Já
passei em revista numerosas informações sobre o atentado contra o ex-presidente
Donald Trump, o décimo sexto de uma série iniciada com o assassinato do
presidente Abraham Lincoln, mas não achei explicações conclusivas para um
pormenor talvez supérfluo.
Não
se trata de incluir aqui uma homenagem póstuma ao Sérgio Cabral, falecido no
domingo, criador junto com Jaguar e Tarso de Castro do jornal Pasquim, em 1969,
com o qual cheguei a colaborar de Paris. Mas até que poderia ser.
Quem
viu os primeiros vídeos, logo depois do atentado, vai se lembrar. Tão logo
Trump se abaixou e foi envolvido pelos agentes do FBI para ser protegido e
retirado do local, se ouve a voz do ex-presidente ainda de cabeça baixa,
enquanto parece resistir aos agentes para procurar alguma coisa - "where
are my schoes?" (onde estão meus sapatos?) e querendo calçar os
sapatos.
Só
depois do gesto de uma agente do FBI se abaixar e pegar alguma coisa, no caso
um sapato, Trump se ergue, levanta a cabeça, mostra o punho cerrado e convoca
seus seguidores para a luta "fight!". Ainda bem para Trump,
pois se insistisse em procurar ou colocar o sapato, sua frase no vídeo
distribuído no mundo inteiro seria "Onde estão meus sapatos?" digna
de participar da mesma campanha de descrédito de Biden por seus esquecimentos e
trocas de nomes.
Passado
o susto, acalmado os ânimos, desapareceu dos vídeos a preocupação de Trump por
seus sapatos! Uma espécie de mini-censura para limpar o vídeo de uma coisa tão
insignificante. Mesmo porque algum democrata poderia vir com uma piadinha -
"e a agente do FBI lavou as mãos depois de pegar o sapato do Trump?".
Entretanto,
antes de prosseguirmos, vou contar talvez um outro pormenor secundário ou
insignificante nessa história trágica bem norteamericana, de arma, atentado e
morte, na qual morreram duas e ficaram feridas duas pessoas. No local do
atentado, no tablado vermelho onde falara Trump, depois de removidos o
ex-presidente ferido no alto da orelha, o morto, os feridos e os policiais protetores
agentes do FBI, ficou solitário um sapato preto clássico inglês de laços,
Oxford, marca tradicional de origem inglesa. Com a confusão, arrastado pelos
agentes do FBI, Trump não teve tempo para calçá-lo e com um só sapato foi de
meia e mancando ao carro que o levou ao hospital.
Talvez
esse pormenor não seja assim tão insignificante. Senão vejamos: Reinado Azevedo
no Uol, e ele parece saber das coisas, diz ter havido um erro de meio
centímetro por parte do garoto ou jovem atirador Thomas Matthew Crooks, na sua
tentativa de matar o próximo presidente dos EUA. Qual teria sido a causa desse
erro? Ele era míope? Sim, tanto que usava óculos.
Nas
investigações feitas sobre Crooks, se descobriu, além de ser um rapaz
inteligente em matemática e ciência, ter um gosto pelas armas. Isso nada tem de
repreensível, nos EUA onde todo mundo pode ter revólveres, fuzis, cartuchos de
balas em casa à vontade, é tão fácil comprar armas como cigarros. Razão pela
qual - e isso pode parecer absurdo - Crooks tentou fazer parte da equipe de
atiradores de carabina no seu liceu ou ginásio Bethel Park. Tentou mas não
conseguiu por ser mau atirador ou ruim de pontaria.
A
reprovação como atirador no seu ginásio poderia ter sido miopia, mas o ligeiro
erro no atentado ao ex-presidente poderia ter sido também consequência de um
certo nervosismo causador de tremor nas mãos, fazendo desviar os tiros de
alguns milímetros ou meio centímetro do foco da cabeça de Trump e acertar em
pessoas próximas, matando uma e ferindo outras duas. Mas poderia também ter
sido o sapato de Trump...
Quem
pode retornar às primeiras imagens do atentado, ou gravou no celular ou
computador as primeiras imagens divulgadas ao vivo pelas reportagens de TV no
local, poderá comprovar não haver mais, nos vídeos recentes do atentado, os
cartazes trumpistas erguidos atrás e ao lado de Trump por seus seguidores com
as palavras "Joe Biden you are fired" (Joe Biden você está
demitido). E nem ouvirá o ex-presidente Trump perguntando por seus sapatos e
querendo recuperá-los, antes de ser arrastado do local pelos agentes do FBI.
Alguém
poderá comentar - "mas depois de sofrer um atentado é hora de se preocupar
com seus sapatos?" Ora, pelo jeito, Trump não queria ser visto de meias
por seus seguidores! Mas por que estava sem sapatos se os sapatos Oxford são
considerados ultra-confortáveis? Ora, o sapato de Trump deixado no local do
atentado não tem salto e nem reforço interno escondido para aumentar seu
tamanho, como fazem certos políticos de pequena estatura. Mesmo porque Trump não precisa disso, pois
tem 1,90m de altura.
Será
que Trump costuma descalçar os pés ao fazer seus discursos? Seria um par de
sapatos novo e ainda um tanto apertado? Ou, ao contrário, os sapatos eram
largos, fáceis de descalçar como um mocassin, e saíram dos pés ao ser jogado ao
chão pelos antes do FBI? E, neste caso, por que usar sapatos largos? Tem pés
inchados, joanetes, unha encravada ou dor nos pés?
Uma
coisa é certa, Trump não queria ser flagrado pela TV de meias ou mancando por
falta de sapatos. Vaidoso, imaginava mesmo naquele instante tenso, que isso
poderia ferir sua imagem - herói não é para ser fotografado de meias!
Enfim,
existe a hipótese de Trump ter tirado os sapatos como se fossem mocassins,
enquanto discursava, usando os calcanhares, justamente no momento de ser
alvejado, saindo fora do alvo por coisa de um centímetro e salvando assim sua
vida. Ao que se saiba, os agentes do FBI não voltaram para recuperar o sapato
Oxford deixado no tablado, documentado por alguns fotógrafos, até desaparecer
levado como troféu por algum trumpista. Rui Martins – Suíça
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Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da
corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do
Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de
Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de
Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso
de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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