Na edição de 2021 do Índice de Percepção da Corrupção, a
Comunidade de Países de Língua Portuguesa continua a demonstrar enormes
debilidades, sendo claros os problemas de corrupção no setor público.
Dos nove países que constituem a CPLP, apenas São Tomé e
Príncipe piorou a pontuação em relação ao ano anterior, enquanto Brasil e Cabo
Verde mantiveram o mesmo valor. Todos os restantes melhoraram, ainda que não se
trate de variações significativas.
À exceção de Portugal e Cabo Verde, todos os países da
CPLP têm uma pontuação inferior a 50 – numa escala de 0 (percecionado como
muito corrupto) a 100 (muito transparente). Dos nove, apenas quatro estão
posicionados acima do meio da tabela: Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe
e Timor-Leste.
O
Índice de Percepção da Corrupção (IPC), organizado pela TI, classifica 180
países e territórios pelos níveis de percepção da corrupção no setor público,
numa escala de zero (altamente corrupta) a 100 pontos (limpa da percepção de
corrupção).
Moçambique
ganhou um ponto no Índice de Percepção da Corrupção 2021, divulgado hoje pela
organização Transparência
Internacional, o que lhe permitiu subir da 149.ª para a
147.ª posição.
Pese
embora a melhoria em relação à edição de 2020, tal não retira o país lusófono
do grupo de maiores retrocessos na África subsaariana – ao lado da República do
Congo, Maláui, Madagáscar, Libéria e Zâmbia – por acumular seis pontos perdidos
desde 2012, nota a organização.
Do
lado oposto está Angola, que subiu oito pontos desde 2014 e integra o grupo dos
países com maiores progressos.
A
organização Transparência Internacional (TI) tem alertado Moçambique para a
necessidade de haver esforços concertados para apoiar “a transparência e a
responsabilização”, caso contrário o país arrisca-se a entrar numa “espiral
descendente”, como referiu em 2021 Mokgabo Kupe, conselheira da TI para a
África Austral.
O
Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental (ONG)
moçambicana, considerou no último ano haver melhorias nas leis anticorrupção do
país desde 2004, mas deixou o alerta de que não estão a produzir efeitos,
apelando a reformas mais profundas.
A
média da África subsaariana no índice de 2021 é de 33 pontos, a mais baixa do
mundo, e 44 países classificam-se abaixo dos 50 pontos.
Quanto
aos outros países lusófonos, Portugal surge no índice na 33.ª posição com 62
pontos, seguido por Cabo Verde (39.ª posição, 58 pontos); São Tomé e Príncipe
(68.ª posição, 45 pontos); Timor-Leste (82.ª posição, 41 pontos); Angola (136.ª
posição, 29 pontos), Guiné Bissau (162.ª posição, 21 pontos) e Guiné
Equatorial, que está na 171.ª posição, com apenas 17 pontos, e merece algumas
considerações particularmente críticas no relatório anual da organização
não-governamental (ONG) sediada em Berlim.
Angola
Angola
é um dos países da África Subsariana com maiores progressos no Índice de
Percepção da Corrupção 2021, que assinala uma “melhoria significativa” do país
após a eleição do Presidente, João Lourenço.
Angola
– que no IPC 2021 tem 29 pontos, mais 7 pontos desde o índice de 2012 – regista
“uma melhoria significativa” na sequência da eleição do Presidente, João
Lourenço, em 2017, que tomou medidas significativas para quebrar a corrupção,
assinala o relatório da TI.
“As
autoridades têm levado a cabo investigações de corrupção de alto nível a
membros da antiga família dominante, entre eles, a filha do ex-presidente e
ex-chefe da companhia petrolífera estatal Sonangol, Isabel Dos Santos – exposta
pela investigação ‘Luanda Leaks’ e recentemente indicada pelo governo dos EUA
por ‘corrupção significativa’”, assinala a Transparência Internacional.
O
relatório ressalva, porém, outra circunstância: “As investigações raramente são
abertas noutros casos, levantando dúvidas sobre a existência de justiça
seletiva”.
A organização
sublinha mesmo que “num inquérito de 2019, 39 por cento dos angolanos disseram
que o Presidente estava a utilizar a luta contra a corrupção como um
instrumento contra rivais políticos e a maioria disse também que aqueles que
denunciaram corrupção correm o risco de retaliação”.
Guiné Equatorial
No
outro lado do espectro, a Guiné Equatorial estagnou no fundo do IPC com 17
pontos, e o país “continua a ser uma cleptocracia”, acusa o relatório, que
ilustra a recente acusação.
O
relatório da TI dá relevo à investigação do Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla em inglês), cujo projeto “Organized
Crime and Corruption Reporting Project” acusou no início do ano Gabriel Mbega
Obiang Lima, filho do Presidente Teodoro Obiang e ministro para as Minas e
Hidrocarbonetos da Guiné Equatorial, de “desviar para o estrangeiro milhões
provenientes de fundos estatais e subornos”.
O
texto da Transparência Internacional saúda, por outro lado, a decisão
definitiva da justiça francesa, cuja sentença em julho último determinou o
confisco de 150 milhões de euros em bens arrestados em França a outro filho do
chefe de Estado da Guiné Equatorial, o vice-presidente ‘Teodorin’ Obiang.
“Foi
feita alguma justiça no caso de outro membro da família Obiang”, assinala a
Transparência Internacional, num processo judicial em que a organização fez
parte do conjunto de entidades queixosas.
Brasil
O
relatório da Transparência Internacional faz uma referência a outro país da
lusofonia, o Brasil, na pessoa do seu Presidente, Jair Bolsonaro, que “usou a
luta contra a corrupção como bandeira de campanha para atrair um eleitorado
desiludido com a política tradicional, cansado da corrupção e a exigir o
respeito pelos direitos humanos”.
Porém,
“ao contrário das promessas”, não só a TI não regista “progressos na luta
contra a corrupção”, como assinala a tomada de “medidas antidemocráticas,
violadoras dos direitos e regressivas no combate àquele mal”, de acordo com o
texto, que não pormenoriza as mesmas.
Quanto
à África Subsariana, em termos gerais, a TI sublinha que, de acordo com os
últimos inquéritos do Afrobarómetro, a maioria da população africana acredita
que a corrupção está a aumentar, ao mesmo tempo que expressa insatisfação com a
forma como a democracia funciona.
“Isto
não é surpreendente”, assinala a TI, explicando que “a corrupção persistente
tem andado de mãos dadas com mudanças inconstitucionais de poder em várias
partes do continente”.
Noutro
domínio, também nesta região do mundo os governos impuseram restrições
desproporcionadas às liberdades civis em muitos países – muitas vezes sob o
pretexto de conter a expansão da pandemia de covid-19.
“Os
resultados do IPC 2021 devem servir como um alerta para as sociedades de toda a
África Subsariana. A magnitude dos desafios da corrupção exige as respostas
mais arrojadas de sempre”, defende a TI.
“Os
governos devem reconhecer que o progresso sustentável na luta contra a
corrupção só pode ser alcançado se forem garantidos os controlos societais e
institucionais do poder”, acrescenta.
A
pandemia de covid-19, por outro lado, “não pode ser usada como desculpa para os
governos restringirem o direito das pessoas à informação ou à liberdade de
expressão”, acrescenta a ONG. In “Mundo Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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