Uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC), em colaboração com a Universidade de Aveiro (UA) e a Konkuk University (Coreia do Sul), identificou os possíveis impactos causados por baixas concentrações de nanoplásticos em ecossistemas de água doce e concluiu que concentrações ambientalmente relevantes de nanoplásticos representam um grande risco para os níveis tróficos basais das cadeias alimentares de pequenos ribeiros.
Para
chegar a esta conclusão, a equipa do estudo, já publicado no Journal of Hazardous Materials,
realizou um ensaio em laboratório «com as menores concentrações de nanoplásticos
já testadas, até 25 μg/L [microgramas por litro], com dois tamanhos (100 e 1000
nm [nanómetros]). O objetivo foi avaliar os impactos dos nanoplásticos na
atividade (decomposição da matéria orgânica), taxa de reprodução e alterações
na comunidade de hifomicetes aquáticos [fungos]. Além disso, verificámos as
alterações na qualidade nutricional das folhas expostas aos nanoplásticos.
Essas folhas foram depois fornecidas a uma espécie de invertebrados de
ribeiros, de forma a avaliar possíveis consequências no seu comportamento
alimentar», explica Seena Sahadevan, investigadora do Centro de Ciências do Mar
e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC) e primeira autora do artigo científico.
Em
pequenos ribeiros, a decomposição da matéria orgânica é um processo crucial,
responsável pela transferência de energia e nutrientes entre os diversos níveis
tróficos da cadeia alimentar. Os hifomicetes aquáticos são os principais
mediadores desse processo. Estes fungos são capazes de modificar os componentes
recalcitrantes da folha, melhorando assim a sua palatabilidade e qualidade
nutricional para consumo de invertebrados.
Segundo
a investigadora do MARE, os resultados obtidos indicam que «a decomposição,
reprodução e a abundância dos fungos são significativamente afetadas por baixas
concentrações e tamanho dos nanoplásticos; as partículas de menor tamanho
demonstram maior toxicidade». Curiosamente, sublinha Seena Sahadevan, «apenas
os nanoplásticos de menor tamanho impactaram a qualidade nutricional das
folhas, aumentando a quantidade de ácidos gordos polinsaturados. Não houve
alterações visíveis nas taxas de alimentação dos invertebrados, porém
observámos um comportamento letárgico nos animais alimentados com folhas
expostas a concentrações mais elevadas, indicando uma possível contaminação».
Os
nanoplásticos são fragmentos de plástico com tamanho menor que 1000 nm
(nanómetros) – aproximadamente o tamanho de um vírus – usados geralmente por indústrias
farmacêuticas, de cosmética e produtos de limpeza, podendo também ser derivados
da degradação dos macroplásticos que usamos no nosso dia a dia.
A
principal preocupação com estes fragmentos plásticos nanométricos é a alta
capacidade de interação e reação com outras moléculas e organismos presentes no
ambiente. Atualmente, a grande maioria dos estudos que abordam «as
consequências dos micro e nanoplásticos na natureza são realizados em ambientes
marinhos. No entanto, é importante ressaltar que 1,15 – 2,41 milhões de
toneladas dos plásticos presentes nos oceanos são transportados através dos
rios», frisam os autores do estudo.
De
uma forma geral, este estudo fornece «novos insights sobre os grandes
riscos que os nanoplásticos apresentam para o bom funcionamento dos
ecossistemas de água doce», sintetiza Seena Sahadevan. Universidade de
Coimbra - Portugal
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