O
conceito da sustentabilidade e a sigla ESG tem dominado grande parte da pauta
de encontros empresariais, seminários e congressos de negócios. O discurso
garante não ser apenas mais um modismo, como tantos outros no passado, e sim um
conceito que teria vindo para ficar, até porque não teríamos escolha, se
quisermos salvar o planeta. Além disso, as gerações Y e Z estão mais atentas ao
assunto e cobrando maior responsabilidade ambiental, social e de governança das
empresas. O mercado financeiro e as
certificadoras também observam esse novo momento para oferecer vantagens e
reconhecer as companhias que demonstrarem maior comprometimento com a
sustentabilidade.
Para
maior compreensão e melhor avaliação, é importante entender a amplitude do
conceito, que pode ser olhado em três horizontes. No primeiro, no extremo,
deveríamos repensar valores da sociedade, padrões de consumo, o conceito da
obsolescência planejada, e nos perguntarmos até quando o planeta suporta esse
modelo, que é hoje o motor do crescimento. No segundo, num plano intermediário,
as empresas passam a redefinir os seus modelos de negócios, com mudanças
importantes direcionadas pela tecnologia, onde a sustentabilidade seja um vetor
relevante. Um exemplo é o da Volkswagen, que divulgou recentemente que a partir
de agora ela consideraria como concorrentes as empresas de tecnologia e não
mais as outras montadoras. Nesse horizonte estão as tecnologias disruptivas, como
a inteligência artificial, a internet das coisas, a computação quântica, o blockchain
e o metaverso, que vem permitindo inovações transformadoras em processos,
produtos e modelos. É um cardápio que permite variadas combinações e distintas
abrangências.
Num
terceiro horizonte, uma realidade mais próxima e mais difundida, estão os
esforços crescentes para desenvolver soluções e iniciativas que olhem o ESG. É
a inovação incremental que permite essa evolução. A pauta ambiental, por
exemplo, oferece inúmeras dores e oportunidades para a busca de soluções novas.
Já se criou até o termo inovabilidade para se referir à inovação que busca a
sustentabilidade. A inovação aberta, parcerias com startups, como as ESG Techs,
podem ajudar as empresas. E aqui é necessário frisar a importância da aprovação
da Lei das Startups (Lei Complementar nº 182/2021) no ano passado.
Nessa
pauta, um dos principais desafios é desenvolver tecnologias que sejam
sustentáveis, tanto economicamente viáveis quanto atraentes para o
mercado. Hitendra Patel, diretora do IXL
Center da Hult International Business School, e que no Brasil é parceiro da
Revista Amanhã em um ranking de inovação, criou o termo “greenovations” para
essas soluções, e destaca a necessidade da viabilidade financeira para o
assunto ganhar relevância entre as empresas. Patel publicou, já há quinze anos,
o livro “Greenovate! – Companies Innovating to Create a More Sustainable World”,
em que afirma que boas ideias e tecnologias não são suficientes para criar
produtos e serviços ambientalmente sustentáveis. É preciso torná-los lucrativos
e atrativos, criando um círculo virtuoso. Greenovation, segundo Patel, é o que
“cria e captura valor ao atender as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade de as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades”.
Também chama a atenção para o que chama de falsa tensão entre rentabilidade e
sustentabilidade, e critica os que dizem que inevitavelmente o lucro agride o
meio ambiente. O lucro é o que emprega e sustenta as pessoas e por isso um dos
pilares para as “greenovations”.
Patel alerta que as inovações radicais podem encontrar mercados não preparados e por isso não devem ser a principal aposta dessa pauta. De maneira geral as inovações incrementais viabilizam uma transição gradual para a economia verde, como:
● substituir recursos escassos por outros abundantes;
● ampliar a utilização de produtos recicláveis e reutilizáveis;
● aumentar a eficiência para produzir mais com menos recursos;
● criar materiais e processos ambientalmente corretos.
As
empresas precisam transformar essa pauta em cultura para que ela permeie os
novos modelos de negócios. Os setores público e privado devem trabalhar juntos
para evitar excessos na legislação, buscar eficiência nos licenciamentos,
equilíbrio e ponderação nas fiscalizações e oferecer estímulos à inovabilidade.
É a melhor maneira de transformar o que muitas vezes ainda é visto como moda,
ou como um fardo a carregar, em um compromisso espontâneo e duradouro. Carlos
Schneider – Brasil
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Carlos
Rodolfo Schneider - Bacharel e Mestre em
Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), dirige hoje o Grupo H. Carlos Schneider, que
inclui empresas como Ciser Fixadores, Ciser Automotive e Hacasa Empreendimentos
Imobiliários.
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