Promover
ou utilizar uma normativa ou outra para uma língua não tem que ver com as
qualidades morais pessoais dos que a promovem ou sustentam, senão com
posicionamentos político-culturais acertados ou desacertados; e eu considero
que a eleição da normativa atual do galego é muito desacertada. Quando eu
comecei a utilizar a normativa do galego internacional ou reintegrado, aludi a
que era uma questão política, igual que a minha própria, se bem considero que a
minha opção é muito mais favorável para o devir do nosso idioma.
Um
povo deve conservar o seu idioma, embora tenha um número reduzido de utentes,
mas creio que cumpre reconhecer que as suas possibilidades de supervivência
dependem em grande parte do seu número de utentes e que o que nunca deve fazer
uma norma ou uma pessoa é trabalhar para limitar a sua projeção social,
contribuindo com todos os inimigos lingüicidas da nossa língua para que
esmoreça democrática ou autoritariamente; e isto é o que estão fazendo os
propulsores do que Carlos Casares chamava, ao final dos seus dias, uma
normativa rara, e que imita ou favorece em certo modo a campanha do
secessionismo linguístico que anda a propalar Pablo Casado e os desígnios de
C’s e VOX para as línguas periféricas. Em julho de 2021, o presidente dos
populares foi instruir os maiorquinos sobre a sua própria língua, o qual não é
nada supressivo se temos em conta os seus êxitos nos estudos de direito e nos
seus másters. Dizia-lhes: “Não falais catalão, falais maiorquino, minorquino,
ibizenco, formenterano“, e prometeu defender a liberdade linguística, ou seja,
que falem os distintos dialetos para contribuir à morte do idioma catalão. O
que passa em Maiorca passa também em Valência e fora do estado espanhol, passou
na comunidade flamenca ou neerlandófona de Bélgica, seguindo o princípio:
divide e vencerás.
Pedro
Sánchez sim é consciente do valor que representa compartir uma língua extensa e
de aí que na Lei do Audiovisual se limite, polo menos num princípio a louvar as
línguas distintas do espanhol, mas reservou o apoio crematístico para o
espanhol. “Trata-se duma iniciativa transversal que promoverá a
aprendizagem, a transformação digital, o turismo, as indústrias culturais, a
ciência e empresa tendo como base a nossa língua comum, que é o espanhol”.
Se lhe deixam os soberanistas e independentistas, é evidente que o fará, porque
saber que uma língua extensa oferece muitas possibilidades num mundo
globalizado.
A
Galiza tem também uma língua extensa e útil, como dizia Castelao, a novena
língua em número de falantes e a terceira entre as que usam o alfabeto latino.
Esta língua está em perigo pola forte pressão do espanhol, que goza de toda a
proteção legal e jurídica para que possa substituir as línguas periféricas. A
melhor estratégia para resistir é identificar-nos com o nosso tronco originário
que não é outro que o galaico-português. Qualquer pessoa pode comprovar como
temos uma normativa artificial, que pretende assimilar a nossa língua ao
espanhol, utilizando uma normativa próxima a esta língua. Já dizia Filgueira
Valverde que assim os alunos aprendem o galego a partir do espanhol, ou seja,
partindo de que é uma sucursal do espanhol, que é o idioma principal.
No
hino galego aparece a nazón de Breogan, e Rosalia utiliza muitas vezes a
terminação on em vez de ión, que já comezara a sua pressão espanholizadora.
Quando eu tinha sete anos um bom dia o meu pai diz-nos: vamos á confesón,
porque isto era o que se dizia entre os que falavam galego. A normativa
isolacionista cambiou esta palavra por confesión, em vez de fazê-lo por confissão,
que seria o normal. Santificou a palavra irmán, em vez de irmão que é ainda
utilizada em várias partes da Galiza, afastando a nossa língua do tronco comum;
utilizou na escrita o ñ, só presente no espanhol, em vez do dígrafo nh; o
dígrafo espanhol ll em vez de lh; utiliza a leta x para um roto e para um
descosido, eliminando gratuitamente o j e o g, destruindo a etimologia da
língua e empobrecendo-a. A acentuação é também uma mimese da espanhola. Se
cambiássemos esta normativa e optássemos pola forma mais estendida do
galego-português estaríamos já praticamente usando o galego internacional e
dando-lhe muito mais vigor à nossa língua, mas tenho poucas esperanças porque o
poder dos normatizadores baseia-se renunciar ao diálogo e conservar o que
consideram um genial descobrimento e não querem desprender-se deste joguete. Ramom
Punhal – Galiza in “Portal Galego da Língua”
Ramom Varela Punhal - Nascido em Carvalho em 1942. Estudoi Teologia na
Universidade Pontifícia de Salamanca, e Liturgia no Instituto Superior de
Pastoral, em Madrid; Filosofia na Universidade de Pamplona e Filosofia,
Psicologia e Organização do Trabalho na Universidade de Lovaina, Bélgica.
Doutor em Filosofia pela Universidade de Santiago. Catedrático de Filosofia
reformado.
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