Um projeto multidisciplinar liderado por uma investigadora do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) levou até ao espaço um conjunto de biossensores que têm como missão avaliar a saúde dos astronautas e turistas espaciais.
O
Lab-on-paper, financiado pela European Low Gravity Research Association
(ELGRA), resulta de uma colaboração que envolve múltiplos cientistas da
Universidade de Coimbra, do Instituto Superior de Engenharia do Porto e da
Universidade Nova de Lisboa, provenientes de vários grupos/centros de
investigação: BioMark@ISEP/ BioMark@UC (do Centro de Engenharia Biológica;
Akmaral Suleimenova, Goreti Sales, Manuela Frasco e Rita Cardoso), o CENIMAT
(do Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação; Afonso
Sampaio, Ana Carolina Marques, Elvira Fortunato, Guilherme Ribeiro e Rui
Igreja), o Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (João
Gabriel Silva) e o Laboratório de Sistemas Autónomos (André Dias), além de João
Pedro Coutinho, aluno do Instituto Superior de Engenharia do Porto.
Este
projeto representa o primeiro voo de uma equipa portuguesa no foguetão MASER e
abre portas à possibilidade de análise de alguns parâmetros com interesse para
a saúde no espaço. «Esta experiência inédita pretende avaliar o funcionamento
de sensores semelhantes às tiras de urina no espaço, onde a gravidade é quase
nula», explica a líder do projeto, acrescentando que recorreram a sensores de
açúcar (glucose) ou de antibióticos (tetraciclina), com base em a tecnologias
já desenvolvidas pela equipa, em 2014 e 2015.
O
lançamento, que aconteceu esta quarta-feira, 23 de novembro, foi acompanhado
pela líder do projeto, Akmaral Suleimenova, e João Gabriel Silva, Professor
Catedrático de Engenharia Informática da FCTUC, no sentido de assegurar em
Terra a operacionalidade dos biossensores, da estrutura mecânica desenvolvida
para este efeito e da comunicação entre o foguetão e a experiência, encerrados
numa caixa própria para esta viagem única. Esta caixa passou aliás por
múltiplos testes nestes últimos meses, um deles levando Akmaral Suleimenova,
Guilherme Ribeiro (Universidade Nova da Lisboa) e João Pedro Coutinho
(Instituto Superior de Engenharia do Porto) à Suécia, um mês antes desta
partida.
A
experiência foi bem-sucedida do ponto de vista da comunicação com o foguetão e
de gravação de imagem prevista, mas nem todos os resultados esperados foram
conseguidos. Vai agora seguir-se uma fase de análise detalhada de todos os
dados recolhidos. Num segundo lançamento espera-se conseguir recolher não só os
dados que não foram agora obtidos, como alargar o âmbito científico da
experiência.
«Como
no espaço não há hospitais, são necessárias formas simples de analisar o estado
de saúde dos astronautas ou dos turistas espaciais. A recolha de uma amostra de
sangue é muito difícil, pois a ausência de gravidade dificulta a transferência
de líquidos. Perante esta situação, os testes rápidos para saliva ou urina, que
mudam de cor, são os mais adequados, uma vez que basta um pouco urina/saliva
para se obter um resultado visível a olho nu. Até à data nunca foi testada a
possibilidade de usar estes sensores no espaço», revela o consórcio,
considerando que a equipa está a caminho de conseguir este feito, detendo o
consórcio nesta fase um conhecimento privilegiado para concluir no futuro este
caminho com sucesso.
O
foguetão MASER, onde viajaram os biossensores, foi construído pela Agência
Espacial Sueca e testado em lançamentos anteriores. Esta missão MASER-15
corresponde ao terceiro voo da série Suborbital Express, que inclui várias
experiências de naturezas muito diversas no mesmo voo, uma delas o
Lab-on-paper.
Com
12,6 metros de altura, este foguetão consegue transportar 300 Kg até cerca de
260 Km de altitude (a atmosfera terrestre estende-se apenas até 100 km de
altitude). Esta altitude é fundamental para que a qualidade da microgravidade a
que ficam sujeitas as experiências seja elevada, uma conquista deste foguetão
em relação a um modelo anterior.
O
foguetão foi lançado no centro espacial de Esrange, no norte da Suécia, acima
do círculo polar ártico, especializado em voos suborbitais. Este é o maior
centro europeu de lançamento civil de foguetões, onde a temperatura exterior
oscila nesta altura do ano entre os 10 e os 20 graus negativos. Universidade
de Coimbra - Portugal
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