Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Turquia - Mas quem é que lê 'Os Lusíadas', afinal?

Sim, foi esta pergunta que fiz a mim mesmo quando estava a traduzir esta epopeia para turco, língua de um país muito distinto de Portugal, nem só pela distância, mas também pela cultura, religião, visão do mundo etc.… Disse por fim: ao menos leio para mim mesmo. Era essa a minha motivação para desafiar-me a fazer este trabalho.

Hoje, nos 500 anos de nascimento do criador desta obra, já fez três anos desde a sua publicação inédita em turco. Houve interesse? Não posso admitir que criou uma onda gigante de interessados. Mas também seria injusto dizer que não criou entusiasmo em camadas literárias. Tornei-me uma pessoa semiconhecida entre setores intelectuais e literários na Turquia, e, sobretudo no mundo da poesia, ganhei amizades muito valiosas da sociedade culta turca, como o poeta Adnan Özer (era amigo de José Saramago), ou o tradutor Ayçin Kantoglu (tradutor da Divina Comédia).

E, quando recebi novas propostas de tradução e edição, sempre ouvi elogios sobre a minha tradução de Os Lusíadas, e até fiquei surpreendido por esta ter chamado a atenção ao nível mais rico cultural da Turquia. Posso garantir que na Turquia, se alguém se descreve como apaixonado de poesia medieval europeia, obviamente já leu Os Lusíadas em turco, sem exceção.

Algum efeito mais em concreto?

Quando se fala de Portugal na Turquia, pela tamanha desinformação social que o mundo hoje em dia encara, não vem à cabeça mais palavras que não sejam: exploração, escravatura, colonialismo num aspeto destruidor e selvagem, ou Cruzadas. Mas acho que este livro deu lugar em língua turca, no mundo do pensamento em turco, a uma nova abordagem sobre a História dos Descobrimentos e a História de Portugal.

Hoje em dia todos sabemos que o colonialismo teve consequências muito más em relação aos Direitos Humanos em África, ninguém nega isso. Mas, em si, o colonialismo já existia antes de os portugueses chegarem à Índia ou ao sudeste da Ásia, através de comerciantes que falavam árabe, fossem eles árabes, persas ou turcos, em formas mais pacíficas, e contribuiu muito para estas terras se desenvolverem também, seja na área de comércio, também nas áreas de integração global e desenvolvimento agrícola. Descobrimentos geográficos ofereceram ao mundo uma visão muito diferente, que antigamente nunca existiu. Acho que precisamos de mais traduções da época em turco para expandir esta visão na Turquia.

E agora? Mais desafios?

O meu caráter sempre me ensinou a esforçar-me por coisas nunca ousadas, tal como os navegadores portugueses. Iniciei a tradução de Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, e completei já 30%. Procurei financiamento e não encontrei, e por falta de recursos tive de parar, mas criei um negócio para poder financiar-me a mim mesmo de modo a poder um dia completar também a tradução desta obra. Esperem, talvez saia num dia mais próximo do que se espera! Ibrahim Aybek – Portugal in Diário de Notícias

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Ibrahim Aybek - Tradutor turco a viver em Portugal, autor da tradução de 'Os Lusíadas'
 

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