O Secretário para a Administração e Justiça considera que a “herança jurídico-cultural e o elo linguístico” transformaram a RAEM numa ponte entre a China e os países lusófonos, e assegura que o regime jurídico original está a ser preservado. Na abertura do Congresso da Federação de Advogados dos PLP, Wong Sio Chak anteviu ainda que a cooperação jurídica entre o território e as nações de expressão portuguesa alcançará “necessariamente uma nova etapa”. Vong Hin Fai, presidente da Associação dos Advogados de Macau, salientou também que a herança cultural e singular e um sistema jurídico sólido constituem “uma ponte natural de ligação”
O Secretário para a Administração e
Justiça assegurou que a RAEM continuará a preservar as características do seu
regime jurídico original, de matriz portuguesa. Wong Sio Chak falava no
Congresso da Federação dos Advogados de Língua Portuguesa (FALP), que decorreu
em Macau até hoje. Na cerimónia de abertura do evento, que teve por palco o
Centro de Convenções do Galaxy, falou ainda na vontade de Macau se debruçar
sobre como aprofundar mais o intercâmbio e a cooperação com os países lusófonos
no âmbito jurídico e da advocacia.
Perante mais de 150 participantes e convidados, Wong Sio
Chak afirmou que o Congresso proporciona uma “valiosa plataforma de
aprendizagem e de intercâmbio” aos advogados dos países lusófonos, contribuindo
para desenvolver o “conhecimento mútuo sobre os respectivos sistemas jurídicos,
expandir horizontes internacionais e reforçar a cooperação bilateral e
multilateral”. Através desta plataforma, o sector da advocacia de Macau pode
desempenhar um papel mais activo em áreas como a prática jurídica, a cooperação
judiciária e a formação de talentos, sendo um “interlocutor privilegiado”.
Recordou ainda que o sistema jurídico do território
mantém uma estreita ligação com Portugal e preservou o seu regime jurídico
original e as suas características linguísticas: “É precisamente esta herança
jurídico-cultural e este elo linguístico que transformaram Macau numa ponte
entre a China e os países lusófonos”.
Sublinhando que a RAEM está a impulsionar, “de forma
estável”, a reforma jurídica, o Secretário assegurou que “ao mesmo tempo que
preserva as características do seu regime jurídico original, promove
continuamente a modernização do sistema jurídico, construindo progressivamente
um ordenamento jurídico moderno que se coaduna com as necessidades de
desenvolvimento do princípio ‘um país, dois sistemas’ e que contenha
características próprias de Macau”.
Notou também que, “ao longo dos anos, a RAEM tem
aprofundado a cooperação com os PLP nos domínios jurídico e judiciário”, tendo
assinado acordos de cooperação jurídica e judiciária com Portugal e os
restantes países dos PLP. As parcerias promovem “uma ampla cooperação em
matérias relativas à citação e notificação de actos judiciais, reconhecimento a
execução de sentenças em matéria civil e comercial e de decisões arbitrais,
registo e notariado, formação profissional e informação jurídica, tendo
proporcionado uma sólida garantia jurídica para o intercâmbio económico e
comercial e de pessoal entre as diversas partes”, expressou.
Wong Sio Chak salientou, por outro lado, que através da
integração sistemática dos recursos especializados de Macau em áreas
relacionadas com os sistemas jurídicos, a língua e cultura e os regimes fiscais
dos países lusófonos, “procuramos construir um sistema de serviços integrados online
e offline, com vista a prestar às empresas um serviço completo que
abrange tradução linguística, consultoria jurídica, planeamento fiscal, gestão
de conformidade, formação de talentos e resolução de litígios”.
Perspectivando o futuro, o detentor da pasta da
Administração e Justiça referiu que o Governo dará continuidade ao
aperfeiçoamento do sistema jurídico, reforçará a formação de talentos e
participará mais activamente na cooperação em assuntos jurídicos regionais e
internacionais.
“Acreditamos que, com os esforços conjuntos de todas as
partes, incluindo o sector da advocacia, a cooperação jurídica entre Macau e os
países lusófonos alcançará necessariamente uma nova etapa, potenciando ainda
mais as suas vantagens na construção de um sistema jurídico para assuntos
externos e contribuindo mais significativamente para a abertura externa de alto
nível do País”, concluiu.
Promoção do diálogo entre diferentes jurisdições
Durante a cerimónia, o presidente do Congresso e também
da Associação dos Advogados de Macau salientou que a escolha do tema para esta
edição, “O Direito nas relações sino-lusófonas”, é “necessária e oportuna no
contexto actual de solidificação entre a China e os PLP em todos os domínios”.
Vong Hin Fai afirmou que “com o apoio de uma base legal
sólida, as relações entre a China e o mundo lusófono poderão continuar a
desenvolver-se de forma saudável, estável e sustentável”, acrescentando que
“aqui a China encontra o Ocidente”.
Sob o princípio ‘um país, dois sistemas’, Macau, “com a
sua herança cultural e singular e um sistema jurídico sólido, é como uma ponte
natural de ligação entre a China e os PLP”. Para o causídico, o território
“dotado de uma localização geográfica privilegiada, excelentes infra-estruturas
e um ambiente de negócios favorável, oferece assim um terreno fértil onde os
nossos espíritos e almas se encontram, e onde as divergências são respeitadas”.
O dirigente pretende que o Congresso possa contribuir
para a promoção do diálogo entre diferentes jurisdições, “abrindo as portas a
ideias inspiradoras para um novo ciclo de cooperação estratégica”.
Outros elementos da organização passaram pelo palco no
período de discursos, nomeadamente Augusto Teixeira Garcia, coordenador
científico do Congresso, e Álvaro Rodrigues, director executivo. Este último,
assinalou que o esforço na organização do Congresso “é por si só a melhor
demonstração de que a cooperação sino-lusófona é uma realidade viva e concreta
e Macau, com a sua base jurídica de matriz portuguesa e o enquadramento na
ordem jurídica chinesa, oferece-nos uma plataforma única de entendimento”.
Adiantou que a iniciativa é um momento de reflexão,
celebração e compromisso. “É daqui que devem sair novas ideias, novas
parcerias, novos caminhos de cooperação jurídica e institucional, portanto,
espero que este congresso nos inspire e que continue a fortalecer as pontes que
ligam a China e o mundo lusófono através da amizade da confiança e do direito”,
asseverou.
Pedro Reis de Almeida, presidente da FALP, usou
igualmente da palavra para referir que “a FALP tem como lema ‘Juntos vamos mais
longe’, e é este precisamente o espírito de união, cooperação e partilha que
nos traz aqui, reunindo advogados de vários países e regiões, numa demonstração
inequívoca da força e vitalidade e espaço jurídico lusófono”.
Durante os três dias do evento, disse, tiveram
“oportunidade de debater temas fundamentais para o futuro das relações
profissionais e económicas”, acrescentando que “desde a internacionalização dos
escritórios de advogados, passando pela atracção de talento, até questões tão
relevantes como a protecção de investimentos, todos estes temas reflectem as
preocupações e aspirações dos advogados lusófonos do século XXI”.
Para o último dia do evento, estiveram agendadas várias
sessões como “Acordos Bilaterais de Protecção de Investimentos entre a China e
os PLP: Análise e Perspectiva Dinâmica” e “Arbitragem nas relações comerciais
da China com os PLP: Passado, Presente e Futuro”.
Os trabalhos terminaram com a realização da
Assembleia-Geral da FALP. À noite, teve lugar o Jantar de Gala, Encerramento e
Momento de Homenagem, no Centro de Internacional de Convenções do Galaxy.
Países lusófonos e China querem criar plataforma de
arbitragem internacional
A Federação dos Advogados de Língua
Portuguesa (FALP) assinou um protocolo em Hengqin para a cooperação em
arbitragem entre a China e a lusofonia, disse à Lusa o presidente da
instituição. Segundo Pedro Pais de Almeida, que está em Macau para participar no
Congresso da FALP, o acordo foi assinado na quarta-feira com a Associação dos
Advogados de Macau, “várias ordens de advogados” de países de língua portuguesa
e a Comissão Executiva de Gestão da Zona de Cooperação Aprofundada. A
iniciativa é do Centro de Serviços Económicos e Comerciais entre a China e os
Países de Língua Portuguesa/Espanhola (CECPS) – criado pelo Governo de Macau e
pela Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada. O texto do
protocolo, que Pedro Pais de Almeida forneceu à Lusa, refere que, “em resposta
à urgente necessidade das empresas de resolver litígios comerciais e de
investimento transfronteiriços, o CECPS planeia mobilizar recursos humanos e
materiais, em colaboração com os parceiros sectoriais dos países de língua
portuguesa e espanhola, com vista ao estabelecimento de uma plataforma de
arbitragem internacional que se destina ao serviço da cooperação económica,
comercial e de investimento entre a China e os respectivos países”. Para
impulsionar a criação da plataforma, propõe-se, entre outras iniciativas,
estudar a forma de “integrar as particularidades dos regimes jurídicos,
práticas comerciais e procedimentos de arbitragem e mediação” da China e dos
países lusófonos, além de estabelecer uma plataforma de diálogo regular para o
aprofundamento da cooperação profissional nos domínios de arbitragem e
mediação. Refere-se ainda que a iniciativa se mantém “aberta à participação
futura”, podendo, por exemplo, associações ou escritórios de advogados,
árbitros, peritos e académicos participar de forma voluntária. Vítor Rebelo –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau” com “Lusa”
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