A
China tem-se revelado um parceiro comercial da maior importância para os oito
Países de Língua Portuguesa (PLP). Estas nações têm uma enorme diversidade
geográfica, uns são continentais, outros são arquipélagos e estão dispersos por
todos os continentes: na África estão cinco – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe; na Ásia está Timor-Leste; na América está o
imenso Brasil; e na Europa está Portugal. Contudo, todos têm uma característica
comum com a China, o facto de terem o oceano a uni-los e, nos últimos anos,
todos têm vindo a celebrar acordos económicos significativos com este país.
Estas características são importantes para os PLP explorarem, a seu favor, as
respectivas participações na iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.
Os
PLP usufruem de vantagens concorrenciais, se beneficiando de um melhor acesso a
financiamento, crédito e facilidades económicas da China, pelo facto de terem
estreitas relações com a cidade chinesa de Macau (de origem portuguesa). Desde
o regresso de Macau à China (criação da RAEM em Dezembro de 1999) que o governo
central do país tem vindo a promover o desenvolvimento da região, nomeadamente,
com a criação, em 2003, do Fórum para a Cooperação Económica e o Comércio entre
a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido por Fórum Macau.
A
importância do Fórum Macau foi expressamente destacada pelo presidente chinês,
Xi Jinping, e pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, nas duas reuniões realizadas
com o Governo da RAEM, em Pequim, no passado dia 21 de Dezembro. Para além da
integração de Macau no projecto da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau
(iniciativa que agrega 11 cidades, onde se incluem Macau e Hong Kong), o
Governo central reforçou o apoio a Macau com o projecto da “Zona de Cooperação
Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”, iniciativa que pretende
promover a diversificação e sustentabilidade das actividades económicas de
Macau, para “contribuir para o novo avanço da integração de Macau no
desenvolvimento” da parte continental da China. Tendo Xi Jinping referido que
“a pátria é sempre o forte apoio para a manutenção da estabilidade e da
prosperidade de Macau a longo prazo.
Deste
modo, o Governo Central vai continuar a cumprir firme e escrupulosamente o
princípio de Um País, Dois Sistemas’ e apoiar plenamente a diversificação
adequada da economia” de Macau.
As
trocas comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa foram de
US$167,565 mil milhões, entre Janeiro e Outubro de 2021, um aumento homólogo de
40,92%. As importações Chinesas dos Países de Língua Portuguesa foram de
US$115,431 mil milhões, um aumento homólogo de 35,12%, sendo as exportações da
China para os Países de Língua Portuguesa de US$52,134 mil milhões,
correspondendo a 55,69% de aumento homólogo1. Podemos constatar que a balança
comercial é, globalmente, muito favorável aos PLP, com um superavit de 63,297
mil milhões.
Os
valores das trocas comerciais da China com os PLP colocam o Brasil em primeiro
lugar, seguido de Angola, Portugal, Moçambique e com valores bem inferiores
Timor-Leste, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Desde
2009 que o Brasil tem feito da China o seu principal parceiro comercial, quer
ao nível das exportações, quer das importações, substituindo cerca de um século
de primazia dos EUA. A imensidão continental do Brasil justifica que ocupe,
isolado, o primeiro lugar nas trocas comerciais dos PLP com a China. Só as
trocas do Brasil, entre Janeiro e Outubro de 2021, totalizam US$138,005 mil
milhões, sendo a balança comercial favorável ao Brasil em US$51,774 mil
milhões. Algumas previsões internacionais, nomeadamente do FMI, assinalam as
potencialidades económicas do Brasil que, ao recuperar da grave crise
pandémica, poderá ascender da actual situação de 12.ª maior economia do mundo,
em termos de PIB, em 2020, para a 7.ª e mesmo, a médio prazo, para a 4.ª
economia do mundo. Não é assim de estranhar que o Brasil tenha sido escolhido
para integrar a plataforma de relacionamento internacional com a China – os
Brics, que partilha com a Índia, a Rússia e a África do Sul.
O
relacionamento da China com os Países Africanos de Língua Portuguesa acompanha
o sucesso da China na África, o qual pode ser explicado com base em três
principais razões: a China não é um novo parceiro, desde muito cedo que apoiou
a independência dos países africanos do colonialismo europeu; a China não impõe
a sua visão ou modelo político, como condição para apoiar o desenvolvimento dos
países africanos, ao contrário dos governos dos EUA e da Europa; por fim, e não
menos importante, os investimentos da China respondem às necessidades
estruturais dos países que pedem esse apoio, investindo, nomeadamente, em
infraestruturas essenciais ao desenvolvimento autónomo desses países. O
comércio entre a China e a África atingiu US$167,8 mil milhões nos primeiros 11
meses de 2020, sendo Angola o terceiro maior parceiro comercial da China no
continente africano.
Desde
2012 que a União Europeia deixou de ser o principal parceiro de África. A China
é um dos mais importantes parceiros comerciais deste continente tendo, em 2009,
ultrapassado os EUA e é o principal parceiro comercial da África do Sul
(absorve 2/3 do capital chinês investido na África).
Apesar
da pressão contra e ilegítima do governo dos EUA, Portugal e os Países de
Língua Portuguesa integraram a Iniciativa Chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, o
maior projecto mundial de comunicação intercontinental, de adesão voluntária e
baseado no interesse comum dos países participantes.
Durante
a visita de Xi Jinping a Portugal, em Dezembro de 2018, foram assinados 17
protocolos, entre os quais podemos destacar: a abertura de portos portugueses
ao transporte marítimo chinês para a Europa e para a África; a abertura às
novas tecnologias e ao apoio a centros de investigação científica dedicados ao
Espaço e aos Oceanos.
Dando
continuidade aos compromissos assumidos, Portugal foi o primeiro país da União
Europeia a emitir obrigações do tesouro em Renminbi (Panda Bonds, em maio de
2019, cuja emissão foi um sucesso).
É
nossa firme convicção, ser do interesse estratégico da Europa, de Portugal e de
todos os países de língua portuguesa, reforçarem as respectivas Parcerias
Estratégicas com a China (sem esquecer a Rússia e a Índia e, naturalmente, sem
hostilizar a América). É neste contexto que a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”
se transformou num importante e consistente projecto para promover um mundo
pacífico, através de uma rede de comércio ligando o Oriente e o Ocidente.
Portugal
e a Europa devem rejeitar hostilizar a China, recusando o espírito de guerra
fria ou de cruzada de nós (os “bons”, os “democratas” do Ocidente) contra os
outros (os “maus” do Oriente, o papão do comunismo e da China).
É
possível, é necessário, contar com a China para reforçar o espírito de confiança
mútua entre os países, para o sucesso urgente no triplo combate, deste mundo
globalizado, à pandemia da Covid-19, às alterações climáticas e à diminuição da
iníqua partilha de riqueza.
1
Segundo as estatísticas dos Serviços da Alfândega da China, de janeiro a
outubro de 2021,https://www.forumchinaplp.org.mo/pt/trocas-comerciais-entre-a-china-e-os-paises-de-lingua-portuguesa-de-janeiro-a-outubro-de-2021-foram-de-us167565-mil-milhoes/
Rui Lourido – Portugal in “Hoje Macau”
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