Um
ano de amostragens de polinizadores em Portugal, realizadas no âmbito do
projeto internacional SPRING,
permitiu descobrir várias espécies de interesse e com distribuição limitada e
reforçar a necessidade urgente de implementação de uma metodologia de amostragem
universal para monitorizar estes insetos, essenciais, por exemplo, para a
produção de alimentos.
Liderado
pelo centro alemão Helmholtz Centre for Environmental Research, em
Portugal o projeto é coordenado por uma equipa de investigadores do Centre
for Functional Ecology da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra (FCTUC) e conta com a participação do Instituto de
Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), da Associação BIOPOLIS – CIBIO, do
Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, do Centro de
Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Universidade de Lisboa, do
Município de Oeiras e da Universidade dos Açores.
O grande objetivo do SPRING é reforçar a capacidade de identificação taxonómica de insetos polinizadores dos Estados-membros em suporte à preparação do esquema de monitorização de polinizadores à escala Europeia (EU-PoMS).
No
nosso país, a monitorização de polinizadores incide em 6 locais, 5 no
continente e 1 no Arquipélago dos Açores. A implementação deste projeto piloto
permite testar as metodologias básicas de monitorização de abelhas selvagens,
borboletas e moscas-das-flores (ou sirfídeos), usando transectos padronizados,
percorridos por cientistas e voluntários, e armadilhas coloridas (também
designadas de “pan-traps”).
Segundo
Sílvia Castro, investigadora da FCTUC, «a implementação de uma metodologia de
amostragem universal à escala nacional e europeia vai seguramente levar a novas
descobertas ao nível das espécies de insetos polinizadores e fornecer dados
comparáveis de acompanhamento, até hoje inexistentes no nosso contexto».
Sónia
Ferreira, investigadora na Associação BIOPOLIS – CIBIO enfatiza que «existem
efetivamente ainda algumas espécies por descrever em Portugal e um número muito
elevado de espécies sobre as quais sabemos muito pouco relativamente à sua
biologia e ecologia».
Os
insetos colhidos nas “pan traps” ainda estão a ser processados, mas as
observações efetuadas nos transectos permitiram já encontrar várias espécies de
interesse e com distribuição limitada. Albano Soares, entomólogo do Tagis, dá
dois exemplos: «a Andrena foeniculae é um endemismo ibérico descrito
pela primeira vez em 2020, ainda com poucos registos em Portugal e Espanha, e
que já foi detetada durante os transectos. Também a espécie de abelha Lasioglossum
buccale, contava apenas com três registos até à data em Portugal, e esta monitorização
já permitiu detetá-la em novas localidades».
Por
seu lado, Conceição Conde, da Divisão de Vigilância Preventiva e Fiscalização
do Alentejo do ICNF, que está a testar a metodologia no Parque Natural da Serra
de São Mamede, com o apoio do Tagis, afirma que «a diversidade, a importância
dos insetos polinizadores e o desejo de os conhecer melhor são uma enorme
motivação para continuarmos a participar no projeto SPRING».
Nos
Açores, a monitorização está a cargo do Grupo de Biodiversidade dos Açores.
Segundo o investigador Mário Boieiro, «a monitorização nos Açores permitiu
analisar comunidades de polinizadores pouco diversas, mas com vários
endemismos, sendo este o único local de todo o projeto SPRING representativo
dos ecossistemas insulares».
Apesar
de ainda se estar a dar os primeiros passos para o futuro plano de
monitorização de polinizadores à escala europeia, «o envolvimento no projeto
SPRING é extremamente importante para Portugal, pois, para além de contribuir
com perspetivas diversas de implementação da metodologia, estimulará a formação
de jovens entomólogos, tão necessários em Portugal», finaliza Sílvia Castro.
Concluído
o primeiro ano de amostragens, os trabalhos de campo reiniciam em março de
2023, sendo que até lá irão decorrer várias ações de formação, assim como a
identificação das amostras recolhidas em 2022. Além do processo de preservação
e estudo das amostras, os participantes terão oportunidade de aprender a
distinguir espécies de abelhas e de moscas-das-flores. Universidade de
Coimbra - Portugal
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