Porque “há cada vez mais interesse” em conhecer a cultura macaense, Elisabela Larrea decidiu, em conjunto com vários membros da comunidade, criar a Associação de Estudos da Cultura Macaense. Ao Jornal Tribuna de Macau, a investigadora e presidente da associação explicou que o grupo pretende ajudar a preservar a memória macaense e fazer chegar conhecimento sobre esta cultura a mais comunidades, incluindo a chinesa. São vários os projectos que já têm pensados, incluindo a criação de um arquivo, a realização de entrevistas a macaenses para documentar as suas histórias e experiências, bem como a realização de palestras e criação de conteúdos para as redes sociais. Elisabela Larrea espera que a recém-criada associação possa colaborar com outras associações, apoiando-as no âmbito da investigação
Chama-se
Associação de Estudos da Cultura Macaense (MACRA) e foi recentemente criada com
a intenção de preservar a cultura macaense e dá-la a conhecer mais comunidades.
“A cultura macaense é uma cultura de Macau e a Gastronomia Macaense e o Teatro
em Patuá já fazem parte da Lista de Património Cultural Imaterial Nacional da
China, por isso há cada vez mais interesse em conhecê-la. Para preservar uma
cultura, as pessoas precisam de saber mais sobre ela”, disse a fundadora e
presidente da associação, Elisabela Larrea, ao Jornal Tribuna de Macau.
Na
perspectiva da investigadora macaense, as pessoas precisam de saber o que está
por detrás da comida, do teatro, do patuá – “qual é a história? quem são as
pessoas? o que faz com que aquela comida exista?”. A MACRA propõe-se, assim, a
levar respostas e informações a todos os interessados, sejam associações ou
comunidades.
Segundo
explicou, a associação pretende dar apoio às já existentes associações de
matriz macaense – como a Associação dos Macaenses, a Associação dos Jovens
Macaenses ou a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses -, mas também
chegar a outras. Essa meta será atingida através da colaboração dos membros da
associação, que vêm de diferentes áreas, sendo principalmente de macaenses que
fizeram investigação na área da cultura macaense, explicou Elisabela Larrea.
Outro
dos motivos que levou à criação da associação foi a vontade de criar um arquivo
sobre a cultura macaense. “Vamos ter artigos, estudos, vídeos de entrevistas
com macaenses ou áudio. Quando fiz o meu primeiro mestrado em 2005 foi muito
difícil encontrar informação. E gostaria de facilitar a vida a quem quer fazer
estudos nesta área ou simplesmente a quem tem interesse em conhecer a cultura
macaense. É importante haver um sítio onde se possa ir buscar informações”,
notou.
Os
projectos já pensados incluem também a criação de conteúdos. “Queremos fazer
entrevistas com macaenses, porque sabemos que o número está a diminuir e
gostaríamos de documentar todas as memórias, experiências e histórias”,
prosseguiu Elisabela Larrea. As redes sociais serão também uma das apostas da
MACRA – a ideia é partilhar informações simples sobre a cultura macaense em
formato de vídeo e publicações para chegarem a mais pessoas.
Seminários
e workshops estão também entre os planos traçados para o futuro.
“Gostaríamos de fazê-lo não só em português, mas também em cantonês. Lembro-me
de que há uns anos dei um seminário e todos os ouvintes eram chineses e estavam
realmente muito interessados. Alguns disseram que tinham amigos macaenses, mas
que não sabiam nada sobre a cultura deles. Gostaríamos de eliminar essa
barreira. A cultura macaense é uma cultura de Macau e as pessoas que vivem em
Macau e estão interessadas em Macau deviam saber mais sobre ela. Nós temos a
responsabilidade de lhes falar sobre ela”, defendeu.
Mais informações em chinês
Chegar
a diferentes comunidades é, assim, uma prioridade da MACRA. “Queremos promover
a cultura macaense a toda a gente interessada. Ou seja, não apenas à comunidade
portuguesa mas também às pessoas que falam inglês e chinês. A maioria dos estudos
e materiais estão em português ou inglês, por isso gostaríamos de incluir mais
informações em chinês. Incluir a língua chinesa não significa que excluímos a
língua portuguesa”, ressalvou. Elisabela Larrea prosseguiu dizendo, por
exemplo, que muitos descendentes de macaenses que estão noutros pontos do
globo, como Canadá ou Austrália, gostariam de aprender mais sobre a cultura
macaense, pelo que pretendem também chegar a essas comunidades.
A
equipa que se junta agora para ajudar a preservar a cultura macaense conta com
vários membros além de Elisabela Larrea. São eles Ubaldino Couto, Delfino
Gabriel, André Ritchie, Carolina Nogueira, Mariana Pereira, Miguel Rosa Duque,
Angelina Ramos e Carlos Silva. “Têm todos conhecimento sobre a cultura macaense
e estão muito entusiasmados para trabalhar. Somos uma associação nova e
respeitamos e apreciamos os esforços das outras associações macaenses já
existentes. Gostaríamos de oferecer força humana para colaborarmos, juntarmos
vozes e fazer com que o poder seja mais forte”, sublinhou. Neste sentido,
Elisabela Larrea disse que a associação espera poder contribuir “humildemente”
para um bem maior que é a preservação da cultura macaense.
De
acordo com os estatutos da associação, publicados na quarta-feira em Boletim Oficial,
além de promover a cultura macaense enquanto identidade multicultural, e
impulsionar o registo em formato textual, visual, áudio ou outro, de temas
relacionados com a comunidade, a MACRA propõe-se a prestar serviços de
consultadoria e apoio a projectos relacionados com a salvaguarda e a
estimulação do interesse pelo património cultural macaense.
Além
disso, pretende tornar-se numa “incubadora que potencie a troca de pensamentos
inovativos, e que desta forma, promova o desenvolvimento no âmbito da salvaguarda
da cultura macaense”, e reforçar – através da realização de intercâmbios
regionais e internacionais – a divulgação de Macau como cidade que manteve as
suas características multiculturais ao longo de séculos.
A
realização de actividades académicas e de investigação que visam apoiar as
associações estende-se também ao governo, caso pretenda implementar estratégias
de preservação cultural a curto, médio e a longo prazo, pode ler-se. Por fim, a
MACRA pretende também “apoiar e activamente participar em actividades de
caridade e de interesse do público” relacionados com a sua missão e com a
comunidade macaense. Catarina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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