Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 31 de julho de 2024

CPLP - Destaca abolição da pena de morte nos 10 anos de adesão da Guiné Equatorial

O secretário-executivo da CPLP destacou ontem, dia em que a Guiné Equatorial celebrou 10 anos como Estado-membro da organização, o passo dado pelo país de abolir a pena de morte em 2022, embora ainda não totalmente

“Eu só posso referir-me aos compromissos que a Guiné Equatorial fez com a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] aquando da sua adesão, em 2014”, afirmou Zacarias da Costa, e neste contexto “é importante assinalar a abolição da pena de morte”. Mas, admitiu, quando questionado sobre o assunto, que o processo legal para a abolição da pena de morte não está concluído. “Não é total, porque é preciso ainda fazer uma alteração à Constituição”, reconheceu, em declarações à Lusa a propósito dos 10 anos de adesão da Guiné Equatorial à CPLP.

Porém, fazer aquela alteração constitucional também “não é um grande problema”, porque, na Guiné Equatorial “não será necessário recorrer a um referendo”, basta que as duas Câmaras (Senado e Câmara dos Deputados) possam alterar a Constituição através de uma votação. E “o mais importante” é que a abolição da pena de morte já tenha sido consagrada no Código Penal. A CPLP “está satisfeita” por o país ter dado aquele passo, adiantou.

Já em relação a relatos e acusações de organizações internacionais sobre violações de direitos humanos na Guiné Equatorial, Zacarias da Costa disse que “não compete à CPLP” pronunciar-se sobre isso. “O mais importante é reforçarmos os mecanismos nacionais que existem”, de monitoramento das recomendações internacionais “por forma a que situações de violação de direitos humanos possam diminuir”, defendeu.

O secretário-executivo destacou “os esforços de capacitação desenvolvidos em todos os setores da atuação da CPLP, conducentes a maior integração [da Guiné Equatorial] nos trabalhos da organização”, nestes 10 anos.

Além dos esforços feitos pela Guiné Equatorial para tornar a língua portuguesa, já oficial no país, mais falada, citando como exemplo a inclusão do português como opção curricular, não apenas em estudos superiores e a emissão de programação em língua portuguesa na televisão pública do país.

Já sobre o que a Guiné Equatorial deu à CPLP nesta década como Estado-membro, o secretário-executivo disse que o país “teve um profundo impacto na história” da comunidade, porque “ampliou a sua configuração geográfica, ofereceu novos caminhos para a difusão da língua [portuguesa] e proporcionou renovadas perspetivas de relacionamento com um Estado que era observador associado há vários anos, abrindo novos caminhos para um reforço da cooperação e da concertação deste país com a CPLP”.

Além disso, frisou, reforçou a CPLP “enquanto organização internacional que prossegue o desenvolvimento e a prosperidade dos seus membros”.

Ontem, em Malabo, capital da Guiné Equatorial, celebraram-se os 10 anos da adesão daquele Estado-membro, com uma sessão solene, que conta com as presenças e os discursos do Presidente do país, Obiang Nguema Mbasogo, e do seu homólogo de São Tomé e Príncipe, agora também presidente da CPLP, Carlos Vila Nova.

A entrada da Guiné Equatorial, país falante de espanhol, como estado-membro foi aprovada na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP que decorreu em 23 de Julho de 2014 em Díli, Timor-Leste. Desde a sua independência de Espanha em 1968, a Guiné Equatorial é considerada pelas organizações de defesa dos direitos humanos como um dos países mais corruptos e repressivos do mundo.

Teodoro Obiang Nguema, de 82 anos, governa o país com “mão de ferro” desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macías num golpe de Estado, sendo o Presidente que está há mais tempo no poder no mundo. In “Ponto Final” – Macau com “Lusa”


Moçambique - Conferência promove mais de 50 bolsas de contactos entre China e PALOP

A Conferência de Promoção de Investimento de Macau-Hengqin 2024, realizada em Moçambique, reuniu mais de 120 empresários e especialistas, promovendo mais de 50 sessões de bolsas de contactos. O objectivo foi de explorar sinergias económicas e comerciais, reafirmando Macau como uma plataforma estratégica para conectar a China e os países lusófonos. O encontro visa inserir Moçambique no dinamismo comercial da região de Guangdong, abrindo novas possibilidades para o desenvolvimento sustentável e a inovação das duas regiões


Macau e Hengqin realizaram recentemente um evento inovador nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). A Conferência de Promoção de Investimento de Macau-Hengqin 2024 ocorreu na segunda-feira, dia 29 de Julho, em Moçambique, e promoveu mais de 50 sessões de bolsas de contactos entre as regiões. Este evento destaca-se como uma “plataforma valiosa para a troca de experiências e para a busca de novas oportunidades de negócios”, descreveu a entidade co-organizadora, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM). É a primeira vez que uma delegação conjunta de Macau e Hengqin se deslocam aos PALOP, com o objectivo de realizar a captação conjunta de investimentos para a região.

Durante esta conferência, mais de 120 empresários e representantes de diferentes sectores industriais e comerciais reuniram-se para discutir a colaboração económica entre Macau, Hengqin e Moçambique. O evento centrou-se na exploração de recursos, na sinergia industrial e na cooperação comercial, reflectindo a intenção de fortalecer o desenvolvimento conjunto de Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin. A criação das bolsas de contacto conferiu uma grande dinâmica ao evento, proporcionando oportunidades concretas de interação entre as empresas participantes, referiu o IPIM.

O desenvolvimento conjunto de Macau e Hengqin oferece um palco promissor para investidores internacionais, especialmente num momento em que a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e a construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau estão em destaque. A Conselheira da Sessão Económica e Comercial da Embaixada da China em Moçambique, Xu Weili, enfatizou a importância de explorar as oportunidades de negócios nesta colaboração, que promete trazer benefícios mútuos, ao alinhar os conhecimentos e os recursos de ambas as regiões.

O director-geral da APIEX, Gil da Conceição Bires, sublinhou que, “enquanto Macau e Hengqin apresentam um ambiente de negócios avançado, Moçambique oferece recursos agrícolas ricos e uma localização marítima estratégica. Esta combinação tem o potencial de ser extremamente vantajosa para ambos os lados, com perspectivas de reforçar a capacidade inovadora das empresas e estimular a cooperação económica”.

A conferência também enfatizou a importância do “emparelhamento” e do intercâmbio presencial entre empresas chinesas e moçambicanas. Sessões de contacto permitiram a troca de experiências e a identificação de potenciais parcerias, destacando a capacidade de Macau e Hengqin de servir como plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Esta abordagem prática e orientada para resultados “é fundamental” para estabelecer um relacionamento comercial sólido e sustentável, segundo os organizadores.

Além disso, durante a estadia em Moçambique, a delegação explorou a situação industrial local através de visitas a fábricas e zonas industriais, adquirindo uma compreensão aprofundada das políticas de investimento, do ambiente de negócios e o estado da economia. A intenção é não apenas tirar partido dos recursos dos PALOP, mas também alavancar as vantagens das empresas chinesas em temas como capital, tecnologia e gestão para esses países.

Segundo o IPIM, a Conferência de Promoção de Investimento em Moçambique representa um marco único na procura de investimentos por parte de Macau e Hengqin. Ao alargar o círculo de cooperação ultramarina e posicionar Macau como uma plataforma chave para a internacionalização, espera-se que as regiões envolvidas consigam criar um ambiente de negócios inovador, dinâmico e competitivo, alinhado com os padrões internacionais. Elói Carvalho – Macau in “Ponto Final”


China - Fundo de Cooperação com os Países de Língua Portuguesa já investiu 527 milhões de euros

O Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China – Países de Língua Portuguesa já investiu 527 milhões de euros em 11 projectos em Portugal, Brasil, Angola, Moçambique e Macau, declarou ontem o secretário-geral adjunto do Secretariado Permanente do Fórum de Macau. “É o primeiro fundo de investimento de capital chinês especializado em investimentos nos Países de Língua Portuguesa e tem garantido apoio de financiamento para as empresas da China [incluindo Macau] e dos países lusófonos, em prol do investimento, cooperação e mútuo desenvolvimento da China e destes países”, explicou o secretário-geral adjunto, Casimiro de Jesus Pinto na sessão de “Promoção, Intercâmbio e Receção do Secretariado Permanente do Fórum de Macau”, em Lisboa. Segundo Casimiro de Jesus Pinto, os projectos financiados são “em sectores como o das infraestruturas, as novas energias, a agricultura e o sector financeiro”.


Este fundo de cooperação foi criado em Junho de 2013 pelo Banco de Desenvolvimento da China e o Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Macau, sob a proposta do Fórum de Macau, indicou.

O fundo tem um capital total de mil milhões de dólares norte-americanos, e é de gestão exclusiva do Fundo de Desenvolvimento China-África (CADFund), “sem direito de supervisão do Fórum de Macau”, disse. Tem como accionistas o Banco de Desenvolvimento da China, o Fundo de Desenvolvimento China-África e o Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Macau.

Os seus princípios de investimento são: Promoção da cooperação de investimento entre a China e os Países de Língua PortuguesaSeguir o princípio de preservação do capital com retorno moderado, expansão gradual de investimento a mais paísesSeguir os princípios de operação do mercado e de rigorosa prevenção e controlo de riscos, salientou. “Os meios de investimento são em participações, através do investimento directo em acções ordinárias de empresas ou projetos, e na participação em projetos através de formas variadas, tais como acções preferenciais e financiamento de dívidas, desempenhar ativamente o papel de consultoria e de ligação”, concluiu. In “Ponto Final” - Macau


terça-feira, 30 de julho de 2024

Portugal - Associação europeia financia projeto do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde sobre pré-leucemia aguda

Financiamento de 240 mil euros permitirá ao investigador Delfim Duarte estudar o papel do ferro na formação e diferenciação anormal das células de sangue (hematopoiese clonal)


A Associação Europeia de Hematologia – The European Hematology Association (EHA) atribuiu recentemente uma das três Bolsas de Investigação para Médicos Cientistas a Delfim Duarte, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e hematologista do IPO-Porto.

No valor de 240 mil euros, e com uma duração de três anos, este financiamento permitirá ao investigador estudar o papel do ferro no processo da formação e diferenciação anormal das células de sangue (hematopoiese clonal), que aumenta o risco de desenvolvimento da leucemia mieloide aguda (LMA).

A hematopoiese clonal é uma condição recentemente descrita que afeta a forma como as células sanguíneas são produzidas e que está associada com o envelhecimento e com o risco de LMA, um tipo agressivo de cancro do sangue que afeta os glóbulos brancos.

Neste projeto, especifica Delfim Duarte, “vamos estudar o papel da inflamação e do ferro na formação e diferenciação das células de sangue e desenvolvimento de leucemia”. Com o avançar da idade, acrescenta, “o número de erros nas células da medula que dão origem às células sanguíneas vai aumentando por acumulação de mutações em genes que regulam vários processos celulares. As células mutadas expandem e têm função alterada, aumentando assim o risco cardiovascular e de desenvolvimento de leucemia mieloide aguda”.

De acordo com o investigador, “vários estudos demonstraram que estas células mutadas têm um perfil pró-inflamatório, muitas vezes relacionado com uma proteína reguladora dos níveis sistémicos de ferro, a hepcidina”.

Além disso, acrescenta Delfim Duarte, “dados preliminares do nosso grupo de investigação no i3S (Hematopoiesis and Microenvironments) sugerem que essa proteína e os níveis de ferro regulam por sua vez a formação de novas células sanguíneas”.

Neste projeto, continua o também professor auxiliar convidado da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), “vamos estudar em doentes e modelos animais a relação entre a inflamação, ferro e a formação de novas células sanguíneas, bem como o risco de evolução para leucemia. Este estudo pode ter implicações importantes para a prevenção do risco cardiovascular e de desenvolvimento de leucemias nesta população”.

Para obter estas informações, a equipa de Delfim Duarte, que inclui investigadores da Universidade de Tours (França) e da Universidade de Zurique (Suíça), vai estudar amostras de doentes com hematopoiese clonal e modelos de ratinho que mimetizam a condição humana.

Para o investigador, este financiamento da Associação Europeia de Hematologia, que resultou de um processo de avaliação muito exigente, representa o “reconhecimento da solidez da proposta e uma motivação adicional. É também o reconhecimento do trabalho que a nossa equipa tem desenvolvido nesta área nos últimos anos”.

Como médico, continua Delfim Duarte, “é também uma oportunidade única de explorar num contexto pré-clínico possíveis futuros tratamentos para os doentes com patologia hemato-oncológica. Isto só é possível graças ao consórcio do Porto Comprehensive Cancer Center (P.CCC) Raquel Seruca, que inclui o i3S e o IPO-Porto”. Universidade do Porto - Portugal


Angola – Mina aluvial do Lulo volta a brilhar com diamante de 176 quilates de "arestas nítidas e angulares"

A Lucapa Diamond Company anunciou a recuperação de um diamante de 176 quilates, com "arestas nítidas e angulares, na mina aluvial do Lulo, em Angola

Os australianos da Lucapa, que com a Endiama e a Rosa & Pétalas gerem a mina do Lulo, lembram que este é o quinto diamante de mais de 100 quilates deste ano, uma pedra tipo IIa.

O diamante de 176 quilates é o 45º diamante de mais de100 quilates a ser recuperado no Lulo e o oitavo maior, desde que as operações foram iniciadas, em 2015.

A recuperação contínua destes e de outros diamantes de grande dimensão e de elevado valor tem sido uma importante fonte de receitas para a Lulo.

Em comunicado, o diretor geral da Lucapa, Nick Selby, afirmou que "a recuperação deste diamante de 176 quilates é ainda mais a confirmação do enorme potencial da província kimberlítica onde estamos a concentrar os nossos esforços de exploração para encontrar a(s)fonte(s) destas magníficas gemas". In “Novo Jornal” - Angola


África do Sul - UNESCO inclui locais relacionados a Mandela à lista de Património Mundial

Este fim-de-semana, a UNESCO acrescentou à sua lista de Património Mundial o local onde ocorreu um massacre do apartheid e um povoado onde Nelson Mandela cresceu, além de outros pontos sul-africanos fundamentais na luta que pôs fim ao domínio da minoria branca.


Nelson Mandela, que morreu em 2013 com 95 anos, foi o primeiro presidente negro da África do Sul, quatro anos após a sua libertação. O líder ficou preso por 27 anos, especialmente em Robben Island, em frente à Cidade do Cabo.

Um dos lugares agora incluídos na lista fica em Sharpeville, na província de Transvaal, onde em 1960 a polícia matou 69 manifestantes negros, incluindo crianças, um acontecimento que levou o governo do apartheid a proibir o Congresso Nacional Africano, actualmente no poder.

A aldeia isolada de Mqhekezweni, onde Mandela passou grande parte de sua infância e juventude, na província do Cabo Oriental, também entrou na lista do Património da Humanidade da organização das Nações Unidas. Na sua autobiografia “A Long Walk to Freedom”, o presidente popularmente conhecido como Madiba explica que ali nasceu o seu activismo político.

Os 14 lugares foram reagrupados sob o título “Direitos Humanos, Libertação e Reconciliação: locais de memória de Nelson Mandela”. Na lista, também está incluída a Universidade de Fort Hare (Cabo Oriental), onde Mandela estudou, e os Edifícios da União, situados em Pretória, capital do país, onde tomou posse como o primeiro presidente eleito pelo sufrágio universal, em 1994.

“Felicito a África do Sul pela inscrição destes locais de memória que testemunharam não só a luta contra o apartheid, mas também a contribuição de Nelson Mandela para a liberdade, os direitos e a paz”, declarou a directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay.

“Vinte e cinco anos após a inscrição de Robben Island na Lista como Património Mundial da UNESCO, esta nova inclusão garante que a herança da libertação da África do Sul e os valores que ela incorpora serão transmitidos às gerações futuras”, acrescentou Azoulay.

A inclusão destes lugares foi decidida durante a reunião que a UNESCO realizou em Nova Delhi, onde também foi aprovada a inclusão de três locais sul-africanos importantes para a compreensão das origens da humanidade. Situados nas províncias de Cabo Ocidental e KwaZulu-Natal, estes lugares “abrigam registos mais variados e mais bem conservados sobre o desenvolvimento do comportamento humano moderno, que remontam a 162 mil anos”, segundo a UNESCO. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Agências Internacionais”


Cabo Verde - Remessas de trabalhadores em Portugal totalizam quase 100 milhões de euros anuais

As remessas dos trabalhadores cabo-verdianos em Portugal totalizam anualmente cerca de 100 milhões de euros, disse à Lusa o ministro das Comunidades do país africano, Jorge Santos. “Neste momento, só de Portugal para Cabo Verde, as remessas financeiras são grandes. Dentro da geografia da nossa diáspora, Portugal é o país que mais transfere recursos para Cabo Verde, atingindo um valor muito significativo: mais de quase 10 milhões de contos cabo-verdianos, ou seja, qualquer coisa como quase 100 milhões de euros”, disse o governante cabo-verdiano.

Jorge Santos concluiu no fim-de-semana uma visita de trabalho a Portugal para contactos com empresas portuguesas e trabalhadores cabo-verdianos, no quadro do acordo de mobilidade laboral entre Cabo Verde e Portugal. “Portugal é que lidera a lista. Em segundo lugar temos os Estados Unidos, em terceiro lugar temos a França e assim sucessivamente”, detalhou, referindo ainda as remessas enviadas a partir dos Países Baixos, Itália, Alemanha, Luxemburgo e Suíça.

Jorge Santos adiantou que, globalmente, as remessas da diáspora cabo-verdiana atingem um valor entre os 320 milhões e os 375 milhões de euros, que representa quase 50% do orçamento de Estado de Cabo Verde.

Questionado sobre se as recentes alterações introduzidas pelo Governo português no sistema de emissão de vistos podem condicionar a aplicação do acordo de mobilidade laboral bilateral, Jorge Santos respondeu que não. “Nós sempre entendemos que o acordo de mobilidade laboral seria e está sendo uma oportunidade positiva para os nossos países, e para Cabo Verde em particular para os trabalhadores e para os jovens”, vincou.

Cabo Verde tem actualmente “muitos milhares de jovens desempregados e muitos milhares de jovens à procura de formação profissional e, por conseguinte, este acordo laboral vem permitir criar e aproveitar as oportunidades” criadas por Portugal.

Jorge Santos salientou ainda que o acordo de mobilidade laboral permite que quem sai de Cabo Verde para Portugal chegue com um contrato de trabalho válido. “Antes havia o pedido de visto de procura de emprego. Sem qualquer tipo de imposição do contrato laboral. Aí, sim, pode haver alguma adaptação, mas também estamos de acordo com esta medida, uma vez que vem trazer algum controlo e flexibiliza os mecanismos de acompanhamento do processo”, frisou.

O ministro cabo-verdiano deu ainda como exemplo que, ao abrigo do acordo de mobilidade laboral bilateral, em 2023 vieram 6300 cabo-verdianos com contratos de trabalho. “Este ano, nesta altura, segundo os dados no Centro Comum de Vistos de Cabo Verde e da Embaixada de Portugal em Cabo Verde, já deram praticamente entrada em termos de processos 3600 vistos de trabalho”, acrescentou.

A procura é grande, mas Portugal, reconheceu, “também tem feito um esforço para reforçar as condições no Centro Comum de visto e também a nível da sua Embaixada na Praia, para dar vazão à demanda e aos pedidos que são muitos”.

Relativamente aos contactos que manteve em Portugal com empresas que empregam trabalhadores cabo-verdianos, Jorge Santos destacou a Barraqueiro. “Só na Barraqueiro, por exemplo, são centenas de condutores que vieram para trabalhar aqui, seja na zona metropolitana de Lisboa, como também na zona metropolitana do Porto, outros mais 100 condutores que estão para vir, com processo de visto em fase de elaboração”, pormenorizou.

Jorge Santos enalteceu ainda o esforço de criação de condições pelas empresas no que diz respeito a alojamento e reagrupamento familiar. “Ou seja, existe aqui um sentido social também associado à questão da mobilidade, que é algo que também tenho que dizer e ficar satisfeito, ou seja, que existe uma responsabilidade”, respeitando o que prevê o acordo laboral assinado pelos Ministérios do Emprego dos dois países.

“Quer dizer, o trabalhador vem, mas tem que ter as condições em termos de segurança social, em termos de protecção, todas as seguranças que são garantidas também aos trabalhadores portugueses”, frisou. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”


segunda-feira, 29 de julho de 2024

Portugal - Universidade de Coimbra premeia seis projetos criados e liderados por mulheres nas Tecnologias da Informação e Comunicação

O Departamento de Engenharia Informática (DEI) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), vai premiar, esta quarta-feira, dia 31 de julho, seis projetos criados e liderados por mulheres no ramo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), em Portugal.

A cerimónia de entrega do prémio “Founding Inspiring Futures” (FIF) 2024 terá lugar na sala A5.4 do DEI, pelas 14h30, e conta com a presença do diretor do departamento, Jorge Henriques, em representação do DEI e enquanto membro da comissão de acompanhamento do First Foundation.

De modo a promover o talento feminino e a importância da diversidade e da inclusão das mulheres no ramo das TIC, o projeto “Inspira - Balance” organizou esta iniciativa nacional de reconhecimento, visibilidade e premiação de projetos criados e liderados por mulheres nas TIC, ativas na academia, a nível nacional, contando com o apoio da Universidade de Coimbra e financiamento do First Foundation Project, promovido pela Feedzai Lda.,

No FIF 2024 serão premiados seis projetos desenvolvidos em contexto académico, divididos em Protótipo Intermédio e Projetos Implementados. As premiadas receberão um vale FNAC no valor de 500 (1.º prémio), 250 (2.º prémio) e 150 euros (3.º prémio).

Para assistir à cerimónia deve inscrever-se aqui. Universidade de Coimbra - Portugal



Portugal - Investigadores da Universidade do Porto criam protótipo de vacina para tratar cancro

Vacina baseada em açúcares presentes nas células tumorais pretende educar o sistema imunitário a responder contra tumores sólidos


Investigadores do Centro de Investigação do Instituto Português de Oncologia do Porto (CI-IPOP), do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Faculdade de Ciências (FCUP), e do Laboratório Associado para a Química Verde da Universidade do Porto – REQUIMTE (LAQV-REQUIMTE) estão a desenvolver uma vacina baseada em açúcares presentes nas células tumorais que pretende educar o sistema imunitário a responder contra tumores sólidos, contribuindo, desta forma, para o tratamento da doença oncológica.

Segundo o líder do projeto, José Alexandre Ferreira, investigador do grupo de Patologia e Terapêutica Experimental do CI-IPOP e docente do Departamento de Patologia e Imunologia Molecular do ICBAS, “o protótipo da vacina desenvolvido resulta de mais de uma década de trabalho, sendo que uma parte foi financiado por um projeto liderado pelo IPO que envolve também o i3S”.

Os investigadores começaram por perceber como é que os açúcares que cobrem as células se alteram com o cancro e com a progressão da doença, através da análise das alterações de padrões de glicosilação em vários tumores. No seguimento destas análises exaustivas descobriram que as células tumorais mais agressivas perdem a capacidade de expressar estes açúcares mais complexos e exuberantes, passando a expressar açúcares imaturos e muito mais simples.

Foi com esta descoberta que iniciaram esta investigação e que, posteriormente, tentaram identificar as proteínas que estavam associadas a estes açúcares e entender a sua função biológica. “Achámos que seria interessante criar ferramentas para ensinar o sistema imunológico a responder a células que tinham estas alterações de glicosilação, que são células muito envolvidas no processo de agressividade da doença e de disseminação”, explica José Alexandre Ferreira.

A investigação passou, ainda, por uma série de etapas, culminando no protótipo de vacina, entretanto já patenteada pelo IPO-Porto. Pelo caminho foram publicados também dois artigos em revistas científicas, mais especificamente na Journal of Controlled Release e na ACS Nano.

Uma vez que 80 por cento dos tumores sólidos, tanto em fases iniciais como muito avançadas, expressam estas alterações, “o espetro de aplicação será também muito grande”, sublinha o investigador. Esta alteração nos açúcares foi também identificada nas metástases, já que há evidências que se pode encontrar estes padrões de glicosilação em tumores de bexiga, gástricos e colorretal, entre outros.

Vacina “passou” nos testes com sucesso

Neste momento, a vacina encontra-se em fase pré-clínica, tendo já sido testada in vitro e in vivo no biotério do i3S pela investigadora Flávia Castro e por Rui Freitas e Andreia Miranda, estudantes de doutoramento do ICBAS a realizar investigação no CI-IPOP, sob supervisão do líder deste projeto e dos investigadores do i3S Bruno Sarmento e Maria José Oliveira.

“O objetivo era perceber se conseguíamos induzir uma resposta imunitária segura, específica e capaz de reconhecer células tumorais”, explica José Alexandre Ferreira, acrescentando que os resultados validaram a eficácia da vacina.

Para além de permitir gerar anticorpos que reconhecem as células tumorais, a vacina demonstrou ainda “criar alguma memória imunológica, o que abre portas para pensar numa proteção contra a recidiva”. No entanto, mesmo com estes “resultados promissores”, continuam por superar alguns desafios antes da sua aplicabilidade clínica, nomeadamente com o ambiente imunossupressor induzido pelos tumores mais agressivos.

Atualmente, a equipa já se encontra a explorar novas moléculas para aumentar a resposta imunitária e a combinar a solução com terapias já existentes. É precisamente ao nível molecular que entra o trabalho realizado nos Laboratórios do LAQV-REQUIMTE, no Departamento de Química e Bioquímica da FCUP. “O nosso papel no LAQV foi participar na identificação de alvos moleculares específicos das células tumorais, utilizando metodologias de proteómica baseada na espetrometria de massa”, descreve André Silva, investigador do LAQV-REQUIMTE, na FCUP, e docente no ICBAS.

Os investigadores também caracterizaram, na FCUP, modelos moleculares desenvolvidos no IPO-Porto que estiveram na base da formulação da vacina. Para este trabalho de caracterização molecular, que contou também com a participação de Marta Relva Santos, estudante de doutoramento em Ciências Biomédicas do ICBAS, foi fundamental o equipamento do Centro de Química de Materiais da U.Porto, também localizado na FCUP, que “não existe em mais nenhuma das instituições envolvidas no consórcio”, ressalva André Silva.

Um longo, mas importante processo de validação

Segue-se ainda um processo de validação com vista ao desenho de um ensaio clínico. José Alexandre Ferreira reforça, a propósito, a importância de as pessoas perceberem “os avanços que estão a ser feitos” e também que este é “um processo longo de validação para que depois a solução apresentada ao doente seja segura, eficaz e uma mais-valia”.

Já para Lúcio Lara Santos, docente do Departamento de Anatomia do ICBAS e coordenador do grupo de Oncologia Molecular e Patologia Viral do CI-IPOP, serão necessárias “provas e contraprovas” de que a vacina funciona, que é útil e não prejudicará os doentes, e “pode vir a ser uma boa arma”. Só depois de provado o resultado dos ensaios diante das autoridades responsáveis “será possível desenhar um ensaio clínico”, adiantou.

O oncologista termina com uma certeza: “Temos uma ideia de investigação que é lógica, temos todos os ingredientes para que isto venha a funcionar, estamos na fase pré-clínica para garantirmos que aquilo que esperamos vai ser a evidência que nos permite avançar para a parte clínica”. Universidade do Porto - Portugal


CPLP - Destacado o progresso da Guiné Equatorial na língua portuguesa

Decorreu na sexta-feira passada a 29ª reunião ordinária do conselho de ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, da qual Macau é observador consultivo. Das decisões destaca-se os progressos da Guiné Equatorial no ensino e dinamização do português e a necessidade de intercâmbio entre escolas na área da língua portuguesa

Foi desde o início uma questão polémica. A Guiné Equatorial, país na África Central liderado há décadas por Teodoro Obiang, passou a fazer parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 2014, sem que a população falasse português, ou que o idioma fosse língua oficial. Na grande maioria, as línguas mais comuns são o fangue e o pidgin inglês, enquanto o espanhol e francês são línguas oficiais.

Porém, ligações históricas a Portugal, que remontam ao século XV, foram determinantes para a decisão.

Segundo as conclusões da última reunião do conselho de ministros da CPLP, decorrida em São Tomé e Príncipe no passado dia 19, os membros “congratularam-se com todos os esforços na expansão da língua portuguesa na Guiné Equatorial, que contou com o apoio inestimável do Camões, I.P. [Camões – Instituto da Cooperação e da Língua], e do Brasil”.

Estes esforços passaram, segundo o comunicado oficial das conclusões publicado no portal da CPLP, pela “revisão dos currículos de ensino, a criação de uma licenciatura em Língua Portuguesa na Universidade Nacional, a introdução da disciplina de Português no ano lectivo de 2024/2025”. O país apostou também na “formação de funcionários e membros do Governo em leitura e compreensão do Português, bem como o intercâmbio de funcionários do Governo com São Tomé e Príncipe (30), Cabo Verde (40) e Angola (40)”.

Além disso, foi realizada “uma campanha de recolha de livros e manuais em língua portuguesa, que contou com a solidariedade do Governo português e o apoio de todos os Estados-Membros, para a dotação de obras neste idioma nas escolas e bibliotecas da Guiné Equatorial”. O país africano desenvolveu ainda “acções concretas adoptadas para fortalecer o pilar económico da CPLP”, e que terão contribuído para “a integração económica entre os Estados-Membros e para o desenvolvimento sustentável do país”.

Os membros “congratularam-se” também pela passagem do décimo aniversário de adesão do país como membro de pleno direito da CPLP, algo que aconteceu na X Conferência de Chefes de Estado e de Governo, realizada, em Díli, Timor-Leste, a 23 de Julho de 2014.

Na reunião da passada semana participaram os ministros dos Negócios Estrangeiros e Relações Exteriores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e ainda o Secretário Executivo da CPLP. Macau, não sendo país, mas tendo o português como língua oficial, é apenas membro consultivo da CPLP através de “comissões temáticas”, neste caso duas, levadas a cabo pela Universidade de São José e do Instituto Internacional de Macau.

A fim de melhor integrar a Guiné Equatorial na entidade de matriz política, fez-se um programa de apoio. Nesse contexto, os membros destacaram ainda, na reunião do dia 19, “o esforço [da Guiné Equatorial] do planeamento da nova etapa de cooperação e pelo alargamento da designação dos ‘Pontos Focais’ para todos os sectores de cooperação”.

Além disso, o país africano solicitou a realização do “Seminário de Capacitação dos Pontos Focais Nacionais”, que decorreu nos dias 9 e 10 de Julho deste ano em Malabo, capital da Guine Equatorial, com o apoio do Brasil. Este evento visou “reforçar o conhecimento e a capacidade técnica dos pontos focais sectoriais nacionais no acompanhamento e aprofundamento da cooperação nas respectivas áreas de competência”.

Tratou-se de uma iniciativa que contribuiu “para a efectiva participação da Guiné Equatorial nas diversas reuniões estatutárias e para a concretização da nova etapa do processo de plena integração”. O país nomeou ainda o primeiro secretário permanente para a CPLP, Pedro Ela Nguema Bea, indicado pelo Senado do país. Recorde-se que muito recentemente a Guiné Equatorial passou a estar representada no Fórum de Macau no contexto da adesão à CPLP.

A língua é um país

Uma vez que a CPLP aborda várias áreas, que passam pela segurança alimentar, ensino, ambiente e defesa, entre outras, o conselho de ministros abordou pontos relacionados com o ensino e dinamização do português.

Uma das iniciativas abordadas foi o projecto-piloto intitulado “Rede de Escolas Amigas da CPLP”, tendo sido reconhecidos “os notáveis progressos na implementação”.

Numa resolução própria, foi ainda encorajado “o secretariado executivo, em colaboração com os Estados-Membros, o IILP [Instituto Internacional da Língua Portuguesa] e demais parceiros, a prosseguirem com determinação os esforços para a boa conclusão do projeto piloto da Rede de Escolas Amigas da CPLP, visando a sua posterior generalização”.

A ideia integrar mais “estabelecimentos de ensino de todos os níveis, de todos os Estados-Membros da CPLP, bem como de países terceiros, particularmente aqueles com estatuto de observadores associados da CPLP”.

Foi ainda pedido um olhar mais atento às “potencialidades do Fundo Especial para o apoio na realização de projectos e iniciativas” no âmbito desta Rede, tal como “concursos de escrita criativa (no âmbito do) Dia Mundial da Língua Portuguesa, programas de conversa com escritores e as Olimpíadas de Matemática da CPLP”.

O projecto “Rede de Escolas Amigas da CPLP” foi lançado no ano passado e visa, entre vários objectivos, promover a língua portuguesa, acolhendo escolas do ensino primário ao secundário e em regime técnico-profissional, públicas ou privadas. Actualmente, apenas 22 escolas fazem parte desta rede.

Ainda na vertente de ensino, da reunião do conselho de ministros da CPLP saíram ideias sobre a necessidade de “concertação, entre os Estados-Membros, para promover a certificação cruzada entre cursos de ensino superior e o lançamento do programa de intercâmbio de estudantes universitários CPLP ‘Frátria’.

Mobilidade a rodos

Foi ainda destacada a implementação do Acordo sobre Mobilidade entre os Estados-Membros da CPLP, caracterizado como “um passo firme para constituir uma verdadeira comunidade de povos, abrindo caminho à circulação de pessoas, cultura, valores, princípios e conhecimento”.

Países membros da CPLP, como foi o caso de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal, alteraram leis para a execução do referido acordo, enquanto no caso de São Tomé e Príncipe, a legislação já previa a livre circulação dos cidadãos da CPLP. Foi ainda encorajado “todos os Estados-Membros a continuar a promover a sua implementação, dentro do princípio da flexibilidade variável nele consagrado”.

Desta reunião saiu também a aprovação de oito novas entidades que passam, desta forma, a ter estatuto de observador consultivo. São elas a Associação Galega da Língua, Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, Associação CFA Portugal (Associação de Consultores Financeiros Certificados Portugal), Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Federação Portuguesa de Ginástica, Fundação Biblioteca Nacional, Instituto Brasileiro de Direito da Família, Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Económicas. Andreia Silva – Macau in “Hoje Macau”


China - Rodrigo Brum, ex-secretário-geral-adjunto do Fórum Macau: “Grande Baía é da máxima importância”

Depois da experiência no Fórum Macau, Rodrigo Brum está à frente da nova Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa na Grande Baía. Sobre o projecto, defende mais divulgação e que os países lusófonos invistam em bloco para materializar a verdadeira expressão do seu peso económico


O projecto da Grande Baía foi anunciado em 2017. Tem havido a evolução certa ou há ainda muito a fazer, no relacionamento com Macau?

Evolução, para mim, é sempre algo positivo. Obviamente, que estes anos incluíram dois ou três de covid-19, e há que ter isso em conta. Considero que o sucesso de Macau está ligado ao sucesso da Grande Baía.

Estão interligados.

Sim. Em certa medida, até o sucesso da própria China. Há três grandes projectos de iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, da qual todos ouvem falar porque tem sido lançado nos últimos dez anos. Além disso, tem um carácter mais internacional porque atravessa vários países e continentes, e envolve infra-estruturas e financiamentos em inúmeros países. Em Macau todos falam da Grande Baía, mas em Portugal quase não se ouve falar do projecto. Mas os dois estão muito interligados, porque a China vê a Grande Baía como o fornecedor de produção para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Portanto, o comércio que vai surgir com a “Faixa e Rota”, tem como base muito do sucesso e produção que resultar da Grande Baía.

Considera que o sul da China continua a ser um vector de dinâmica económica?

É efectivamente. Mas há ainda uma terceira iniciativa chinesa que é o Fórum Macau. Essa é a ponte de ligação das outras duas iniciativas aos países de língua portuguesa. Mesmo em Macau, há um pouco o desconhecimento destas várias realidades e da interligação entre eles. Em relação à própria Grande Baía, já nos anos 90, no período de administração portuguesa, e eu fiz parte desse processo, falávamos muito no delta do rio das pérolas como aquele triângulo entre Cantão, Hong Kong e Macau, a fim de valorizar a posição de Macau com estas duas regiões. Vale notar que em 1 por cento de área da China, ocupada pela Grande Baía, temos cerca de 5 por cento da população, aproximadamente 86 milhões de habitantes, mas temos 11 ou 12 por cento do PIB (Produto Interno Bruto) chinês. Estamos a caminhar para 15 por cento, e esse é, de facto, o motor da China.

Que explicação encontra para estas estatísticas?

Por ser a área mais dinâmica do país, que tem maior crescimento de PIB da China. Quando, em 2019, arrancámos com este projecto, numa das primeiras vezes que falei deste assunto referi dez por cento de PIB, o que já era significativo. Esse dinamismo traduz-se no facto de o PIB naquela área, que tem uma dimensão significativa, terá uma expressão cada vez maior. Isto demonstra que a área da Grande Baía é de máxima importância na China, empresas e países que querem fazer negócio com o país. Este projecto não tem ainda a divulgação equiparada ao peso e importância que realmente tem. Relativamente aos países de língua portuguesa, a Grande Baía é também uma área importante, como é para todos os países. Estes países têm um interesse ainda maior tendo em conta que a China determinou que Macau é o elo de ligação com os países de língua portuguesa. Não é o único ponto e nem é obrigatório que se use Macau [como plataforma comercial), mas há uma decisão política no sentido de privilegiar o território nesse sentido. Então, há essa vantagem.

São países desiguais em termos económicos, e também o serão em matéria de investimento. Como se podem reduzir esses desequilíbrios?

Não queria fazer propaganda das minhas funções (risos), mas tenho de falar da nova Câmara de Comércio e Indústria dos Países de Língua Portuguesa (PLP) na Grande Baía. Essa foi a razão de ser dessa Câmara, dado existir uma desigualdade muito significativa entre as diferentes velocidades e dimensões dos diversos países. Desde logo, o Brasil que representa 75 a 80 por cento do comércio do bloco dos países portugueses com a China, percentagem essa que tem vindo a aumentar. O segundo país é Angola, com cerca de 15 por cento do comércio, mas desequilibrado, pois as exportações incidem no petróleo; e depois os restantes sete países que andam ali entre cinco a seis por cento. O conceito de PLP não está, aliás, devidamente clarificado nem é facilmente reconhecido pelas pessoas, sendo confundido muitas vezes com o termo PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). É importante perceber que há um núcleo de países que representam a quarta ou a quinta língua mais falada na Internet e o idioma mais falado do hemisfério sul, pelo que seria importante que o conceito de PLP fosse tão facilmente identificado como é o de PALOP ainda hoje [anos depois da sua criação].

Mas voltando às desigualdades. Como se podem combater?

Uma das formas é o funcionamento em conjunto. Criando organizações de âmbito comercial e económico que articulem estes nove países de forma englobada, porque para os PLP, se estiverem cada um a negociar com a China, é absolutamente insignificante para o país. Mas até para a Grande Baía é insignificante, para um importador em Xangai por exemplo. Mas se for feito em conjunto gera-se uma força maior para negociar com a China. Os PLP devem apoiar-se uns aos outros e funcionar de forma articulada. Isso também é vantajoso para a China, que não tem que passar pelas dificuldades de relacionamento com as pequenas economias e produções. Deve-se dialogar de forma quase bilateral entre o bloco dos PLP e a China. Há documentos chineses que falam nesta relação bilateral e não multilateral.

Ainda não se pensa em bloco?

Pensa-se ainda muito pouco, e é preciso que organizações como esta nova câmara de comércio venham a conseguir com que os PLP se articulem. Isso não invalida que haja situações em que países com especificidades não tenham de articular com os outros, como é o caso do Brasil que exporta soja em grandes quantidades para a China e tem um mercado e comércio externo com o país muitíssimo desenvolvido, e com um peso significativo para a própria China. Na questão do petróleo temos Angola. Mas na maioria das situações há vantagens em trabalhar em conjunto. São Tomé e Príncipe já foi um dos seis maiores produtos mundiais de cacau, mas Angola ou a Guiné Equatorial, por exemplo, também produzem e podem exportar. Se houver um desenvolvimento destas indústrias, a sua posição face a mercados como o chinês seria vantajosa.

Macau consegue responder aos desígnios da China na prestação de serviços para a plataforma comercial? Há, por exemplo, muitos entraves para a contratação de pessoas de fora.

Macau tem ainda muito trabalho a fazer para poder cumprir cabalmente os desígnios que lhe são estabelecidos no âmbito da Grande Baía, e que são orientações de Pequim. Estou certo que os responsáveis sabem ainda o longo caminho que têm de percorrer, e é importante que o façam rapidamente e com dinamismo. Em Novembro do ano passado, nas comemorações do Fórum Macau, fiz algumas sugestões, tendo falado na possibilidade de contratações de técnicos ou talentos, como se diz em Macau, dos PLP, sem receios de que haja uma avalanche de gente a ir para Macau. Falamos de não haver qualquer receio em aceitar dezenas de especialistas, alguns com formação feita até em universidades de Macau, mas que sendo dos PLP podem mais facilmente fazer a ponte e acelerar a dinâmica de relacionamento entre a China e os PLP. Falamos de nove países, se forem dezenas de cada país, são umas meras centenas de pessoas. Que bom seria para Macau se tivéssemos umas 200 ou 300 pessoas qualificadas no território. Isso não causava qualquer perturbação ao mercado laboral local.

Os próprios delegados do Fórum Macau perderam a residência, por exemplo.

Isso é posterior ao meu tempo no Fórum, li notícias sobre o caso, e foi encontrada uma solução. Não foi sei exactamente o que aconteceu. No meu caso, entro sem problema porque sou residente permanente.

Esteve em Macau nos anos 90, nomeadamente no Parque Industrial da Concórdia, além de ter trabalhado com o secretário adjunto para a Economia e Finanças. O futuro passava já pela integração regional?

O projecto da Sociedade do Parque Industrial da Concórdia, que já sofreu alterações, era muito anterior à minha presidência da entidade. Quando assumi a presidência do parque não estavam sequer as infra-estruturas completas, não passava de um aterro em Coloane, com uma componente industrial e imobiliária, sendo esta maior. Eram 13 hectares que ainda lá estão. O parque correspondia a um terço da dimensão desse aterro destinado à zona industrial. Quando saí tinha contratualizado todos os lotes do parque industrial e respectivas infra-estruturas. Essas indústrias ainda lá estão, não sei se estão operacionais.

Mas o sector industrial poderia ter mantido alguma expressão na economia?

Não é fácil. Já no tempo da Administração portuguesa a diversificação era palavra de ordem. É evidente que a dimensão que o jogo tomou, especialmente após 2006, absolutamente espectacular, tornou esta concentração mais agradável do que no tempo da Administração portuguesa. O jogo nesse tempo tinha sempre cerca de 50 por cento de peso no que diz respeito aos impostos recolhidos aos casinos. Se já havia a pressão com a diversificação, maior é agora, contando que Macau venha a ter também uma economia virada para o turismo de conferências e realização de eventos. Continuará a ser necessário apostar na diversificação e até em termos de serviços, articulado com o projecto da Grande Baía.

Que comentário faz a propósito da VI Conferência Ministerial do Fórum Macau?

É importante que tenha sido relançada a actividade que o fórum vinha desenvolvendo nos últimos anos de forma crescente. Houve naturalmente uma repercussão dos anos de paragem devido à pandemia, acrescido do facto de que houve um adiamento na realização da conferência e definição de novas medidas. Mas estas são muito importantes especialmente se tivermos em conta que essas medidas são sempre para cumprir. Com maior ou menor impacto, até à realização da próxima Conferência Ministerial, essas medidas estarão implementadas e é importante que empresas e países analisem e aproveitem as oportunidades que são transmitidas através dessas medidas. Andreia Silva – Macau in “Hoje Macau”


domingo, 28 de julho de 2024

Moçambique - João Ayres em exposição nas galerias de Maputo

A Associação Kulungwana (Moçambique) e a Associação Zé dos Bois (Portugal) apresentam, em parceria com o Museu Nacional de Arte, o Camões – Centro Cultural Português e o Instituto Guimarães Rosa, em Maputo, Nanquim Preto sobre fundo branco, uma exposição individual do artista João Ayres (1921-2001).


O comunicado de imprensa sobre a exposição avança que a inauguração terá lugar próxima quarta-feira, às 17h30, com início na Galeria Kulungwana, e continuidade nos outros espaços culturais envolvidos, nomeadamente no MUSART, no Instituto Guimarães Rosa e no Camões, onde encerra às 20h30, disponibilizando ao público, na mesma noite, uma visita geral a esta mostra inédita conjunta.

Nanquim preto sobre fundo branco conta com a curadoria de Natxo Checa (Portugal) e Alda Costa (Moçambique), ocupa os quatro espaços parceiros em simultâneo e é composta por um conjunto alargado de pinturas e desenhos, produzidos por João Ayres, entre 1947 e 1970, em Maputo.

A exposição apresenta e propõe olhar para as três primeiras décadas de produção artística de João Ayres, repondo a sua importância histórica e artística como precursor do Modernismo em Moçambique. É um regresso à casa mãe, ao território de produção de obras, cujo carácter apresenta pontos de convergência com as correntes intercontinentais vigentes na época (África do Sul, Brasil, Portugal, Moçambique).

Depois de décadas esquecido, tanto em Moçambique como em Portugal, e após uma primeira bem sucedida mostra em Lisboa (2022/2023), na Galeria Zé dos Bois, onde se expôs pintura e desenho que recolhia a primeira década de produção moçambicana do artista (1946-1957), é chegado o momento de uma apresentação mais alargada da obra de João Ayres, que devolve ao público de Maputo, após mais de 50 anos, a oportunidade de tomar contacto, de fruir e de valorizar o trabalho extraordinário de raiz africana que passa pelo neorrealismo, o concretismo e o expressionismo, ora figurativo ora abstracto.

Ao longo dos quatro momentos/espaços da exposição, pode-se constatar, entre outros: – corpos em esforço e lamento nas contrariedades da condição humana – com destaque para as pinturas do Cais Gorjão nos anos 40; uma série de pinturas e desenhos neoexpressionistas, do início dos anos 50, concebidos para serem mostrados no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a convite do mecenas das artes Ciccillo Matarazzo, e na galeria do Ministério da Educação e Cultura do Rio de Janeiro, a convite de personalidades das artes; uma série de desenhos a tinta-da-china da corrente concretista, em que o artista deixa de representar uma condição que lhe é alheia e passa à abstração pura; uma série de trabalhos produzidos após o regresso de João Ayres do Brasil, em meados da década de 50, até aos anos 70, parte deles da colecção do Museu Nacional de Arte, que variam entre pintura sobre cartão e tinta-da-china sobre papel, onde reconhecemos figuras, corpos, caras, máscaras, cores e formas, que nos remetem indubitavelmente à sua vivência local moçambicana.

A programação complementar a esta exposição é composta por uma sessão de exibição do filme João Ayres, Pintor Independente (2022), de Diogo Varela Silva, por visitas guiadas, entre outras actividades.

A exposição Nanquim preto sobre fundo branco é uma mostra produzida pela Associação Zé dos Bois e a Associação Kulungwana, em parceria com o Museu Nacional de Arte, o Camões – Centro Cultural Português e o Instituto Guimarães Rosa, e conta com o apoio da Direcção-Geral das Artes de Portugal (DGArtes), Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC) e da Embaixada da Noruega em Maputo. Tem entrada livre (à excepção do Museu Nacional de Arte, onde se aplicam as condições de acesso em vigor) e fica patente até ao dia 27 de Setembro de 2024.

Sobre João Ayres (1921-2001)

Nasceu em Lisboa, em 1921. Estudou arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa e Porto.

Em 1944 integra o II salão “Independentes” (exposição colectiva onde, entre outros, participam Fernando Lanhas, Nadir Afonso e Júlio Resende) no Coliseu do Porto, e a exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa.

Em 1946, João Ayres muda-se para Moçambique, onde se encontrava o pai, o pintor naturalista Frederico Ayres, como professor na Escola Técnica da ex-Lourenço Marques. Em Moçambique exerceu, para além da actividade de pintor, com exposições na África do Sul e Brasil, outras actividades, nos Serviços de Obras Públicas, nos Serviços de Instrução Pública/Ensino Técnico, onde foi professor e, paralelamente, orientou cursos de pintura e desenho no Núcleo de Arte em diferentes períodos, tendo influenciado e contribuído para a formação de artistas como António Bronze, José Júlio, Malangatana, entre outros.

Expõe, pela primeira vez, com o pai, o pintor Frederico Ayres, em 1947. Realiza a sua primeira exposição individual em 1949, promovida pelo Núcleo de Arte, onde expõe as primeiras telas neorrealistas. Continua a expor colectiva e individualmente nos anos que se seguem, destacando-se as exposições individuais no Museu de Arte Moderna de São Paulo (1955); na Voster’s Gallery, em Pretória (1961); no Left Bank Galleries, em Joanesburgo (1965); na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa (1981).

A obra de João Ayres está representada em diversas colecções privadas e públicas, destacando-se a Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Grão Vasco (Viseu), o Museu Nacional de Arte (Maputo), e o Museu de Arte Moderna de São Paulo. In “O País” - Moçambique


Timor-Leste - Irmã portuguesa ajuda população num “país de escassez”

A Irmã Cristina Macrino, uma enfermeira em missão em Bobonaro, Timor-Leste, faz um retrato deste país católico de língua oficial portuguesa que o Papa vai visitar em Setembro. Um país marcado pelo subdesenvolvimento, onde a água potável é escassa, a alimentação pobre, as estradas más e onde há problemas ao nível da saúde. No meio de tudo isto, receber o Papa, diz a religiosa, “é uma forma de abençoar e de dar esperança ao povo”


“Foi uma notícia praticamente histórica”, diz a Irmã Cristina Macrino, da congregação das Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, sobre o anúncio de que o Papa Francisco vai visitar Timor-Leste no início de Setembro deste ano no contexto de um périplo asiático que o levará também a Singapura, Papua Nova-Guiné e Indonésia.

Timor-Leste é, nesta viagem, o país mais católico que o Santo Padre vai encontrar. Mais católico e, a par da Papua Nova-Guiné, também um dos mais pobres do mundo. A Irmã Macrino, uma enfermeira em missão em Bobonaro, é uma das responsáveis, desde 2012, por um centro social que apoia todos os dias cerca de 350 crianças com alimentação e actividades lúdicas, além de trabalhar numa clínica que presta apoio à população local – cerca de 6 mil pessoas – mas também a todos os que vivem nas aldeias mais remotas.

“A aldeia onde estamos chama-se Memo, o bairro chama-se Pipgala, que significa cabrito assado na língua materna, e é de facto uma alegria vivermos aqui em missão.” Uma alegria que agora ganha um novo alento com a visita anunciada do Santo Padre para os dias 6 a 9 de Setembro. “Já começou a preparação para essa visita”, esclarece a irmã, acrescentando que todos estão “numa grande ansiedade para viver este acontecimento de forma intensa, marcante, e com muita alegria”, e na expectativa das “muitas bênçãos que vamos receber com toda a certeza”. Para a Irmã Cristina, receber o Papa significa também, e principalmente, “dar esperança ao povo”.

Mas que país vai o Papa Francisco encontrar nesta viagem? Que retrato se pode fazer de Timor-Leste? “Este é um país que está em desenvolvimento, um país humanamente rico na fé católica, um país rico na beleza natural, um povo acolhedor, tranquilo, capaz de dar uma alegria também ao Papa porque será muito bem recebido, com muito amor e muita alegria”, diz a irmã portuguesa, acrescentando que Timor-Leste é ainda um país subdesenvolvido e isso é visível em vários sectores. “A água potável, por exemplo, é escassa apesar de haver ribeiras e rios. A saúde é uma preocupação para o povo e para o Governo. A saúde é fraca porque a nutrição também é muito fraca. As pessoas têm poucos meios financeiros, passam dificuldades, o clima também não ajuda, faz muito calor e, portanto, torna-se difícil. Outro grande problema é com os acessos para que as pessoas possam circular no país. Com as estradas ainda muito danificadas é difícil fazer grandes percursos e isso é de facto um grande problema para Timor-Leste em termos de desenvolvimento”, afirma a religiosa.

A questão da alimentação é outro dos problemas que a irmã acentua, talvez pela sua sensibilidade como enfermeira e pelo seu contacto diário com as populações. E fala mesmo em fome. “Ainda existe muita fome em Timor. As famílias passam muito mal em termos de alimentação. A base da alimentação é de facto o arroz, a hortaliça e pouco mais. Por isso existe ainda muita tuberculose aqui em Timor-Leste e muita gastroenterite nas crianças e por isso ainda morrem muitas crianças com diarreias e vómitos. É um problema que estamos todos a tentar resolver, mas está longe, está muito longe de se alcançar uma solução, uma resolução para este problema da fome e das necessidades nutricionais em Timor-Leste”, explica Cristina Macrino.

A visita do Papa Francisco poderá ser um elemento catalisador para o desenvolvimento do país, para a resolução de alguns destes problemas crónicos identificados pela religiosa portuguesa. “É necessário trabalhar com esperança, trabalhar com amor, e trabalhar com essa certeza de que, todos juntos, podemos fazer um mundo melhor, todos juntos podemos fazer um Timor mais feliz, mais digno em cada casa, em cada família, em cada distrito, em cada aldeia, em cada município, em geral”, diz a irmã. Se a visita do Santo Padre está a ser encarada com muita expectativa e até alguma ansiedade, como é que Cristina Macrino vê a possibilidade de, ela própria, poder encontrar-se pessoalmente com Francisco? Que lhe diria? “Não sei. Seria uma emoção muito grande se chegasse perto do Papa, é verdade. Para Timor-Leste, pediria oração, que rezasse pelo povo de Timor, para que nunca perca a sua fé, nunca perca a esperança, nunca perca a vontade de continuar a lutar por si, pela vida, por um país com mais capacidade para dar futuro ao futuro povo de Timor. Não poderia pedir mais nada, não é? Tenho confiança de que, ao olhar o Papa olhos nos olhos, ele iria escutar o meu pedido de oração e penso que [isso] só por si já seria uma bênção para o povo e pelo menos para a nossa missão e para o nosso povo, a quem servimos no dia-a-dia”, diz a Irmã Cristina Macrino.

Timor-Leste é um país profundamente católico. Foi colónia portuguesa até 1975, tendo sido invadido e ocupado então pela Indonésia – após uma declaração fugaz de independência –, o que motivou uma longa luta de guerrilha até que ganhou a sua autodeterminação em 1999, sob o patrocínio das Nações Unidas. Durante a ocupação indonésia, a população local foi duramente reprimida e muitos sacerdotes e religiosas arriscaram a vida para defender os cidadãos dos abusos militares. A declaração de independência aconteceu a 20 de Maio de 2002, tornando-se então no primeiro estado soberano deste século. Esta será a segunda visita papal ao território, depois da de João Paulo II, em 1989. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo