Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Portugal - Faculdade de Medicina da Universidade do Porto alerta para riscos de injeções com “fillers” para rejuvenescimento facial

Investigadores apelam a uma maior consciencialização para os riscos envolvidos no procedimento e pedem uma "fiscalização mais apertada”


Embora sejam geralmente seguras, as injeções com “fillers” para rejuvenescimento ou harmonização facial podem resultar em complicações graves, como cegueira, infeção, perda de pele e cicatrizes. O alerta é de uma investigação desenvolvida na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Coordenado por Marisa Marques, professora da FMUP e especialista em Cirurgia Plástica, este trabalho analisou dados de mais de 9600 pacientes (94% mulheres) e mais de 9800 procedimentos com “fillers”, em diferentes países. A esmagadora maioria dos preenchimentos (99%) foi feita com ácido hialurónico, a substância mais usada a nível mundial e a mais segura.

Os investigadores verificaram que 701 pacientes desenvolveram uma ou mais complicações relacionadas com o procedimento, num total de 1116 complicações, sendo que 750 ficaram a dever-se a oclusão vascular, o que significa que o produto foi aplicado num vaso sanguíneo, levando à obstrução do fluxo do sangue e à morte das células.

Apesar de mais de dois terços dos pacientes com complicações terem recuperado completamente, houve com sequelas graves, sendo a mais frequente a perda de pele do rosto. Dos 153 pacientes que perderam a visão, apenas três a recuperaram.

“Cerca de 21% dos pacientes com complicações ficaram com cicatrizes na face, com défices significativos na visão ou mesmo cegos”, indica Marisa Marques.

A maioria das complicações ocorreu nas denominadas “zonas perigosas”, que incluem as áreas acima das sobrancelhas e entre estas, abaixo dos olhos, nos lábios, nariz e no vulgarmente conhecido como “bigode de chinês”.

“É fundamental que as pessoas estejam conscientes dos riscos”

Face a estas conclusões, a equipa da FMUP quer que exista uma maior informação ao público sobre os riscos envolvidos. “É fundamental que as pessoas estejam conscientes dos riscos associados a estes procedimentos, que são muitas vezes publicitados nas redes sociais como fáceis e isentos de riscos, o que não é verdade”, alerta Inês Sousa, estudante da FMUP que concluiu o Mestrado Integrado em Medicina com este trabalho.

Marisa Marques considera “imperativo” que estes procedimentos sejam efetuados por médicos, mas apenas pelos médicos que estão qualificados para tal, isto é, que tenham formação nesta área ou uma competência homologada.

Como sublinha a docente da FMUP, “as complicações podem surgir com qualquer profissional, mas a falta de qualificações e de experiência clínica aumenta substancialmente o risco”.

Por isso, “além de ser mandatório o conhecimento da anatomia do rosto, os profissionais envolvidos devem respeitar as recomendações técnicas, como a desinfeção da pele, utilização de luvas e material esterilizado, colocar pequenas quantidades de “filler” e aspirar antes de injetar o produto, para assegurarem que não estão a injetar dentro de um vaso sanguíneo”.

Investigadores pedem “fiscalização mais apertada”

Em 2023, a Ordem dos Médicos aprovou a criação da Subespecialidade em Medicina Estética dentro das especialidades de Cirurgia Plástica e Dermatologia, que estão de antemão habilitadas para a sua prática, sendo necessário às restantes especialidades obter a denominada Competência em Medicina Estética.

De acordo com Marisa Marques, esta medida visa regular a prática desta atividade médica, vedando-a a médicos sem formação ou com formação deficitária na área, bem como a não-médicos (o chamado intrusismo), num setor ainda “muito carente de legislação, regulação e fiscalização”.

A coordenadora do estudo considera que as complicações de injeções com “fillers” podem estar subestimadas, tendo em conta que “muitos procedimentos não são sequer realizados por médicos, nem em clínicas ou unidades de saúde competentes para o efeito, e que as complicações não são reportadas”. No entanto, reconhece que podem estar sobrestimadas porque “quando não se tem qualquer complicação, normalmente não se publica”.

Nesse sentido, a professora da FMUP considera que as autoridades de saúde têm de fazer “uma fiscalização mais apertada” aos locais onde os “fillers” são injetados e aos profissionais que os aplicam, de modo a garantir a segurança dos pacientes.

Esta revisão sistemática de artigos científicos incluiu mais 43 artigos publicados em três bases de dados, selecionados a partir 1699 artigos com “fillers” aprovados pela Food and Drug Administration (FDA). O trabalho contou com orientação de Marisa Marques, professora da FMUP, e coorientação de António Sousa Barros, investigador da FMUP e especialista na área da análise estatística. Universidade do Porto - Portugal


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