O Canadá anunciou um acordo de princípio no valor de 40 mil milhões de dólares canadianos para compensar crianças indígenas e as suas famílias que tenham sido discriminadas pelo Estado
Trata-se
do “maior acordo de compensação na História canadiana”, disse o ministro para as
Relações Coroa-Indígenas, Marc Miller, numa conferência de imprensa em vídeo na
terça-feira (4).
O
acordo de princípio, que será finalizado nos próximos meses, visa pôr fim a
anos de litígio sobre o montante de dinheiro que o governo federal atribui aos
serviços de proteção infantil para as Primeiras Nações, em comparação com os
oferecidos às crianças não-indígenas. Metade do dinheiro será utilizado para
compensar as crianças nativas retiradas dos cuidados dos pais e colocadas no
sistema de proteção infantil e a outra metade será utilizada para reformar o
sistema nos próximos cinco anos.
“Nenhum
montante pode compensar o trauma sofrido pelo povo”, observou a ministra dos
Serviços Aborígenes, Patty Hadju.
Mas
o acordo “reconhece aos sobreviventes e às suas famílias a dor e os danos causados
pela discriminação no financiamento e nos serviços”, acrescentou, citada pela
agência de notícias France-Presse.
O
acordo tinha sido anunciado pelo primeiro-ministro, Justin Trudeau, em meados
de dezembro.
Em
2019, o Tribunal dos Direitos Humanos do Canadá ordenou ao governo que pagasse
40000 dólares canadianos (quase 28000 euros) em compensação a cada uma das milhares
de crianças das Primeiras Nações retiradas da custódia dos pais e colocadas no
sistema de proteção infantil após 2006. A decisão foi aprovada em setembro passado.
No final de outubro, o governo pediu ao Tribunal Federal de Recurso que anulasse
esta decisão histórica, dizendo que a compensação era necessária, mas que
preferia trabalhar os pormenores num acordo negociado.
O
montante exato a ser pago a cada pessoa, assim como os termos e o calendário, serão
determinados em consultas entre peritos e a maior organização indígena do país,
a Assembleia das Primeiras Nações, disseram advogados dos queixosos.
“Este
é um acordo histórico e esperamos que seja um ponto de viragem no trabalho de
reconciliação deste país”, disse Robert Kugler, um dos advogados.
Kugler
disse que o montante “sublinha a gravidade dos danos sofridos e dará apoio financeiro
para permitir que as vítimas melhorem as suas vidas”.
O
anúncio deste acordo surge no meio da reflexão do país sobre os danos causados aos
Inuit, Métis ou membros das Primeiras Nações. Desde maio passado, foram
encontradas mais de mil sepulturas anónimas nos locais de antigas escolas
residenciais católicas para indígenas, lançando luz sobre um capítulo escuro da
História do Canadá e da sua política de assimilação forçada, considerada como
um “genocídio cultural” desde 2015. Desde finais do século XIX até aos anos
1990, cerca de 150 mil crianças nativas foram colocadas à força em 139 escolas residenciais
atualmente fechadas, onde foram isoladas das suas famílias, língua e cultura.
Milhares dessas crianças nunca regressaram para junto da família. A Igreja Católica
no Canadá emitiu um pedido formal de desculpas aos povos indígenas em setembro.
Em outubro, o Vaticano anunciou a intenção do Papa Francisco de visitar o
Canadá para apoiar os esforços de reconciliação com os povos indígenas.
Na
altura, um dos chefes das Primeiras Nações, Cadmus Delorme, disse que uma visita
papal seria um passo rumo à reconciliação, mas sublinhou que teria de ser acompanhada
de um pedido de desculpas da igreja para validar a dor de muitas das vítimas
ainda vivas.
“É
necessário um pedido de desculpas e a reconstrução de um relacionamento
seguiria o pedido de desculpas”, disse então. In “Milénio
Stadium” - Canadá
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