Um grupo de encarregados de educação de alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) redigiu uma carta aberta a ser endereçada à direcção da instituição de ensino salientando a importância da manutenção do ensino de língua portuguesa como língua não materna. A missiva, a que o Ponto Final teve acesso, diz que a continuidade da disciplina é “essencial para uma educação inclusiva e equitativa, respeitando as diferenças linguísticas e culturais dos alunos”
Depois
de ter sido noticiado que decorre um processo interno na Escola Portuguesa de
Macau (EPM) relativo ao ensino da língua portuguesa e da disciplina de
português como língua não materna, um grupo de pais redigiu uma carta aberta à
direcção da instituição pedindo que não haja alterações.
Segundo
a TDM Canal Macau, a direcção da EPM terá instaurado um processo interno de
averiguações aos departamentos de línguas românicas, onde se inclui o
português, e ao primeiro ciclo, relativo ao ensino da língua a crianças não
nativas. Segundo a TDM, a direcção considera que há desvios na forma como o
programa é aplicado em Macau, uma vez que a legislação portuguesa prevê que,
quando os alunos de português língua não-materna passam de ano, têm também de
passar de nível de proficiência, o que não estará a acontecer com todos os
estudantes da EPM. O Ponto Final tentou esclarecer esta situação junto de
Acácio de Brito, director da instituição de ensino, mas não obteve resposta.
A
carta, a que o Ponto Final teve acesso e que está a circular entre os
encarregados de educação, alerta que “os alunos da EPM não aprendem português
num contexto de imersão”, uma vez que “o chinês é a língua dominante na
comunidade extracurricular em que se inserem” e “o inglês é a língua de
comunicação entre os jovens alunos da EPM”. “Para estes alunos, o tempo que
passam na sala de aula da escola representa a única oportunidade de exposição à
língua portuguesa”, lembra a carta do grupo de pais.
Este
grupo de pais de crianças maioritariamente não portuguesas assinala que os seus
educandos vivem em contextos “não-lusófonos”: “Apesar de sermos dedicados,
presentes e responsáveis no apoio à educação dos nossos filhos, na prática,
pouco ou nada podemos ajudar, uma vez que não dominamos o português. Alguns de
nós arranjámos aulas particulares de português para os nossos filhos com grande
esforço. No entanto, esta é apenas uma solução temporária e insuficiente face
às exigências”.
“Como
é que estes alunos podem, por exemplo, estudar obras como ‘Os Lusíadas’, ‘Os
Maias’, ‘Memorial do Convento’, ou outros textos literários e poetas
portugueses, cuja essência é a subjectividade e a complexidade cultural, se não
conseguem compreender plenamente o que está por detrás das palavras?”,
questiona a carta, sublinhando que “comparar os alunos de Macau com aqueles que
não têm o português como língua materna mas vivem em Portugal é altamente
injusto e irrealista”.
“A
imposição de um currículo que ignora estas diferenças culturais e linguísticas
pode ter um impacto negativo no desempenho académico e no bem-estar emocional
dos alunos”, pode ler-se na missiva, que salienta ainda que “a pressão para
dominar uma língua em condições tão adversas pode levar à frustração, à
desmotivação e até ao abandono escolar”.
A
continuidade da disciplina de português língua não materna “é essencial para
uma educação inclusiva e equitativa, respeitando as diferenças linguísticas e
culturais dos alunos”, defende o grupo de pais. André Vinagre – Macau in “Ponto
Final”
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