Sam Hou Fai apresentou ontem oficialmente a sua candidatura ao cargo de Chefe do Executivo da RAEM. O antigo presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) diz que a sua futura governação vai ter por base o espírito empreendedor e a aposta na inovação. Na conferência de imprensa, Sam arriscou falar em português e garantiu que o futuro desenvolvimento da região vai oferecer oportunidades a macaenses e a falantes de língua portuguesa
Sam
Hou Fai apresentou ontem oficialmente a sua candidatura ao Cargo de Chefe de
Executivo. No Centro de Ciência, o antigo presidente do Tribunal de Última
Instância (TUI) afirmou que a sua futura governação da RAEM terá como foco o
espírito empreendedor e a inovação. Sem dar detalhes sobre a sua linha
política, Sam sublinhou a aplicação “correcta e firme” do princípio “um país,
dois sistemas” e prometeu seguir as orientações de Pequim.
“A
motivação fundamental da minha candidatura deve-se ao apelo do tempo para a
implementação plena, correcta e firme do princípio ‘um país, dois sistemas’, e
para a realização do grande empreendimento de fortalecimento do país e do
rejuvenescimento nacional; deve-se à forte missão de salvaguardar a
prosperidade e a estabilidade a longo prazo de Macau na nova era e na nova
jornada, e de assumir novas responsabilidades e obter novas conquistas para
Macau; e deve-se à aspiração inicial de criar juntos um futuro melhor para
Macau, para que a população em geral possa ter uma vida melhor”, afirmou na sua
declaração de candidatura.
Assinalando
que Macau é “uma pérola da pátria”, o candidato indicou que os êxitos
alcançados pela RAEM após a transferência de soberania são indissociáveis do
“forte e permanente apoio do país e do esforço conjunto dos vários sectores da
sociedade e de todos os cidadãos”. Sam Hou Fai continuou nos agradecimentos a
Pequim e afirmou que “a pátria é sempre o respaldo mais forte de Macau, e
quanto melhor for a pátria, melhor será Macau”.
O
candidato apontou para o objectivo de Pequim de “revitalização da nação chinesa
através da modernização do modelo chinês”, e sublinhou que Macau deve estar
intimamente ligado a esse processo. Macau “deve naturalmente acompanhar de
perto os passos do país, desenvolver as suas vantagens particulares e dar o
contributo de Macau, aproveitando o sucesso já alcançado para buscar novos
êxitos”.
“A
minha candidatura a Chefe do Executivo tem como objectivo unir todos os
sectores da sociedade para que Macau seja mais próspera e harmoniosa e para que
os cidadãos tenham uma vida melhor e feliz. Estou disposto a dedicar-me
incansavelmente a Macau e ao nosso país”, frisou.
Espírito empreendedor e aposta na inovação
A
ideia de acção governativa de Sam Hou Fai é “trabalhar com espírito
empreendedor e avançar juntos, persistir no caminho certo e apostar na
inovação”. Sob este lema, Sam salientou: “Devemos reunir consensos sociais,
permanecer vigilantes contra perigos mesmo em tempos de paz e prosperidade,
agir com espírito empreendedor, avançar com firmeza para conquistar triunfos
maiores”.
“Vamos
unir as forças de todos para promover o desenvolvimento e trabalhar juntos para
alcançar a prosperidade, de modo a que toda a população possa partilhar os
frutos do desenvolvimento económico e social e traçar um maior círculo
concêntrico de amor à pátria e a Macau”, disse na declaração de ontem,
acrescentando: “Vamos persistir sempre no caminho e na direcção correctos do
princípio ‘um país, dois sistemas’, defender com firmeza a soberania, a
segurança e os interesses de desenvolvimento do país, manter a prosperidade e a
estabilidade de Macau a longo prazo; vamos enfrentar as dificuldades,
esforçar-nos para corrigir as próprias deficiências para ficar mais forte,
aprofundar a reforma de modo persistente, abrir um novo cenário e alcançar
novos progressos”.
Na
declaração inicial, Sam Hou Fai destacou ainda quatro aspectos sobre os quais o
seu futuro Governo se irá empenhar: na eficiência da governação, no
desenvolvimento das vantagens particulares da região, no desenvolvimento
diversificado e na construção de “um belo lar”.
Oportunidades para macaenses e falantes de língua
portuguesa
Já
na parte das perguntas e respostas, Sam Hou Fai foi questionado sobre a
importância que o seu Governo irá dar à comunidade portuguesa e arriscou falar
em língua portuguesa para agradecer a questão colocada e para avisar que
responderia em cantonês. Na resposta, o candidato afirmou: “A comunidade
macaense e de falantes de língua portuguesa é muito importante”.
Sam
assinalou também que, ao longo dos últimos 25 anos da RAEM, a comunidade de
falantes de português e de macaenses tem contribuído para o desenvolvimento do
território, bem como para aquilo que considera ser “o sucesso da implementação
do princípio ‘um país, dois sistemas'”.
Sam
Hou Fai salientou também que “a RAEM dá uma consideração especial à comunidade
macaense, inclusivamente aos falantes de língua portuguesa”. Sam garantiu
também que, para ir ao encontro do papel de Macau enquanto plataforma entre a
China e os países de língua portuguesa, “o futuro desenvolvimento da região vai
oferecer oportunidades de trabalho e de vida a esta comunidade”.
O
candidato, que frequentou os cursos de Direito e de Língua e Cultura Portuguesa
na Universidade de Coimbra, deu até um exemplo dos hábitos que trouxe após
regressar de Portugal: “Na altura, não gostava de vinho tinto, achava ácido. Em
Coimbra, convivi com muitos portugueses e aprendi a gostar de vinho tinto, que
agora é um dos vinhos que mais aprecio. Também aprecio a língua portuguesa, que
me influenciou no dia-a-dia”.
Carreira inteiramente ligada à área jurídica
Sam Hou Fai,
nascido em Maio de 1962 em Zhongshan, cidade da província de Guangdong,
licenciou-se em Direito pela Universidade de Pequim, frequentou os cursos de
Direito e de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Coimbra, Portugal,
e o Curso de Introdução ao Direito, da Universidade de Macau, assim como o
primeiro Curso de Formação de Magistrados e o respectivo Curso de Reciclagem,
do Centro de Formação de Magistrados de Macau. Regressou a Macau em 1993 após
os estudos em Portugal e, em 1995, passou a integrar o primeiro grupo de
auditores judiciais de Macau enquanto trabalhava nos tribunais e no Ministério
Público. Em 1997, assumiu o cargo de juiz no Tribunal de Competência Genérica
e, em seguida, foi eleito membro do Conselho Judiciário. Em 20 de Dezembro de
1999, foi nomeado, pelo Chefe do Executivo, Presidente do Tribunal de Última
Instância da RAEM, acumulando os cargos de Presidente do Conselho dos
Magistrados Judiciais, membro da Comissão Independente Responsável pela
Indigitação dos Candidatos ao Cargo de Juiz, membro do Grupo de Trabalho sobre
a Cooperação Judiciária Inter-regional e Internacional e Presidente Honorário
da Associação de Divulgação da Lei Básica de Macau.
Candidaturas já podem ser apresentadas
Começou
o prazo de propositura dos candidatos à eleição do Chefe do Executivo. Os
interessados têm até ao dia 12 de Setembro para se candidatarem ao cargo. As
eleições estão agendadas para o dia 13 de Outubro e, para já, ainda não surgiu
mais nenhuma candidatura. A eleição deste ano é a primeira a ser realizada ao
abrigo da nova lei eleitoral para o Chefe do Executivo, em que os candidatos ao
cargo serão escrutinados pela Comissão de Defesa da Segurança do Estado, que
irá eliminar os candidatos considerados pouco patriotas. Os candidatos
excluídos não terão direito a recorrer da decisão. Em Agosto de 2019, Ho Iat
Seng, que era o único candidato, foi eleito com os votos a favor de 392 dos 400
membros da comissão eleitoral – comissão de 400 membros que escolhe o Chefe do
Executivo da RAEM. Ho termina o seu mandato a 19 de Dezembro deste ano, estando
a cerimónia de posse do novo Governo prevista para o dia 20 de Dezembro, dia em
que se assinala o 25.º aniversário da RAEM. Esta é a primeira vez que um Chefe
do Executivo não se recandidata a um segundo mandato. Tanto Edmund Ho como Chui
Sai On cumpriram dois mandatos seguidos como líderes do Governo da RAEM. André
Vinagre – Macau in “Ponto Final”
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