Decorreu na sexta-feira passada a 29ª reunião ordinária do conselho de ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, da qual Macau é observador consultivo. Das decisões destaca-se os progressos da Guiné Equatorial no ensino e dinamização do português e a necessidade de intercâmbio entre escolas na área da língua portuguesa
Foi
desde o início uma questão polémica. A Guiné Equatorial, país na África Central
liderado há décadas por Teodoro Obiang, passou a fazer parte da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 2014, sem que a população falasse
português, ou que o idioma fosse língua oficial. Na grande maioria, as línguas
mais comuns são o fangue e o pidgin inglês, enquanto o espanhol e francês são
línguas oficiais.
Porém,
ligações históricas a Portugal, que remontam ao século XV, foram determinantes
para a decisão.
Segundo
as conclusões da última reunião do conselho de ministros da CPLP, decorrida em
São Tomé e Príncipe no passado dia 19, os membros “congratularam-se com todos
os esforços na expansão da língua portuguesa na Guiné Equatorial, que contou
com o apoio inestimável do Camões, I.P. [Camões – Instituto da Cooperação e da
Língua], e do Brasil”.
Estes
esforços passaram, segundo o comunicado oficial das conclusões publicado no
portal da CPLP, pela “revisão dos currículos de ensino, a criação de uma
licenciatura em Língua Portuguesa na Universidade Nacional, a introdução da
disciplina de Português no ano lectivo de 2024/2025”. O país apostou também na
“formação de funcionários e membros do Governo em leitura e compreensão do
Português, bem como o intercâmbio de funcionários do Governo com São Tomé e
Príncipe (30), Cabo Verde (40) e Angola (40)”.
Além
disso, foi realizada “uma campanha de recolha de livros e manuais em língua
portuguesa, que contou com a solidariedade do Governo português e o apoio de
todos os Estados-Membros, para a dotação de obras neste idioma nas escolas e
bibliotecas da Guiné Equatorial”. O país africano desenvolveu ainda “acções
concretas adoptadas para fortalecer o pilar económico da CPLP”, e que terão
contribuído para “a integração económica entre os Estados-Membros e para o
desenvolvimento sustentável do país”.
Os
membros “congratularam-se” também pela passagem do décimo aniversário de adesão
do país como membro de pleno direito da CPLP, algo que aconteceu na X
Conferência de Chefes de Estado e de Governo, realizada, em Díli, Timor-Leste,
a 23 de Julho de 2014.
Na
reunião da passada semana participaram os ministros dos Negócios Estrangeiros e
Relações Exteriores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné
Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e ainda o
Secretário Executivo da CPLP. Macau, não sendo país, mas tendo o português como
língua oficial, é apenas membro consultivo da CPLP através de “comissões
temáticas”, neste caso duas, levadas a cabo pela Universidade de São José e do
Instituto Internacional de Macau.
A
fim de melhor integrar a Guiné Equatorial na entidade de matriz política,
fez-se um programa de apoio. Nesse contexto, os membros destacaram ainda, na
reunião do dia 19, “o esforço [da Guiné Equatorial] do planeamento da nova
etapa de cooperação e pelo alargamento da designação dos ‘Pontos Focais’ para
todos os sectores de cooperação”.
Além
disso, o país africano solicitou a realização do “Seminário de Capacitação dos
Pontos Focais Nacionais”, que decorreu nos dias 9 e 10 de Julho deste ano em
Malabo, capital da Guine Equatorial, com o apoio do Brasil. Este evento visou
“reforçar o conhecimento e a capacidade técnica dos pontos focais sectoriais
nacionais no acompanhamento e aprofundamento da cooperação nas respectivas
áreas de competência”.
Tratou-se
de uma iniciativa que contribuiu “para a efectiva participação da Guiné
Equatorial nas diversas reuniões estatutárias e para a concretização da nova
etapa do processo de plena integração”. O país nomeou ainda o primeiro
secretário permanente para a CPLP, Pedro Ela Nguema Bea, indicado pelo Senado
do país. Recorde-se que muito recentemente a Guiné Equatorial passou a estar
representada no Fórum de Macau no contexto da adesão à CPLP.
A língua é um país
Uma
vez que a CPLP aborda várias áreas, que passam pela segurança alimentar,
ensino, ambiente e defesa, entre outras, o conselho de ministros abordou pontos
relacionados com o ensino e dinamização do português.
Uma
das iniciativas abordadas foi o projecto-piloto intitulado “Rede de Escolas
Amigas da CPLP”, tendo sido reconhecidos “os notáveis progressos na
implementação”.
Numa
resolução própria, foi ainda encorajado “o secretariado executivo, em
colaboração com os Estados-Membros, o IILP [Instituto Internacional da Língua
Portuguesa] e demais parceiros, a prosseguirem com determinação os esforços
para a boa conclusão do projeto piloto da Rede de Escolas Amigas da CPLP,
visando a sua posterior generalização”.
A
ideia integrar mais “estabelecimentos de ensino de todos os níveis, de todos os
Estados-Membros da CPLP, bem como de países terceiros, particularmente aqueles
com estatuto de observadores associados da CPLP”.
Foi
ainda pedido um olhar mais atento às “potencialidades do Fundo Especial para o
apoio na realização de projectos e iniciativas” no âmbito desta Rede, tal como
“concursos de escrita criativa (no âmbito do) Dia Mundial da Língua Portuguesa,
programas de conversa com escritores e as Olimpíadas de Matemática da CPLP”.
O
projecto “Rede de Escolas Amigas da CPLP” foi lançado no ano passado e visa,
entre vários objectivos, promover a língua portuguesa, acolhendo escolas do
ensino primário ao secundário e em regime técnico-profissional, públicas ou
privadas. Actualmente, apenas 22 escolas fazem parte desta rede.
Ainda
na vertente de ensino, da reunião do conselho de ministros da CPLP saíram
ideias sobre a necessidade de “concertação, entre os Estados-Membros, para
promover a certificação cruzada entre cursos de ensino superior e o lançamento
do programa de intercâmbio de estudantes universitários CPLP ‘Frátria’.
Mobilidade a rodos
Foi
ainda destacada a implementação do Acordo sobre Mobilidade entre os
Estados-Membros da CPLP, caracterizado como “um passo firme para constituir uma
verdadeira comunidade de povos, abrindo caminho à circulação de pessoas,
cultura, valores, princípios e conhecimento”.
Países
membros da CPLP, como foi o caso de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e
Portugal, alteraram leis para a execução do referido acordo, enquanto no caso
de São Tomé e Príncipe, a legislação já previa a livre circulação dos
cidadãos da CPLP. Foi ainda encorajado “todos os Estados-Membros a continuar a
promover a sua implementação, dentro do princípio da flexibilidade variável
nele consagrado”.
Desta
reunião saiu também a aprovação de oito novas entidades que passam, desta
forma, a ter estatuto de observador consultivo. São elas a Associação Galega da
Língua, Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, Associação CFA Portugal
(Associação de Consultores Financeiros Certificados Portugal), Conselho
Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Federação Portuguesa de Ginástica,
Fundação Biblioteca Nacional, Instituto Brasileiro de Direito da Família,
Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Económicas. Andreia Silva –
Macau in “Hoje Macau”
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