Transamazônia tem tudo de um filme brasileiro, mas é uma coprodução de diversos países com direção de Pia Marais, nascida na África do Sul e vivendo na Alemanha. A história levou alguns anos para ser escrita, mas, como conta Pia Marais, a inspiração veio ao ler um livro no qual se contava a história de uma senhora sobrevivente da queda de um avião na floresta amazônica, onde se aproximou dos indígenas e com eles encontrou o prazer e a vontade de viver.
Para
completar o cenário e criar condições para a filmagem, Pia Marais precisou
viver um tempo no Estado do Pará, numa pequena cidade fronteiriça com uma
reserva indígena. Para fazer o filme, contou com atores profissionais, atores
brasileiros e indígenas locais. As filmagens eram muito difíceis porque a
reserva é praticamente cortada pelo meio por uma estrada, utilizada pelos
madeireiros para o transporte dos troncos das árvores por eles derrubadas, além
do calor reinante com o qual ela e os atores tiveram de aprender a conviver.
Com
relação ao desmatamento, Pia Marais observou haver, além dos madeireiros, uma
prática cotidiana da população, cujos habitantes entram diariamente na floresta
com bicicletas e motos a fim de buscar madeira para suas necessidades
familiares.
Naquela
região, Pia Marais constatou a existência de uns 30 grupos religiosos, a
maioria missões norte-americanas também interessadas na conversão dos
indígenas. Esses grupos não são registrados e funcionam de uma forma que se
poderia considerar ilegal. Como é originária da África do Sul, Pia Marais se
lembrou das missões religiosas no seu país agindo da mesma maneira. Embora os
religiosos pareçam defender as florestas, existe uma contradição: a conversão
dos indígenas para o cristianismo, deixando seu xamanismo natural, faz com que
se civilizem e deixem o meio natural onde vivem, deixando de ser seus
protetores.
A
figura central do filme é Rebeca, uma jovem loura, que escapara de um acidente
de avião na floresta, salva por um indígena é considerada filha do pastor
americano da missão evangélica local. Considerada como milagre divino, Rebeca
tem o dom de curar os doentes e isso, utilizado pelo pastor como cura divina,
traz dinheiro e garante o crescimento da igreja criada pela missão.
O
filme documenta a derrubada de árvores enormes e centenárias, mostrando como se
processa o desflorestamento da Amazônia, com choques frequentes entre os
madeireiros com os indígenas protetores das florestas onde vivem. As barragens
criadas pelos indígenas na estrada e os atos de sabotagem incendiando tratores
e motosserras são reprimidos à bala pelos madeireiros invasores e destruidores
das florestas, num combate desigual. Rui Martins – Suíça
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Rui Martins,
convidado pelo Festival
de Locarno
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