Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 17 de julho de 2024

O sapato inglês de Donald Trump

Já passei em revista numerosas informações sobre o atentado contra o ex-presidente Donald Trump, o décimo sexto de uma série iniciada com o assassinato do presidente Abraham Lincoln, mas não achei explicações conclusivas para um pormenor talvez supérfluo.

Não se trata de incluir aqui uma homenagem póstuma ao Sérgio Cabral, falecido no domingo, criador junto com Jaguar e Tarso de Castro do jornal Pasquim, em 1969, com o qual cheguei a colaborar de Paris. Mas até que poderia ser.

Quem viu os primeiros vídeos, logo depois do atentado, vai se lembrar. Tão logo Trump se abaixou e foi envolvido pelos agentes do FBI para ser protegido e retirado do local, se ouve a voz do ex-presidente ainda de cabeça baixa, enquanto parece resistir aos agentes para procurar alguma coisa - "where are my schoes?" (onde estão meus sapatos?) e querendo calçar os sapatos.

Só depois do gesto de uma agente do FBI se abaixar e pegar alguma coisa, no caso um sapato, Trump se ergue, levanta a cabeça, mostra o punho cerrado e convoca seus seguidores para a luta "fight!". Ainda bem para Trump, pois se insistisse em procurar ou colocar o sapato, sua frase no vídeo distribuído no mundo inteiro seria "Onde estão meus sapatos?" digna de participar da mesma campanha de descrédito de Biden por seus esquecimentos e trocas de nomes.

Passado o susto, acalmado os ânimos, desapareceu dos vídeos a preocupação de Trump por seus sapatos! Uma espécie de mini-censura para limpar o vídeo de uma coisa tão insignificante. Mesmo porque algum democrata poderia vir com uma piadinha - "e a agente do FBI lavou as mãos depois de pegar o sapato do Trump?".

Entretanto, antes de prosseguirmos, vou contar talvez um outro pormenor secundário ou insignificante nessa história trágica bem norteamericana, de arma, atentado e morte, na qual morreram duas e ficaram feridas duas pessoas. No local do atentado, no tablado vermelho onde falara Trump, depois de removidos o ex-presidente ferido no alto da orelha, o morto, os feridos e os policiais protetores agentes do FBI, ficou solitário um sapato preto clássico inglês de laços, Oxford, marca tradicional de origem inglesa. Com a confusão, arrastado pelos agentes do FBI, Trump não teve tempo para calçá-lo e com um só sapato foi de meia e mancando ao carro que o levou ao hospital.

Talvez esse pormenor não seja assim tão insignificante. Senão vejamos: Reinado Azevedo no Uol, e ele parece saber das coisas, diz ter havido um erro de meio centímetro por parte do garoto ou jovem atirador Thomas Matthew Crooks, na sua tentativa de matar o próximo presidente dos EUA. Qual teria sido a causa desse erro? Ele era míope? Sim, tanto que usava óculos.

Nas investigações feitas sobre Crooks, se descobriu, além de ser um rapaz inteligente em matemática e ciência, ter um gosto pelas armas. Isso nada tem de repreensível, nos EUA onde todo mundo pode ter revólveres, fuzis, cartuchos de balas em casa à vontade, é tão fácil comprar armas como cigarros. Razão pela qual - e isso pode parecer absurdo - Crooks tentou fazer parte da equipe de atiradores de carabina no seu liceu ou ginásio Bethel Park. Tentou mas não conseguiu por ser mau atirador ou ruim de pontaria.

A reprovação como atirador no seu ginásio poderia ter sido miopia, mas o ligeiro erro no atentado ao ex-presidente poderia ter sido também consequência de um certo nervosismo causador de tremor nas mãos, fazendo desviar os tiros de alguns milímetros ou meio centímetro do foco da cabeça de Trump e acertar em pessoas próximas, matando uma e ferindo outras duas. Mas poderia também ter sido o sapato de Trump...

Quem pode retornar às primeiras imagens do atentado, ou gravou no celular ou computador as primeiras imagens divulgadas ao vivo pelas reportagens de TV no local, poderá comprovar não haver mais, nos vídeos recentes do atentado, os cartazes trumpistas erguidos atrás e ao lado de Trump por seus seguidores com as palavras "Joe Biden you are fired" (Joe Biden você está demitido). E nem ouvirá o ex-presidente Trump perguntando por seus sapatos e querendo recuperá-los, antes de ser arrastado do local pelos agentes do FBI.

Alguém poderá comentar - "mas depois de sofrer um atentado é hora de se preocupar com seus sapatos?" Ora, pelo jeito, Trump não queria ser visto de meias por seus seguidores! Mas por que estava sem sapatos se os sapatos Oxford são considerados ultra-confortáveis? Ora, o sapato de Trump deixado no local do atentado não tem salto e nem reforço interno escondido para aumentar seu tamanho, como fazem certos políticos de pequena estatura.  Mesmo porque Trump não precisa disso, pois tem 1,90m de altura.

Será que Trump costuma descalçar os pés ao fazer seus discursos? Seria um par de sapatos novo e ainda um tanto apertado? Ou, ao contrário, os sapatos eram largos, fáceis de descalçar como um mocassin, e saíram dos pés ao ser jogado ao chão pelos antes do FBI? E, neste caso, por que usar sapatos largos? Tem pés inchados, joanetes, unha encravada ou dor nos pés?

Uma coisa é certa, Trump não queria ser flagrado pela TV de meias ou mancando por falta de sapatos. Vaidoso, imaginava mesmo naquele instante tenso, que isso poderia ferir sua imagem - herói não é para ser fotografado de meias!

Enfim, existe a hipótese de Trump ter tirado os sapatos como se fossem mocassins, enquanto discursava, usando os calcanhares, justamente no momento de ser alvejado, saindo fora do alvo por coisa de um centímetro e salvando assim sua vida. Ao que se saiba, os agentes do FBI não voltaram para recuperar o sapato Oxford deixado no tablado, documentado por alguns fotógrafos, até desaparecer levado como troféu por algum trumpista. Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

 

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