O
governo do Brasil vai abordar a questão do reconhecimento dos médicos que
pretendem exercer em Portugal na próxima reunião bilateral, segundo fonte do
Ministério das Relações Exteriores, confirmando que tem recebido queixas.
A
fonte oficial adiantou que o assunto vai ser colocado na agenda da próxima
reunião da subcomissão de educação e reconhecimento de graus e títulos, que
junta as diplomacias de Portugal e Brasil e deverá acontecer “em meados do
ano”.
O
assunto do reconhecimento dos médicos brasileiros regressou à agenda depois de
a Lusa ter escrito, há duas semanas, vários textos sobre os clínicos
estrangeiros que pretendem exercer em Portugal, questionando as entidades com
responsabilidades na matéria.
À
Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal, Miguel Guimarães, falando
sobre o modelo de seleção de candidatos estrangeiros a exercer medicina em
Portugal, deu como exemplo o Brasil, “o país do mundo com mais cursos de
Medicina”, cuja duração pode variar de um a seis anos.
“O
Brasil tem os piores e os melhores cursos de Medicina”, disse, comentando que
“abrir uma escola médica no Brasil é muito fácil” e que “a maior parte dos
médicos brasileiros não estão inscritos na Ordem dos Médicos brasileira”.
As
declarações de Miguel Guimarães motivaram queixas e pedidos de esclarecimento
por parte de médicos brasileiros em Portugal, confirmou à Lusa a fonte
diplomática, sublinhando que o Ministério das Relações Exteriores “não vai
polemizar publicamente com o bastonário da Ordem dos Médicos”, o que seria
“contraproducente”. Porém, não deixou de assinalar que Miguel Guimarães referiu
“indicações não verdadeiras” sobre os cursos de medicina no Brasil.
O
Itamaraty – frisou – tem prestado “continuamente atenção a episódios como este”
e relatado a Brasília “os obstáculos que identifica no livre exercício
profissional”, tendo por referência o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta
entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil.
Assinado
em 2000, o tratado inclui, no artigo 12.º, um “Estatuto de igualdade entre
portugueses e brasileiros”, que estabelece que “gozarão dos mesmos direitos e
estarão sujeitos aos mesmos deveres dos nacionais desses Estados”,
especificando, no artigo 39.º, que “os graus e títulos acadêmicos de ensino
superior concedidos por estabelecimentos para tal habilitados” serão
reconhecidos por ambas as partes, desde que tenham “uma duração mínima de três
anos” e que não haja “diferença substancial entre os conhecimentos e as
aptidões atestados pelo grau ou título em questão”.
O
Brasil vai voltar a pôr o tema na agenda, “com vista a procurar uma solução
construtiva” e, para isso, e porque a subcomissão permite “chamar órgãos
reguladores”, o Itamaraty entende que, à luz deste episódio, é de “mobilizar o
Conselho Federal de Medicina” brasileiro “para encetar um diálogo mais intenso
com a sua congênere” portuguesa, a Ordem dos Médicos.
O
CFM não se pronunciou, mas a entidade tem sido chamada a intervir em grupos
privados de mensagens frequentados por médicos brasileiros que vivem e
trabalham em Portugal.
Até
meados de dezembro passado, Portugal contava com 16967 clínicos de
nacionalidade estrangeira (28,4% do total). Segundo dados da Ordem dos Médicos,
os espanhóis lideram o grupo, com 38,9%, seguindo-se os brasileiros, com 19,9%.
Quem
se candidata a exercer medicina em Portugal tem, no mínimo, um ano civil
inteiro pela frente, para cumprir dois requisitos exigidos para a inscrição na
Ordem dos Médicos: ver reconhecido o curso/grau por qualquer uma das oito
Escolas Médicas portuguesas e demonstrar que sabe comunicar em português.
Para
os que chegam de fora da União Europeia, o reconhecimento é condicionado pelas
entidades que regulam a atividade médica, passando por uma avaliação de
conhecimentos acadêmicos, clínicos e linguísticos, assegurados, primeiro, pelas
Escolas Médicas portuguesas e, depois, pela Ordem dos Médicos, com uma prova de
comunicação médica.
Portugal
aprovou, nos últimos três anos, 42,2% dos pedidos de candidatos a médicos
oriundos de países estrangeiros, três quartos dos quais brasileiros, segundo
dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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