Algumas
pessoas consideram que cambiar a ortografia da nossa língua, assemelhando-se
mais a modalidade que se desenvolveu além Minho e não ao espanhol, seria
próprio dos que querem fugir do âmbito espanholista para cair nas garras do
lusismo, e inclusive alguns pretendem que o que cumpre é ter uma normativa
própria, independente das duas, que até o momento presente não se realizou,
salvo que se lhe chame assim ao feito de criar palavras artificiais, como
“respecto”, que nunca ninguém pronunciou nem pronuncia no nosso pais, ou
recorrer a diferencialismos artificiais derivando as palavras do nominativo
latino, como tempada, quando o normal é fazê-lo a partir do genitivo, como em
temporada, jurídico, etc. Os que assim pensam continuam sendo reféns da atração
espanholista e parece que sentem vertigem de soltar amarras mentais com a
normativa atual da nossa língua, imposta polo governo de Alianza Popular de
Galicia, nomeadamente polo conselheiro da Presidência, José Luís Barreiro
Rivas, um espanholista de pro e antinacionalista, e o Conselheiro de Cultura e reconhecido
franquista, José Filgueira Valverde, em contra do decreto de Carvalho Calero e
da tradição histórica da RAC, agora reconvertida à normativa oficialista.
Os
defensores da normativa atual pretendem defender a sua opção apoiando-se na
autoridade do magnífico literato José Luis Méndez Ferrín, merecedor do meu
apoio e admiração. Creio que os que assim obram são vítimas do efeito
psicológico de halo, que consiste na tendência a considerar como bom em todas
as ramas do saber a aquele que destaca nalguma. A isto se deve que vários
partidos da direita extrema solicitem o apoio entusiasta do prémio nóbel de
literatura Vargas Llosa, que sempre se saldou com um fracasso estrepitoso.
Méndez Ferrín defende um posicionamento político bastante isolado da realidade,
como já tive ocasião de manifestar-lho no Congresso da AELG do ano 1981, ao que
também assistiu Carvalho Calero, Manuel Maria, etc. Ferrín defendia que a revolução a faz o
proletariado, mas não soubo citar nenhum exemplo em que isto acontecesse. Ele
defende claramente a repressão contra os reintegracionistas, mas quiçá deveria
ser mais cauto, porque por vezes inventa palavras que não se compadecem com
nenhuma norma, como “decer”, que provém do infinitivo do verbo latino dico, que
é “dicere”; portanto o normal numa ortografia mais próxima ao latim, deveria
ser dicer ou dizer, como dizem os amigos portugueses e nunca dicir nem decir.
Não serei eu quem solicite sanções para ele, senão respeito, especialmente
porque, como dizia Horácio, os poetas e pintores sempre tiveram uma razoável
potestade de ousar qualquer cousa.
Não
se trata de eleger entre Espanha e Portugal senão entre Galiza e Espanha; de
desprender-nos duma legislação repressora, que impede claramente o
desenvolvimento da nossa língua, cultura, economia, etc. mas não para ser
Madeira ou as Açores, que tampouco Portugal o pretende, senão para sermos
autenticamente galegos, ao estilo de Bélgica, Chipre, Malta, Luxemburgo,
Eslovênia, … um pequeno país com personalidade própria numa Europa dos povos.
Alguém pensa que se pode normalizar o nosso idioma numa Espanha que ainda quer
limitar mais os estatutos de autonomia depois de ser invalidados de facto polos
Tribunal Constitucional irregularmente constituído ad hoc em 2010? Metamo-nos
duma vez na cabeça que os estatutos de autonomia são puras concessões graciosas
do Estado a mercê do que decidam os partidos espanholistas, especialmente os do
bipartidismo, com as muletas de C’s e Vox.
O legislativo catalão aprovou a imersão linguística para robustecer o
seu idioma em perigo de extinção, mas o TSJC determinou que têm que dar em
espanhol polo menos o 25 por cento do ensino, e isto num país no que todo o
mundo fala perfeitamente o espanhol e de que muitos catalães não sabem falar
catalão.
Esta
repressão não é nova, pois já começou em 1985 em que o delegado do governo
espanhol na Galiza, o presidente da RAC Domingo García Sabell recorreu a lei de
normalização linguística de Galiza que pretendia pôr ao mesmo nível na Galiza o
espanhol e o galego, recurso que foi falhado favoravelmente polo TC. Em base a
que? Na CE espanhola não há nada que impeça que o galego tenha a mesma
oficialidade na Galiza que o espanhol, mas isto agora é inconstitucional e não
permite tomar as medidas pertinentes para que o nosso idioma sobreviva.
O regime borbónico-franquista, corrupto e repressor dos direitos dos povos asfixia os povos com personalidade de seu, e Portugal, com um regime muito mais moderno e democrático, pode facilitar o nosso desenvolvimento, e dar-lhe projeção internacional à nossa língua, igual que a deles ainda que com características específicas, e, por conseguinte, remedando a Siniestro Total, podemos dizer: menos mal que nos queda Portugal. Ramon Punhal – Galiza in “Portal Galego da Língua”
Ramom Varela Punhal - Nascido em Carvalho em 1942. Estudoi Teologia na
Universidade Pontifícia de Salamanca, e Liturgia no Instituto Superior de
Pastoral, em Madrid; Filosofia na Universidade de Pamplona e Filosofia,
Psicologia e Organização do Trabalho na Universidade de Lovaina, Bélgica.
Doutor em Filosofia pela Universidade de Santiago. Catedrático de Filosofia
reformado.
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