Apesar da sua história milenária como língua de seu, não há muitos anos o galego era considerado em Espanha um castelhano mal falado, fala de ignorantes e incultos, fala marginal num estado que tinha como única língua oficial o castelhano
Esta
imposição de séculos esquecia não só que o galego era a língua maioritária
falada pelo povo galego, mas que possuía uma riqueza literária milenária
afogada pelo império de Castela, e que tivera uma riquíssima produção escrita
nas últimas décadas do século XIX, e sobretudo na criação literária nos
primeiros trinta anos do XX.
Mas
é um feito ignorado por muitos e negado por outros que a língua galega faz
parte da grande família lusófona, sem desdouro da sua identidade. Um vencelho
familiar conflituoso dentro e fora da Galiza. Particularmente na vizinha
Portugal; e muito mais no resto dos países lusófonos: Brasil, Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé-Príncipe e Timor-Leste.
Há
anos escrevia o filólogo Martinho Montero: “Por muito que aos galegos nos doa,
não podemos negar que os demais falantes da nossa língua nos consideram como um
mundo à parte” (em Por um Galego Extenso e Útil. Leituras da Língua de Aquém e
de Além 2009). Galiza é uma “filha pródiga” da lusofonia: “Dentro do conjunto
de países lusófonos a Galiza é, no melhor dos casos —continua Martinho—,
considerada como um membro não já de segunda categoria (como podem ser os
países africanos…) mas de terceira classe”. Até o ponto que a maioria de
portugueses nem sequer sabem que a Galiza é um país lusófono, considerando os
galegos como “espanhóis”.
Esta atitude não tem que ver, ou pouco, com motivos de índole linguística; nem com essa atmosfera coletiva de desdém dos galegos cara aos portugueses e vice-versa: estes são para muitos galegos “sujos e miseráveis”, e os galegos são para eles “grosseiros e incivis”. Senão mais bem com a nossa história de dependência com respeito à Espanha, e a sua consequência no terreno linguístico: o espanhol foi a única língua oficial da Galiza até há poucos anos; e agora, apesar de ser co-oficial com o galego, continua, de facto, a desfrutar de muitas vantagens sobre a língua nativa. Victorino Prieto – Galiza in “Portal Galego da Língua” com “Nós Diario”
Victorino Pérez Prieto - (Hospital de Órbigo-León, 1954) é professor de
universidade reformado, escritor, teólogo e pensador. Especialista em temas de
cultura galega; em particular na Geraçom "Nós" e Prisciliano. Também
em Raimon Panikkar, sobre quem fez as Teses de Doutoramento em Filosofia (USC)
e Teologia (UPSA). Colaborador habitual em jornais (atualmente em Nós Diario) e
revistas galegas (Encrucillada, Grial, A Nosa Terra...) e internacionais
(Iglesia viva, Dialogal, Theologica Xaveriana, CIRPIT review, Complessitá...).
Publicou mais de vinte livros individuais (A geraçom "Nós", Do teu
verdor cinguido, Contra a síndrome N.N.A.Unha aposta pola esperanza, Más allá
de la fragmentación de la teología el saber y la vida. Raimon Panikkar,
Prisciliano na cultura galega, Prisciliano. Um cristâo livre, La búsqueda de la
armonía en la diversidad...). E mais de cinquenta em colaboraçom (Diccionario
Enciclopedia do Pensamento Galego, O Pensamento Luso-Galaico-Brasileiro 1850-2000,
Galegos Universais...).
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