E
de repente, a pessoa prepara-se para ir trabalhar e percebe que passaram 40
anos.
Foi
realmente no Outono de 1982 que o dr Jorge Neto Valente (JNV) telefonou para o
semanário Tempo, a convidar-me para almoçar e posteriormente para vir encabeçar
este projecto a que chamámos de “Tribuna de Macau”.
Pouco
conhecia de Macau. Anterior visita de pouco mais que uma semana para fazer dois
filmes para um programa que tinha na RTP (na altura só com um canal), não me
entusiasmara por aí além.
Em
certa medida fora um sucesso. As cores de Macau saíram vibrantes, quiçá
realçadas pelo facto de termos utilizado uma máquina de filmar, manuseada pelo
saudoso Manuel Cardoso, o fotógrafo do GCS e o som ficou magnífico, pelo dedo
de um homem que hoje é delegado do Ministério Público.
Já
em termos da minha compreensão da realidade local, foi quase um desastre. O
presidente da Assembleia Legislativa, Dr Carlos Assumpção fez o favor de me
receber durante toda a tarde, entregando a presidência a Ho Yin, mas não tive
direito a contraditório: o alegado contraparte nunca esteve disponível e o
encontro com o Governador Almeida e Costa foi, no mínimo bizarro – recebeu-me
na cama da casa de praia de Cheoc Van, alegando estar com “problemas na
figadeira” (sic).
Mas
voltemos a Lisboa. Fiquei surpreendido com o convite de pessoa que não conhecia
pessoalmente. Comecei por amontoar razões para não aceitar, e lembro-me de ter
dito que talvez pudesse indicar alguém que pudesse encabeçar tal projecto.
JNV
insistiu e insistiu, só mais tarde percebi as razões.
Acabei
por aceitar. Afinal a meia Lisboa que eu não conhecia, apreciava-o. A outra
metade achava que era uma grande oportunidade.
Cheguei
sozinho em Outubro, já encontrando montada uma infra-estrutura de off-set,
bastante avançada. Em termos editoriais, o João Guedes, recém-saído da Polícia
Judiciária, foi o meu primeiro colega local. No fim do mês, o jornal saiu para
as bancas.
Nas
conversas diárias que tive com JNV, rapidamente nos apercebemos que um jornal
de Macau em Língua Portuguesa nunca podia ser “um projecto comercial”, tão
reduzida era a atracção publicitária a um projecto de qualidade.
Percebemos
imediatamente que era importante acrescentar-lhe um pendor cultural “lato
sensu”, na defesa e vulgarização da Língua portuguesa que já então era Língua
oficial, conjuntamente com a Língua Chinesa, mas também, divulgar o pendor
humanista que está na tradição da cultura portuguesa, vulgarmente referido como
“o modo de ser e estar dos portugueses no mundo”.
Gozaram-me
quando o escrevi, mas mantive esse rumo até hoje, quase sete mil jornais
depois, primeiro como semanário e depois de 1998, como jornal diário.
Do
papel da Tribuna de Macau durante estas quatro décadas não me cumpre ser juiz
em casa própria, mas alguma coisa fizemos de bom, segundo muitos dizem.
Os
leitores de português em Macau e no resto do mundo, em especial os que se
encontram nos países de Língua portuguesa, têm dado provas concretas do seu
interesse, em especial depois do aparecimento da internet. Neste momento temos
muitos mais fiéis leitores fora de Macau do que na Região.
Por
mim, apenas me cumpre agradecer aos leitores, aos anunciantes, aos talentosos
jornalistas que por aqui passaram, aos distribuidores que arrostaram com vento
e chuva e aos críticos que ajudaram a fazer mais e melhor, 40 anos de grande
felicidade.
E
reforçar que, sem alterar a linha editorial, mantenho a mesma determinação de
fazer todos os contributos para que o Português, que também é Língua Oficial da
RAEM, continue a ter na Tribuna um jornal que apoie Macau e as suas gentes sem
discriminação, que cultive de forma prestigiante a Língua Portuguesa e que
continue a divulgar a realidade de Macau em todo o mundo que fala português.
E
manter grande atenção à sempre trepidante situação socio-económico-política em
Portugal, a Hong Kong e à República Popular da China, aos PLP – Países de
Língua Portuguesa, aos países asiáticos que nos rodeiam e ao mundo em geral.
Afinal,
Macau não vive numa “bolha” indiferente ao que se passa no resto do mundo… Rocha
Diniz – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
José Rocha Diniz - Jornalista. Administrador do Jornal Tribuna de Macau
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