De
olhos postos no futuro, uma equipa de investigadores e alunos da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a desenvolver um
projeto que aposta na criação de um processo inovador para reciclar resíduos de
painéis solares, que são altamente tóxicos para o meio ambiente, através da
utilização de bactérias que os captam, permitindo a sua utilização em áreas
como a Biomedicina e a Biotecnologia.
Sendo
Portugal um país que aposta na produção de energia solar gerada através de
painéis fotovoltaicos, o “SUSTe - Development of SUStainable and integrative
bioprocess for the recovery of TellurIum-based nanoparticles from photovoltaic
wastes” foi pensado para resolver um problema ambiental que ainda não existe,
mas que há de chegar: o que fazer com tantos painéis solares em fim de vida?
A
solução proposta pela equipa liderada por Jorge Pereira, investigador do Centro
de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta
(CIEPQPF), Departamento de Engenharia Química da FCTUC, passa por, através de
um modelo de economia circular, «dar uma segunda vidas aos metais. Neste caso,
é pegarmos num metal, o telúrio, um resíduo dos painéis fotovoltaicos, e
dar-lhe um valor acrescentado. Por exemplo, se for na forma de nanopartículas
para uma aplicação biomédica terá um valor muito superior».
«A
ideia é usar bactérias que acumulam o telúrio que está nos resíduos dos painéis
de filme fino cádmio/ telúrio, para depois desenvolver uma plataforma integrada
e sustentável que possa ser usada a nível industrial», explica o investigador
da FCTUC.
Assim,
os investigadores começaram por estudar de que forma seria possível obter mais
nanopartículas e, posteriormente, desenvolveram métodos para extrai-las através
da utilização de solventes de origem biológica e que não tenham uma pegada
ambiental negativa.
É
então nesta primeira fase da produção que são utilizadas as bactérias
específicas que conseguem acumular o metal e convertê-lo em nanopartículas, mas
este processo ocorre dentro da célula, o que, segundo Jorge Pereira, «é um
problema». O facto de tal acontecer «exige que tenhamos que romper a célula
para extrair as nanopartículas e purificá-las, para depois fazer a
caracterização dessas e avaliar as suas potenciais aplicações.
Sendo
que, para poderem ser utilizadas, «as nanopartículas têm de estar puras, de
tamanho uniforme, temos que obter nanopartículas de qualidade, esse é que é o
grande desafio», considera o investigador.
Apesar
de todos os desafios que têm vindo a enfrentar, esta primeira etapa do
trabalho, «de redução de telúrio em solução para uma forma utilizável em termos
de partícula metálica», a equipa da FCTUC foi bem-sucedida. No que respeita à
segunda etapa, relacionada com a purificação destes produtos metálicos após a
atividade biológica, a equipa já desenvolveu uma metodologia eficiente para
recuperar as partículas, encontrando-se, no entanto, a testar «diferentes
estratégias de separação e purificação».
A
equipa está agora a iniciar a caraterização das nanopartículas obtidas, com o
intuito de averiguar se estas têm propriedades físicas e químicas para poderem
ser testadas como biossensores ou em outras aplicações biomédicas. Numa próxima
fase, a ideia é passar para os meios mais complexos, isto é, os verdadeiros
resíduos de painéis solares. Contudo, é necessário «encontrar uma empresa que
trabalhe na reciclagem deste tipo de equipamentos ou empresas que produzem e
façam a recuperação desses painéis», concluiu Jorge Pereira.
Este
projeto, que foi um dos vencedores da 3.ª edição do “Projetos Semente de
Investigação Científica Interdisciplinar” Santander UC, envolve, além Jorge
Pereira, Rita Branco e Pedro Farias, do CEMMPRE- Center for Mechanical
Engineering Materials and Processes, José Paixão do CFisUC – Centro de Física
da Universidade de Coimbra, Inês Costa, da Universidade de Coimbra, Helena
Ribeiro e Carmem Gonçalves do CIEPQPF. Universidade de Coimbra - Portugal
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