O
escritor Adelino Albano Luís venceu, esta quinta-feira, a segunda edição do
Prémio Literário Mia Couto, com o livro Estórias trazidas pela ventania
(prosa). A iniciativa é da Associação Kulemba em parceria com a Cornelder de
Moçambique.
Macossa
é um distrito como tantos outros do país. O lugar recôndito não tem
electricidade e nem água canalizada. Só da vila-sede para a cidade de Chimoio,
são umas boas cincos horas de carro. Afinal, a estrada é péssima e os 200
quilómetros de distância são uma infinidade de circunstâncias difíceis para
quem almeja chegar rápido e seguro ao destino.
Na
Escola Básica de Nhamagua, em Macossa, trabalha um professor de Português, que,
há um ano e meio, tem leccionado as 7ª, 8ª e 9ª classes. Chama-se Adelino
Albano Luís, e, segundo ficou a saber esta noite, é o grande vencedor da
segunda edição do Prémio Literário Mia Couto, no género prosa. Quando lhe foi
dada a informação, depois das 23h30, encontrava-se na cama, a tentar sonhar um
capítulo para o dia seguinte. Por isso, longe de pensar o que pretendia a
pessoa que lhe ligou, mal soube da razão, suspirou com espanto: “Meu Deus!”.
Contendo
a emoção, naquele mesmo lugar agreste, o escritor de 26 anos de idade explicou
que vencer o Prémio Literário Mia Couto significa que deve continuar a escrever
e a melhorar cada vez mais a sua prosa, os seus contos. De seguida, entre
sorrisos e silêncios repentinos, confessou: “Não contava que ganharia o prémio.
Quando a lista com os nomes dos ilustres escritores finalistas foi anunciada,
conclui que não tinha qualquer chance. Esta notícia é, para mim, uma enorme
surpresa”.
Estórias trazidas pela ventania é um livro escrito em um ano, entre os finais de 2021 e
os finais de 2022. Adelino Albano Luís lançou-se ao projecto logo depois de ter
terminado o seu primeiro livro, Cronicontos da cabeça de velho.
Estórias trazidas pela ventania é um livro que, ao longo do tempo, foi ganhando novas
páginas e narrativas até à versão final, que permitiu ao autor conquistar mais
um prémio literário. “Espero que este prémio contribua para minha afirmação
enquanto escritor e atraia mais leitores e curiosos, para que saibam o que
escrevo a ponto de vencer um prémio tão distinto quanto este”.
À
pergunta que tipo de responsabilidade a distinção pode trazer, Adelino Albano
Luís respondeu: “A única responsabilidade é o maior compromisso para comigo
mesmo. O meu pai disse-me, quando fui anunciado como finalista, que, se eu
levava a escrita nas brincadeiras, a partir daquele momento, devia levá-la a
sério”.
Tal
como o pai, quem também lê o escritor de Macossa é a irmã mais nova, Saquina
Albano Luís. É também por ela e pelos alunos de Nhamagua que o contista
escreve. “Espero que este prémio sirva de incentivo para os meus alunos daqui
de Macossa, um lugar que está a ser uma rica fonte de inspiração e de novas
histórias”.
Estórias trazidas pela ventania, conforme a acta do júri, constituído por Lourenço do
Rosário (presidente), Teresa Manjate, Ondjaki, Marcelo Panguana e Tânia Macedo,
distinguiu-se “pela riqueza temática, versatilidade linguística e uma
consistente construção dos contos”. Assim, reconhecido o seu livro, as
ventanias de Agosto levam a casa de Adelino Albano Luís 400 mil meticais, valor
fornecido pela empresa Cornelder de Moçambique, que, em parceria com a
Associação Kulemba, organiza o prémio.
Ao
género poesia, nesta segunda edição do Prémio Literário Mia Couto, o júri
decidiu não atribuir nenhum vencedor.
Adelino Albano Luís nasceu em 1998, na Cidade de Chimoio. É licenciado em
Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane. É autor da obra Cronicontos da
Cabeça do Velho (2022), prémio literário Calane da Silva, organizado pela
Alcance Editores (4ª edição- 2021). Também conquistou o primeiro lugar do
Concurso de Crónicas da primeira edição da Feira de Livros da Beira (2021). José
dos Remédios – Moçambique in “O País”
Moçambique - Adelino Albano Luís e Timóteo Papel lançam livros na Cidade de Chimoio
Sem comentários:
Enviar um comentário