Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Macau - Grupo de pais de alunos da Escola Portuguesa de Macau defende ensino de português como língua não nativa

Um grupo de encarregados de educação de alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) redigiu uma carta aberta a ser endereçada à direcção da instituição de ensino salientando a importância da manutenção do ensino de língua portuguesa como língua não materna. A missiva, a que o Ponto Final teve acesso, diz que a continuidade da disciplina é “essencial para uma educação inclusiva e equitativa, respeitando as diferenças linguísticas e culturais dos alunos”

Depois de ter sido noticiado que decorre um processo interno na Escola Portuguesa de Macau (EPM) relativo ao ensino da língua portuguesa e da disciplina de português como língua não materna, um grupo de pais redigiu uma carta aberta à direcção da instituição pedindo que não haja alterações.

Segundo a TDM Canal Macau, a direcção da EPM terá instaurado um processo interno de averiguações aos departamentos de línguas românicas, onde se inclui o português, e ao primeiro ciclo, relativo ao ensino da língua a crianças não nativas. Segundo a TDM, a direcção considera que há desvios na forma como o programa é aplicado em Macau, uma vez que a legislação portuguesa prevê que, quando os alunos de português língua não-materna passam de ano, têm também de passar de nível de proficiência, o que não estará a acontecer com todos os estudantes da EPM. O Ponto Final tentou esclarecer esta situação junto de Acácio de Brito, director da instituição de ensino, mas não obteve resposta.

A carta, a que o Ponto Final teve acesso e que está a circular entre os encarregados de educação, alerta que “os alunos da EPM não aprendem português num contexto de imersão”, uma vez que “o chinês é a língua dominante na comunidade extracurricular em que se inserem” e “o inglês é a língua de comunicação entre os jovens alunos da EPM”. “Para estes alunos, o tempo que passam na sala de aula da escola representa a única oportunidade de exposição à língua portuguesa”, lembra a carta do grupo de pais.

Este grupo de pais de crianças maioritariamente não portuguesas assinala que os seus educandos vivem em contextos “não-lusófonos”: “Apesar de sermos dedicados, presentes e responsáveis no apoio à educação dos nossos filhos, na prática, pouco ou nada podemos ajudar, uma vez que não dominamos o português. Alguns de nós arranjámos aulas particulares de português para os nossos filhos com grande esforço. No entanto, esta é apenas uma solução temporária e insuficiente face às exigências”.

“Como é que estes alunos podem, por exemplo, estudar obras como ‘Os Lusíadas’, ‘Os Maias’, ‘Memorial do Convento’, ou outros textos literários e poetas portugueses, cuja essência é a subjectividade e a complexidade cultural, se não conseguem compreender plenamente o que está por detrás das palavras?”, questiona a carta, sublinhando que “comparar os alunos de Macau com aqueles que não têm o português como língua materna mas vivem em Portugal é altamente injusto e irrealista”.

“A imposição de um currículo que ignora estas diferenças culturais e linguísticas pode ter um impacto negativo no desempenho académico e no bem-estar emocional dos alunos”, pode ler-se na missiva, que salienta ainda que “a pressão para dominar uma língua em condições tão adversas pode levar à frustração, à desmotivação e até ao abandono escolar”.

A continuidade da disciplina de português língua não materna “é essencial para uma educação inclusiva e equitativa, respeitando as diferenças linguísticas e culturais dos alunos”, defende o grupo de pais. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”


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