A prioridade na cooperação de Portugal com Timor-Leste é a Educação e a Justiça, sobretudo a formação de juízes, tendo em conta as dezenas de milhares de processos pendentes, disse o primeiro-ministro timorense
Em
entrevista à agência Lusa a propósito dos 25 anos do referendo que levou à
independência de Timor-Leste, que se assinalam em 30 de Agosto, Xanana Gusmão
referiu que a falta de quadros na área do Direito é “o problema mais pesado” na
construção do Estado. “Há poucos juízes. Há dezenas de milhares de casos
pendentes”, disse.
No
entanto, o chefe do Governo lembrou que um dos principais problemas na formação
dos estudantes que vão para Portugal são as dificuldades com a língua
portuguesa.
“Embora
tivéssemos estabelecido o ano zero para começarmos a aprender um bocado [de
português], nunca foi eficiente”, acrescentou, referindo-se ao período em que
os alunos se adaptam antes de iniciarem os cursos. “Mesmo os atores judiciais
já com cursos, se não percebem nada em português, deviam ser cinco anos zero,
mas um ano só não dá, este é o grande problema”, considerou, sublinhando que
estão a ser tomadas medidas pelos dois governos para que os alunos que vão
estudar para Portugal estejam mais bem preparados ao nível da língua
portuguesa.
Segundo
Xanana Gusmão, há hoje “mais garantias de sucesso desta cooperação porque os
alunos já têm um teste” e são selecionados “os melhores classificados e com
domínio da língua” como é o caso de 50 jovens que partiram há duas semanas para
estudar Direito em Portugal. “Necessitamos de muito mais técnicos para
começarmos a trabalhar melhor”, referiu.
O
primeiro-ministro lembrou ainda que o Governo timorense vai ceder um novo
espaço para a Escola Portuguesa de Díli, cujas obras devem “começar no próximo
ano”.
Questionado
sobre quais as áreas prioritárias para atrair investimento português para
Timor-Leste, Xanana Gusmão referiu que não cabe ao Governo timorense definir
isso, mas sim serem os empresários a avaliar essas possibilidades. “Timor não
está em condições de dizer quais são as áreas. Tudo depende não só do
conhecimento daqueles que vêm para investir, mas também das condições”, disse.
Questionado
sobre se a fragilidade das instituições do Estado é um entrave a esse
investimento, o chefe do Governo timorense considerou que “não é exatamente a
situação das instituições que impede”, mas “a própria situação da sociedade”,
nomeadamente um “défice de quadros” e de “força de trabalho”.
Timor-Leste
e Portugal estão em negociações para assinar o Programa Estratégico de
Cooperação (PEC) para 2024-2028.
Em
Maio deste ano, a então em presidente do instituto Camões, Ana Paula Fernandes,
que foi demitida do cargo em Julho, visitou Timor-Leste para dar início às
negociações e na altura a embaixadora de Portugal em Díli, Manuela Bairros,
disse que o programa deveria ser assinado até ao final do ano.
O
PEC para o período entre 2019-2023 foi assinado em Lisboa e tinha previsto um
envelope financeiro de 70 milhões de euros para intervenções nos setores de
Consolidação do Estado de Direito e Boa Governação, Edução, Formação e Cultura
e Desenvolvimento Socioeconómico Inclusivo.
Portugal
vai estar representado nas comemorações dos 25 anos do referendo pelo
secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Nuno Sampaio. In “Ponto
Final” – Macau com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário