Quase 850 jovens entre os 16 e os 18 anos casaram entre 2017 e 2023, um fenómeno que afeta sobretudo raparigas e que é permitido apesar das recomendações por parte de organismos internacionais para que Portugal o impeça
Os
dados são do Ministério da Justiça, mas foram divulgados na rede social
Instagram da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças
e Jovens (CNPDPCJ), no âmbito do projeto “Abordagem Intercultural para Prevenir
Práticas Nocivas” (IAPHP, na sigla em inglês).
As
estatísticas mostram que, nestes sete anos, o Ministério da Justiça registou
840 casamentos em que o noivo ou a noiva eram menores.
Segundo
o IAPHP, “normalmente, é a noiva que é menor” e acrescenta que “em 2021, 74%
dos menores que se casaram eram raparigas”.
Dos
dados divulgados é possível constatar que, ano após ano, os números vão
aumentando consecutivamente – com exceção para 2020, que coincide com a
pandemia provocada pela covid-19 – e que, em média, todos os anos casam 120
jovens com idades entre os 16 e os 18 anos.
Em
2017, houve registo de 113 casamentos em que um dos noivos era menor de 18
anos, número que aumenta para 124 em 2018 e para 135 em 2019.
Já
em 2020, o movimento é descendente, com 79 casamentos, o que representa uma
diminuição de 41,5%, que poderá ser explicada pelo encerramento de grande parte
dos serviços públicos com atendimento presencial, na sequência da pandemia de
covid-19.
No
ano seguinte, o número de casamentos volta a aumentar e são registados 130,
valor que aumenta para 158 (+21%) em 2022.
Em
2023, há registo de 101 casamentos, mas a contabilização abrange apenas os
primeiros seis meses do ano, pelo que poderá ainda aumentar.
Na
publicação, o projeto refere que Portugal permite o casamento aos 16 anos com o
consentimento dos pais ou autorização do tribunal, mas lembra que há diversos
organismos internacionais, como a UNICEF e o Comité para a Eliminação da
Discriminação contra as Mulheres, que “têm vindo a exercer pressão para que
Portugal elimine todas as exceções que permitem o casamento de menores de 18
anos”.
“O
casamento com menores de 18 anos é uma violação dos direitos da criança e não
deve ser possível”, defende a delegação portuguesa da UNICEF, citada no
projeto, liderado pelo Politécnico de Viseu.
No
entanto, no âmbito da Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não
Discriminação 2018-2030, um dos objetivos estratégicos é exatamente “prevenir e
combater as práticas tradicionais nefastas, nomeadamente a MGF [mutilação
genital feminina] e os casamentos infantis, precoces e forçados”.
O
projeto refere também que “Portugal comprometeu-se a eliminar o casamento
infantil, precoce e forçado até 2030”, sendo que o Código Penal já refere que o
“casamento forçado é um crime contra a liberdade pessoal”, que pode ser punido
com pena até cinco anos de prisão.
O
atual Governo recebeu do executivo anterior um esboço do Livro Branco sobre
casamentos infantis, sobre o qual fez um inquérito junto de várias organizações
e cuja recolha de dados terminou em 09 de abril.
Segundo
fonte do gabinete da ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro
Lopes, 235 entidades responderam ao inquérito e as conclusões estão agora a ser
incorporadas no Livro Branco pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de
Género (CIG).
A
mesma fonte disse ainda que este trabalho deverá estar concluído durante o mês
de julho e que a expectativa é de em outubro o Livro Branco ser tornado
público. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo
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