O Governo de Timor-Leste assegurou ontem que os preparativos para a visita do Papa estão em “mais de 90 por cento” concluídos, mas timorenses ouvidos pela Lusa temem que as restrições impostas impeçam muitos católicos de ver Francisco
“A
visita está bem organizada em 90 e tal por cento”, disse ontem à agência Lusa o
ministro da Administração Estatal timorense, Tomás Cabral, acrescentando que em
Tasi Tolo, onde vai decorrer a homilia, no dia 10 de Setembro, está tudo
concluído. No recinto, podem ver-se ainda obras, nomeadamente a instalação de
taipais para ocultar as barracas que se encontram no local.
Em
Tasi Tolo foram ainda instalados vários ecrãs gigantes, que ainda se encontram
tapados.
Segundo
o ministro, decorrem ainda preparativos por parte da igreja, em coordenação com
as autoridades dos municípios, com párocos, comandantes da polícia e directores
de saúde.
Os
timorenses têm de registar-se para se poderem deslocar para Díli durante a
visita, que decorre entre 09 e 11 de setembro, e de acordo com o ministro há
“mais de 100 mil” inscrições, num país de 1,3 milhões de habitantes e onde
quase 97% da população é católica.
Este
limite é justificado por Tomás Cabral com o facto de a área de Tasi Tolo ser de
apenas 23 hectares, mas o governante remeteu para as autoridades de segurança a
avaliação da capacidade do recinto. No entanto, disse que, como a visita de
Francisco “decorre 70% em Díli”, as pessoas poderão assistir nas ruas à
passagem do Papa.
Sobre
a organização do transporte da população para a capital timorense, o ministro
referiu que está a cargo dos municípios e que depende da capacidade de cada um.
Quanto
às medidas de segurança, Tomás Cabral referiu que o número de efetivos não será
divulgado, mas acrescentou que a operação “será feita em cooperação com o
Vaticano”, estando previsto “chegar uma equipa avançada de segurança no dia 24”
de Agosto.
Questionado
sobre se o espaço aéreo será encerrado, o ministro referiu que isso acontecerá
apenas à chegada e à partida do Papa a Timor-Leste. No entanto, a Aero Timor,
uma das companhias que operam no país, anunciou na terça-feira a suspensão de
todos os voos nos três dias da visita.
As
restrições impostas peças autoridades não agradam a Violanto Ribeiro, estudante
na Universidade Nacional de Timor-Leste, porque “apenas cerca de 120.000 estão registados”, o
que vai deixar muitos católicos timorenses “tristes” por não conseguirem ver
Francisco. “Depois há a questão dos transportes, não haverá capacidade de
trazer todos para Díli, sobretudo os que vivem nas zonas mais rurais”, lamentou,
lembrando que muitos estrangeiros também estarão em Timor-Leste, o que limita
ainda mais a participação dos timorenses nos eventos, sobretudo na missa de
Tasi Tolo.
Sobre
os preparativos, Violanto Ribeiro considera que o Governo começou tarde e que o
país “não está bem preparado” para a visita do Papa. “Estão a tapar os buracos
à pressa e desalojaram centenas de famílias das suas casas, sem qualquer plano
de realojamento”, disse, referindo-se a várias demolições de casas por ordem do
Governo, e que se juntam à intenção de “lavar a cara” à cidade no âmbito da
visita do Papa, mas o executivo desmente, argumentando que tem a ver com o
ordenamento da cidade.
Também
o jornalista Romualdo Ximenes das Neves, de 27 anos, referiu a azáfama que
começou no país após o anúncio da visita do Papa, “com a construção de
estradas, a reabilitação de igrejas ou as instalações em Tasi Tolo” e lamentou
os desalojamentos de centenas de famílias “em nome do ordenamento da cidade”.
Também ele lamenta que nem todos os timorenses tenham a possibilidade de ver
Francisco. “Alguns não conseguem registar-se, sobretudo os que estão nas
montanhas, que têm de andar 20 quilómetros”, disse.
Por
toda a capital timorense já estão espalhados cartazes com diferentes imagens do
Papa, em fotos em que surge a cumprimentar o Presidente timorense, José
Ramos-Horta, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, ou outra em conjunto, que
mostra também os líderes da Igreja em Timor-Leste.
Várias
marcas estão também a usar a imagem de Francisco para os cartazes de
publicidade colocados nas ruas, no aeroporto ou nas fachadas dos edifícios.
Menos
entusiasmado com a visita papal está Mário, que vende artesanato nas ruas,
sobretudo junto a uma unidade hoteleira perto do porto de Díli, numa zona que
vai estar encerrada por razões de segurança. “Isto vai prejudicar o negócio”,
disse. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”
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