A obra do autor, falecido em Junho passado aos 73 anos vítima de doença prolongada, tem a chancela da LITS. “O Menino que queria ver o Mar”, um conto retirado do seu livro de 1987 “Miscelânea”, e, entretanto, traduzido, é uma obra póstuma do advogado que, durante toda a sua vida, se dedicou à escrita literária.
O
advogado e poeta António Correia, falecido este ano aos 73 anos, vítima de
doença prolongada, acaba de ter uma obra literária editada a título póstumo
pela editora local LITS – Language & IT Services. “O Menino que queria
ver o Mar” é um conto infantil que foi retirado do livro do autor “Miscelânea”,
publicado em 1987, e traduzido para chinês, conforme explicou ao Ponto Final a
proprietária da LITS, Ana João. “A LITS encontrou este conto que está inserido
no livro ‘Miscelânea’ escrito pelo autor e sugeriu-lhe uma tradução para
chinês, publicando o conto. Ele ficou entusiasmado e acompanhou o processo todo
e ainda viu o draft, mas infelizmente não viu o livro publicado”.
A
editora referiu que o conto – ilustrado pela artista Angelina Mar – é sobre “um
menino que ouve as histórias fantásticas do seu avô marinheiro e começa a
sonhar com o mar que ele nunca viu”. “Um dia encontra uma gotinha de água que
ia para o mar e ambos partilham o seu amor pelo mar longínquo. A gotinha
continua o seu caminho e o menino fica com a mãe e o avô, mas continua a sonhar
que um dia vai ver o mar”, acrescentou.
A
família de António Correia apoia a edição deste conto e também os projectos que
virão a seguir. “A esposa Teresa Portela e os filhos já receberam o livro e
estão muito contentes, tendo, inclusive, manifestado apoio à LITS para
continuar este projecto”, revelou Ana João ao nosso jornal.
“Miscelânea”,
livro de onde foi retirado o conto “O Menino que queria ver o Mar”,
reúne contos e poesia para crianças que se assumem como mensagens aos jovens em
geral e aos seus filhos em particular.
A
obra, em português e chinês, para além de poder ser adquirida junto da editora,
pode igualmente ser comprada em algumas livrarias do território ao preço de 130
patacas.
António Correia na revista de Cultura
Entretanto,
para pontuar o percurso literário de António Correia, os professores
universitários Jorge Bruxo e Lurdes Escaleira escreveram um artigo académico
sobre a obra literária do advogado, que publicaram na mais recente edição da
Revista de Cultura do Instituto Cultural (IC). “O presente artigo resulta de
pesquisa documental, tanto da obra literária como de artigos sobre essa obra e
o seu autor, bem como de elementos obtidos em diálogo com António Correia, um
poeta e prosador português com presença em Portugal, Angola, Macau e Brasil.
Pretende despojar-se esta narrativa de subjectivismos, mantendo um juízo
crítico independente, visando contribuir para um mais profundo conhecimento e
uma maior divulgação dos contos, romances e poesia de António Correia”, pode
ler-se no resumo do texto.
António
Correia foi advogado e um dos fundadores do escritório de advocacia C&C,
residiu em Macau cerca de 20 anos e regularmente se deslocava e permanecia no
território por largos períodos. Em 1991, foi nomeado membro do Conselho
Consultivo do Governo de Macau e, entre 1992 e 1996, foi deputado na Assembleia
Legislativa (AL). Saiu do território no final dos anos de 1990, mas manteve
sempre uma ligação ao mesmo onde voltou por diversas vezes.
Depois
de regressar a Portugal, o advogado desempenhou funções como
administrador-executivo da ANA – Aeroportos de Portugal, com especial destaque
para a ilha da Madeira, onde esteve intimamente ligado à ampliação do Aeroporto
Internacional do Funchal.
Em
2000, recebeu das mãos do Presidente da República, Jorge Sampaio, a Ordem de
Mérito, no grau de Grande Oficial.
O
autor tem obra literária divulgada e reconhecida, maioritariamente poesia, mas
também ficção e crónica. Publicou em Macau, Portugal, Brasil e Japão. Das mais
diversas obras publicadas por António Correia, que colaborou igualmente com a
imprensa, destacam-se, na poesia, “Amagao Meu Amor” (sonetos), Macau,
1992, “Rua Sem Nome” (romance), Lisboa,
1999, e, “Lisboa, em Haiku”, edição trilingue, em português, inglês e japonês,
Lisboa, 2015. Participou ainda em diversas antologias de poesia de onde se
destaca a última, editada em 2020 em Macau, intitulada “Rio das Pérolas”, com a
chancela da Ipsis Verbis e coordenada pelo poeta português António MR Martins.
“O
seu conceito de liberdade insere-se também numa óptica ocidental e oriental,
pois representa metaforicamente o sentido de liberdade ainda vivo na cidade de
Macau e explicitado na harmoniosa convivência entre diferentes crenças”,
escreveu a italiana Michela Graziani, em 2012, no trabalho académico “Luz e
Negrume – Para uma reflexão do sentido da vida em António Correia”. Gonçalo
Pinheiro – Macau in “Ponto
Final”
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