam o quanto ainda há para conhecer acerca das dinâmicas da evolução da biodiversidade no Carbonífero terminal, período desafiante da história da vida na Terra. O afloramento onde estes fósseis foram recolhidos constitui um novo Sítio de Interesse Geológico em Portugal, sendo que a relevância dos achados paleontológicos recentes lhe confere um valor científico internacional», afirma Artur Sá, coautor do artigo.

As floras do Carbonífero do Bussaco viveram em condições ambientais e climáticas confinadas a uma região intramontanhosa, na qual sistemas fluviais funcionaram como mecanismos de transporte de muitos restos vegetais e de sedimentos erodidos de rochas circundantes. A combinação de um ambiente intramontanhoso e clima restritivos favoreceu um endemismo local, razão pela qual os cientistas têm descoberto fósseis de várias novas espécies de flora e fauna com características endémicas neste tipo de ambientes.

«Estes géneros de ocorrências demonstram por que o registo fóssil terreste necessita de verdadeira criatividade e compreensão da ecologia, bem como da geologia, para ser interpretado», conclui o investigador Pedro Correia.

A nova espécie é dedicada a Zélia Pereira, especialista em Palinologia, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG). Universidade de Coimbra - Portugal


 

Guiné-Bissau - Com o apoio da ONU, o jovem Dembo Mané promove solução alternativa à insegurança alimentar

Dembo Mané integra a plataforma juvenil do PNUD e aposta na produção, secagem e venda de farinha de tilápia. A iniciativa prevê empregar centenas de jovens e abastecer o mercado de peixe fresco

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, quer rever os termos de referência do Fórum de Auscultação Juvenil para dar espaço a novos membros e melhorar a qualidade da plataforma.

O núcleo pensante e ativo da agência congrega 22 jovens e foi criado em 2022 em resposta a uma recomendação do Escritório Regional do PNUD na sequência do Youth Connect realizado em Gana em 2021.

Papel e Oportunidades

A ONU News, em Bissau, conversou com o agro empreendedor, Dembo Mané que é um dos membros do denominado “Youth Sounding Board”.

Ele é ativo em discussões sobre o papel e as oportunidades em interações promovidas pelo PNUD e outras entidades debatendo a perspectiva do grupo no seu programa de ação.

Dembo Mané participou da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, COP28, no Dubai e no Programa de Jovens Líderes Africanos. O ponto de viragem foi a ação de reforço de competências em agronegócio voltada para a piscicultura promovida pelo PNUD no Benim em 2022.

Ele conta que a ação alargou as suas perspetivas empreendedoras e desembocou na criação da sua empresa. Mané Nanque Piscicultura atua na produção, processamento e comercialização de tilápia, uma espécie de peixe ciclídeo de água doce.

Crise climática

Num contexto em que a acidificação dos mares, decorrente das alterações climáticas impacta a vida marinha e a Guiné-Bissau, o país costeiro tem o peixe desempenhando um papel-chave na dieta alimentar das populações. Dembo Mané diz querer ser aquele jovem que trabalha mais em soluções do que problemas.

“Vamos lançar um outro projeto de ris-piscicultura, cultivo do arroz e peixe num mesmo sítio com o objetivo de combater a insegurança alimentar porque não podemos falar da independência no nosso continente, se não combatermos a fome ou não tivermos soberania alimentar.”

O projeto, “Poder de Bentana” lançado em junho último é parte da empresa Mané Nanque Piscicultura criada em 2020 e que intervém na região de Bafatá, leste da Guiné-Bissau.

Num país em que os jovens são mais de metade da população, a visão do PNUD é identificar, formar e interconectar agentes de mudança tendo em vista um desenvolvimento positivo. Ana Djú é chefe do Mapeamento de Soluções do PNUD e ponto focal do Youth Sounding Board.

Perspectiva jovem

“Não só nos apoiam a incluir a perspectiva dos jovens no nosso trabalho, mas também são capacitados para quando saírem do Youth Sounding Board, para terem capacidade de serem profissionais e trabalhar noutras áreas."

Para o caso de empreendimentos como o de Mané, os desafios incluem maximizar a produção de pequena escala, incluir outras espécies e abastecer o mercado de peixe fresco.

A aposta a curto prazo será na educação e sensibilização sobre a importância e as vantagens da piscicultura e demostrar quão biológico é o processo de cultivo de peixe. ONU News – Nações Unidas  


Moçambique – Poeta Léo Cote apresenta “Instalação do corpo” em livro

No dia 29 de Agosto, a partir das 17h30, no Camões – Centro Cultural Português em Maputo, o poeta Léo Cote vai apresentar o seu novo livro de poesia aos leitores.

Intitulado Instalação do corpo, possui cerca de 100 páginas e é composto por três cadernos, designadamente, “Mitografia”, “O ciclo da ilha” e “A geografia do afecto”.

Para o editor da Gala-Gala, Pedro Pereira Lopes, citado na nota de imprensa da editora que chancela o livro, “Cote, autor de reconhecida obra, evidencia-se, com este livro maduro, lírico, narrativo e introspectivo, como uma das vozes mais densas e originais da poesia moçambicana pós-Charrua”.

Na cerimónia do dia 29, a obra literária será apresentada pelo jornalista e crítico literário Américo Pacule, e integra a colecção Biblioteca de Poesia Rui de Noronha, da Gala-Gala Edições.

Em Instalação do corpo, que sucede Campo de areia (2019), Léo Cote confessa-se em textos médios e longos, com versos circunspectos, explorando o corpo, a paixão, a poesia e a Ilha de Moçambique, com uma intensidade que ecoa as influências de Rui Knopfli, Luís Carlos Patraquim, Virgílio de Lemos ou, ainda, Sangare Okapi, lê-se na nota de imprensa.

Léo Sidónio de Jesus Cote nasceu em 1981, em Maputo. Frequentou o curso de Linguística e Literatura na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane. Foi professor primário e secundário. Actualmente, actua como revisor linguístico. Fez parte do projecto JOAC (Jovens e Amigos da Cultura), entre 2003 e 2004. Em 2004, faz-se membro co-fundador do grupo Arrabenta Xithokozelo, que passou a animar as noites de poesia e música no Modaskavalu (Teatro Avenida). Publicou os livros de poesia Carto poemas de sol a sal (2012), Poesia total (2013), Prémio Literário 10 de Novembro do Conselho Municipal Maputo 2012, Campo de areia (2019), Eroticus: onze poemas e uma quadra sobre medida (2020) e o romance Eva (2021). In “O País” - Moçambique