São
Paulo – A se levar em conta as projeções de organismos internacionais, a
economia mundial, que registrou crescimento em 2021, deverá passar por um ritmo
menos intenso em 2022, ainda que os desdobramentos da pandemia de coronavírus
(covid-19) sejam imprevisíveis, diante da chegada da variante ômicron. O Fundo
Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 4,9% para a economia
mundial em 2022, depois de registrar uma alta de 5,9% em 2021, enquanto o Banco
Mundial se mostra menos otimista e estima uma alta de 4,3% em 2022 contra 5,6%
em 2021.
Para
a economia brasileira, o FMI prevê crescimento de apenas 1,5% no Produto
Interno Bruto (PIB). Seja como for, como o Brasil depende fundamentalmente do
que ocorre com a economia mundial, acredita-se que o País poderá alcançar uma
taxa de crescimento mais significativa, especialmente se não houver uma
desaceleração na economia chinesa e as cotações das matérias-primas (petróleo e
grãos) continuarem em alta no mercado internacional.
Isso
significa que a corrente de comércio no Brasil continuará dependente da procura
por commodities, já que o País, a exemplo de quase toda América Latina,
passa por uma fase de desindustrialização, em razão do pouco desenvolvimento de
novas tecnologias, que tornam seus produtos poucos competitivos. Para piorar,
há uma tendência de fortalecimento dos grandes acordos comerciais, que
basicamente defendem interesses regionais, o que traz dificuldades para os
países latino-americanos, com exceção talvez do México que está, praticamente,
integrado ao mercado norte-americano.
Aparentemente,
não será no atual governo que o País irá criar condições para combater o
chamado custo Brasil, expressão que engloba um conjunto de dificuldades
estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que atrapalham o
crescimento, influenciam negativamente o ambiente de negócios, encarecem os
preços dos produtos nacionais e custos de logística, além de comprometer
investimentos e contribuir para uma excessiva carga tributária. Segundo o
Portal da Indústria, a estimativa é que o custo Brasil retire R$ 1,5 trilhão
por ano das empresas instaladas no País, representando 20,5% do PIB.
Para
combater esse descalabro, o governo federal, com o apoio do Congresso Nacional,
teria de colocar em prática uma efetiva reforma tributária, reduzir a
burocracia no comércio exterior, ampliar os atuais acordos comerciais e buscar
outros de grande alcance, além de estimular a aplicação de investimentos em
inovação.
Mas
o que se vê é exatamente o contrário, como mostra a reação da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) à publicação em dezembro pela Receita Federal da portaria
nº 100/2021, que desativa seu sistema de dados estatísticos sobre operações
aduaneiras, o chamado Siscori. Como se sabe, o Siscori é considerado uma
peça-chave para a obtenção de informações mais detalhadas sobre as importações
brasileiras, tais como preços de operação, unidades de desembaraço, dentre
outras.
Segundo
nota da CNI, o sistema é fundamental para o combate a importações de produtos
que não cumprem requisitos regulatórios importantes para a proteção da saúde
pública e do meio ambiente, de produtos subfaturados ou de produtos que se
valem de fraudes diversas, tais como falsa declaração de origem ou de
classificação fiscal. Em outras palavras: constitui um importante aliado do
setor privado para o monitoramento e identificação de operações irregulares. É
óbvio que a retirada do sistema do ar acarretará grandes riscos e dificuldades
no combate às importações ilegais e fraudulentas, como prevê a CNI.
Ainda
segundo o comunicado da CNI, as informações disponibilizadas pelo Siscori são
únicas, pois diferentes daquelas que se encontram no sistema Comex Stat. Portanto,
são sistemas que se complementam. Diante disso, o que se espera é que a decisão
da Receita Federal seja reavaliada e que o sistema Siscori volte a ser
disponibilizado para todos.
Liana Martinelli – Brasil
___________________________
Liana
Lourenço Martinelli, advogada, pós-graduada em Gestão de Negócios
e Comércio Internacional, é gerente de Governança Ambiental, Social e
Corporativa (ESG) do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística
Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional.
E-mail: lianalourenco@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário