Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Macau – Jornal Tribuna de Macau, 40 anos de grande felicidade


E de repente, a pessoa prepara-se para ir trabalhar e percebe que passaram 40 anos.

Foi realmente no Outono de 1982 que o dr Jorge Neto Valente (JNV) telefonou para o semanário Tempo, a convidar-me para almoçar e posteriormente para vir encabeçar este projecto a que chamámos de “Tribuna de Macau”.

Pouco conhecia de Macau. Anterior visita de pouco mais que uma semana para fazer dois filmes para um programa que tinha na RTP (na altura só com um canal), não me entusiasmara por aí além.

Em certa medida fora um sucesso. As cores de Macau saíram vibrantes, quiçá realçadas pelo facto de termos utilizado uma máquina de filmar, manuseada pelo saudoso Manuel Cardoso, o fotógrafo do GCS e o som ficou magnífico, pelo dedo de um homem que hoje é delegado do Ministério Público.

Já em termos da minha compreensão da realidade local, foi quase um desastre. O presidente da Assembleia Legislativa, Dr Carlos Assumpção fez o favor de me receber durante toda a tarde, entregando a presidência a Ho Yin, mas não tive direito a contraditório: o alegado contraparte nunca esteve disponível e o encontro com o Governador Almeida e Costa foi, no mínimo bizarro – recebeu-me na cama da casa de praia de Cheoc Van, alegando estar com “problemas na figadeira” (sic).

Mas voltemos a Lisboa. Fiquei surpreendido com o convite de pessoa que não conhecia pessoalmente. Comecei por amontoar razões para não aceitar, e lembro-me de ter dito que talvez pudesse indicar alguém que pudesse encabeçar tal projecto.

JNV insistiu e insistiu, só mais tarde percebi as razões.

Acabei por aceitar. Afinal a meia Lisboa que eu não conhecia, apreciava-o. A outra metade achava que era uma grande oportunidade.

Cheguei sozinho em Outubro, já encontrando montada uma infra-estrutura de off-set, bastante avançada. Em termos editoriais, o João Guedes, recém-saído da Polícia Judiciária, foi o meu primeiro colega local. No fim do mês, o jornal saiu para as bancas.

Nas conversas diárias que tive com JNV, rapidamente nos apercebemos que um jornal de Macau em Língua Portuguesa nunca podia ser “um projecto comercial”, tão reduzida era a atracção publicitária a um projecto de qualidade.

Percebemos imediatamente que era importante acrescentar-lhe um pendor cultural “lato sensu”, na defesa e vulgarização da Língua portuguesa que já então era Língua oficial, conjuntamente com a Língua Chinesa, mas também, divulgar o pendor humanista que está na tradição da cultura portuguesa, vulgarmente referido como “o modo de ser e estar dos portugueses no mundo”.

Gozaram-me quando o escrevi, mas mantive esse rumo até hoje, quase sete mil jornais depois, primeiro como semanário e depois de 1998, como jornal diário.

Do papel da Tribuna de Macau durante estas quatro décadas não me cumpre ser juiz em casa própria, mas alguma coisa fizemos de bom, segundo muitos dizem.

Os leitores de português em Macau e no resto do mundo, em especial os que se encontram nos países de Língua portuguesa, têm dado provas concretas do seu interesse, em especial depois do aparecimento da internet. Neste momento temos muitos mais fiéis leitores fora de Macau do que na Região.

Por mim, apenas me cumpre agradecer aos leitores, aos anunciantes, aos talentosos jornalistas que por aqui passaram, aos distribuidores que arrostaram com vento e chuva e aos críticos que ajudaram a fazer mais e melhor, 40 anos de grande felicidade.

E reforçar que, sem alterar a linha editorial, mantenho a mesma determinação de fazer todos os contributos para que o Português, que também é Língua Oficial da RAEM, continue a ter na Tribuna um jornal que apoie Macau e as suas gentes sem discriminação, que cultive de forma prestigiante a Língua Portuguesa e que continue a divulgar a realidade de Macau em todo o mundo que fala português.

E manter grande atenção à sempre trepidante situação socio-económico-política em Portugal, a Hong Kong e à República Popular da China, aos PLP – Países de Língua Portuguesa, aos países asiáticos que nos rodeiam e ao mundo em geral.

Afinal, Macau não vive numa “bolha” indiferente ao que se passa no resto do mundo… Rocha Diniz – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

José Rocha Diniz - Jornalista. Administrador do Jornal Tribuna de Macau


 

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